Lonely

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Prólogo

Depois de passar oficialmente na seleção, o primeiro passo para participar do Ilhados é fazer um vídeo de apresentação. Nesse vídeo me instruíram a falar meu nome completo, com o que trabalhava e uma curiosidade sobre mim. Também precisava me descrever fisicamente. Então o que eu falei no vídeo foi mais ou menos isso:

"Meu nome é Mieczyslaw Stilinski, mas todos me chamam de Stiles. Tenho 25 anos e trabalho falando de livros na internet. Tenho pele muito clara, daquele tipo que nunca fica bronzeada, porque se eu sair no sol sem protetor em 5 minutos viro um camarão. Meus olhos são castanhos e tenho várias pintinhas espalhadas pelo meu corpo. Gosto de livros de fantasia, principalmente com lobisomens, vampiros e casais gays tentando salvar o mundo. Ah, e um fato que não costumo compartilhar muito: sou demissexual."

Ser demissexual sempre afetou minha vida. Se você fizer uma busca rápida na internet, provavelmente vai encontrar uma explicação simples para o que configura uma pessoa como demissexual: alguém que é capaz de sentir atração sexual, mas somente por alguém com quem já formou uma conexão emocional. Parece simples, não é? Em teoria, talvez. Mas na prática não é tão simples. E quando você soma a demissexualidade com o fato de você ser péssimo conversando com estranhos, as coisas ficam ainda mais difíceis.

Eu amo conversar e meus amigos às vezes precisam me pedir para parar de falar um pouco, mas meu cérebro vira uma bagunça quando tento conversar com desconhecidos. Acabo falando demais, normalmente mais do que devia, e afastando as pessoas.

Apesar das dificuldades, consegui fazer alguns amigos ao longo da vida e esses amigos acabaram me apresentando outras pessoas, então não sou totalmente solitário. Existiram as situações em que fui obrigado a criar algum tipo de laço: os empregos passados, a faculdade. Não dá pra fazer um trabalho em grupo quando não se tem um grupo. Mas não criei uma relação profunda com nenhuma dessas pessoas. Meus amigos de verdade são os que conheci na escola e que foram obrigados a conviver comigo por anos.

Se eu tivesse sorte, talvez uma dessas pessoas que de alguma forma conseguiu entrar na minha vida fosse aquela com a qual eu gostaria de construir um relacionamento amoroso. Repetindo: se eu tivesse sorte. Spoiler: não tenho. Até hoje, só teve uma pessoa pela qual me apaixonei. Mas isso foi quando eu era adolescente e provavelmente tinha muito menos medo das coisas, inclusive de me apaixonar. Cheguei a viver essa paixão por uns meses, mas foi ela que me ensinou na prática o que é um coração partido. Desde então, só tentei me relacionar com mais uma pessoa, mas posso te dizer com certeza que não deu certo.

Em 25 anos de vida, só tentei me relacionar romanticamente com duas pessoas e as duas relações foram um desastre. Sabe o que isso significa? Entre muitas outras coisas, que ainda sou virgem. E se eu não tinha confiança para tentar ter um novo relacionamento aos 18 anos, quanta confiança você acha que eu tenho agora, sendo virgem aos 25 anos? Se disse nenhuma, acertou.

É por isso que, quando me perguntaram durante a entrevista se eu esperava encontrar um amor durante esse confinamento, eu ri e respondi: não. A ideia me pareceu absurda.

Felizmente, eu estava errado. 

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