{Às vezes, o instinto de sobrevivência e a sede de vingança entram em conflito dentro de nós, como duas bestas famintas lutando pelo controle. A decisão de dar um passo atrás, de subjugar a raiva em favor de algo maior, é o verdadeiro dilema de um guerreiro. Matar por impulso pode parecer libertador, mas, em algumas situações, poupar a vida de um inimigo pode te dar uma arma mais poderosa do que qualquer lâmina.
O ódio é uma ferramenta, mas o controle sobre ele é o que define os fortes. No campo de batalha, não é apenas a brutalidade que te mantém vivo, mas a capacidade de usar tudo ao seu redor — até mesmo seu inimigo — como um recurso para garantir sua própria sobrevivência.}
Eu estava ali, diante de um ser que personificava tudo o que havia de desprezível neste mundo. O Xamã Goblin, com sua pele esverdeada e deformada, olhos amarelados suplicantes, estava ajoelhado, as mãos juntas em um gesto desesperado de súplica. O ar fétido que exalava de sua boca entreaberta, enquanto murmurava em sua língua gutural, só aumentava o meu nojo e desprezo por ele.
Minha lâmina cruzada, ensanguentada, ainda tremia na minha mão, apontada diretamente para seu coração imundo. O desejo de vingança fervia nas minhas veias, queimando como o ácido que corria por meus cortes abertos, a dor apenas intensificando a fúria que me consumia. Faby, minha amiga, havia sido cruelmente tirada de mim por causa desse desgraçado. E ali estava eu, com a chance de terminar de vingar sua morte, de fazer justiça com as minhas próprias mãos.
Mas algo estava errado.
Matar o xamã, terminar o serviço, deveria ter sido a solução óbvia, o passo final para saciar a sede de vingança que havia me mantido vivo até agora. E, no entanto, de repente, isso não parecia ser o bastante. A morte desse ser desprezível começava a parecer... insuficiente.
(Droga... o que está acontecendo comigo?)
Enquanto meu olhar se mantinha fixo na criatura patética que se contorcia de medo à minha frente, um pensamento me assaltou: E se matá-lo não fosse a resposta? E se, de alguma forma, eu pudesse extrair algo mais dele, algo que fosse realmente satisfatório?
A missão que me fora dada, o aviso sombrio e enigmático, mencionava uma "Recompensa Secreta". Eu não queria poupar esse ser desprezível, mas meus instintos me diziam que simplesmente matar ele não seria a resposta certa, e a ideia de subjugar o xamã, de mantê-lo vivo para mais tarde decidir seu destino, começou a tomar forma na minha mente, crescendo como uma semente plantada em solo fértil.
Porém, o tempo não estava ao meu lado. Eu podia sentir o sangue quente escorrendo por minha pele, os cortes profundos que o feitiço do xamã havia agravado começavam a entorpecer minha mente. A dor era uma constante, pulsante e implacável. Minha visão começava a escurecer nas bordas, e eu sabia que precisava tomar uma decisão logo, antes que a força me abandonasse completamente.
Abracei o desespero e, com um pensamento rápido, abri a aba Loja em minha mente. As opções eram limitadas a equipamentos básicos, e tudo o que eu podia adquirir de útil no momento era uma poção de recuperação menor, a única do tipo disponível. Não hesitei. O frasco verde azulado apareceu na minha mão, sólido e real como se sempre estivesse ali. Sem perder tempo, abri a tampa e engoli o líquido amargo. Senti o calor da poção percorrer meu corpo, a sensação de formigamento enquanto o sangue lentamente parava de escorrer pelas feridas, embora elas não se fechassem completamente. Era apenas um alívio temporário, mas era o que eu tinha.
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Farlier - O Desgraçado
Fantasi*Novos capítulos toda quarta e sexta !* No fundo das sombras, onde o ordinário e o extraordinário se encontram, existe um garoto que sempre esteve à beira do esquecimento. Farlier, um jovem cujo nome raramente é mencionado, cujo rosto raramente é no...