Nono

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Quando Alfonso acordou na manhã seguinte, a luz suave do sol penetrava pelas cortinas, banhando o quarto em uma tonalidade dourada. Ele estendeu a mão instintivamente, buscando Anahí ao seu lado, mas o espaço ao lado estava vazio. O lençol ainda estava quente, mas ela não estava mais lá.

Ao se virar, viu uma carta sobre o travesseiro dela, cuidadosamente dobrada, com seu nome escrito à mão na frente. Com um nó no estômago, ele pegou a carta e, com as mãos trêmulas, começou a ler.

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Alfonso;

Eu queria que essa fosse uma carta mais feliz. Queria que pudesse escrever sobre tudo o que vivemos e planejar um futuro ao seu lado. Mas não posso. Você sabe disso tanto quanto eu.

Desde o momento em que nos conhecemos, minha vida foi uma mentira para você. Cada palavra que eu dizia, cada sorriso que eu dava, tinha algo sombrio por trás, e isso me destrói. Você não merece alguém como eu, alguém com um passado tão sujo e um coração tão cheio de cicatrizes. Mas, mesmo com tudo isso, algo dentro de mim mudou ao seu lado.

Por mais que tenha sido enviada para te destruir, você foi a única pessoa que me salvou. Você me mostrou o que é sentir algo verdadeiro, algo que eu nunca tinha experimentado antes. Eu não sabia o que era amor até te conhecer, e isso é o que torna tudo ainda mais doloroso. Eu deveria ter sido sua ruína, mas você acabou sendo minha redenção.

Sei que te decepcionei, e que o peso das minhas mentiras é grande demais para carregar. Você não sabe o quanto eu lamento por isso. Quando te olhei nos olhos ontem à noite e te contei tudo, parte de mim esperava que você me odiasse imediatamente, que me expulsasse da sua vida sem hesitar. Mas não foi isso o que aconteceu, e isso me quebrou ainda mais.

Ver o quanto você se importa, mesmo sabendo de tudo, me fez perceber que não posso te arrastar ainda mais para o caos da minha vida. Stefans não vai desistir. Ele vai continuar me caçando, e qualquer pessoa que estiver ao meu lado também estará em perigo. E você... você merece uma vida melhor. Uma vida longe do perigo, das mentiras, das sombras que me cercam.

Decidi partir antes do amanhecer porque não sou forte o suficiente para te dizer adeus pessoalmente. A verdade é que, se eu te visse abrir os olhos pela manhã, eu não seria capaz de ir embora. E isso seria egoísta da minha parte. Eu te amo, Alfonso, mas preciso deixar você ir. Preciso que você viva a vida que merece, sem alguém como eu ao seu lado, sempre te colocando em risco.

Estou indo embora. Não sei exatamente para onde, mas Amsterdã parece ser meu destino por agora. Não sei quanto tempo vou conseguir fugir, mas não importa. O que importa é que você estará seguro. E mesmo que eu nunca mais te veja, quero que saiba que vou carregar você comigo em cada passo que eu der. Você será minha lembrança mais preciosa, meu segredo mais bem guardado.

Por favor, não me procure. Não tente me salvar. Eu escolhi esse caminho, e agora preciso lidar com as consequências. Não quero que você se machuque mais por minha causa.

Desculpe por todas as mentiras, desculpe por não ser quem você pensava que eu era. Mas, por favor, acredite em uma coisa: o que sinto por você é real. Sempre foi.

Adeus, Alfonso. Cuide de si, viva sua vida, e, acima de tudo, seja feliz.

Com amor, 
*Anahí

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Ao terminar de ler, Alfonso deixou a carta cair no colo, o coração pesado. Ela havia partido. A mulher que havia transformado sua vida nos últimos meses, com todo o caos e intensidade que trouxe, agora estava longe. E, mesmo sabendo que era o certo, que ambos precisavam seguir caminhos separados, ele sentiu uma dor profunda, como se uma parte dele tivesse sido levada junto com ela.



Quando Alfonso voltou para casa, ainda abalado pela despedida com Anahí, encontrou Maite na sala, folheando distraidamente uma revista. Ela levantou os olhos quando ele entrou, e imediatamente percebeu o peso que ele carregava. A expressão de Alfonso dizia tudo. Ele estava exausto, tanto física quanto emocionalmente.

— Como foi o fim de semana? — perguntou Maite, embora soubesse que algo tinha dado errado.

Alfonso suspirou, jogando-se no sofá ao lado dela. Ficou em silêncio por um momento, tentando encontrar as palavras certas. Quando finalmente falou, sua voz estava rouca.

— Anahí se foi, Maite. Ela partiu antes de amanhecer. Deixou uma carta... contando tudo. — Ele passou a mão pelo rosto, como se tentasse se livrar das emoções. — Ela admitiu tudo: que foi adotada por Stefans, que estava envolvida com ele em crimes. E o pior... ela foi enviada para me matar.

Maite arregalou os olhos, mas sua reação foi mais de choque controlado do que surpresa completa. Ela sempre soubera que algo estava errado, e o envolvimento de Stefans não era novidade para ela.

— E o que você fez? — Maite perguntou, sua voz baixa e cuidadosa.

— Nada... Ela me contou tudo, e depois nós... nós passamos a noite juntos, como se fosse uma despedida. — Ele respirou fundo. — Quando acordei, ela já tinha ido. Disse que ia fugir para Amsterdã, que não podia continuar com isso, que não queria me machucar. Mas a verdade, Maite, é que... eu não sei o que pensar. Eu me apaixonei por ela, e agora tudo parece uma mentira.

Maite assentiu lentamente, ouvindo o irmão desabafar. Quando ele terminou, ela se inclinou para frente, pousando uma mão no ombro dele.

— Você fez o que pôde, Alfonso. Talvez tenha até arriscado demais, sabendo do que ela era capaz. Mas, no fundo, você tomou a decisão certa. Ela foi sincera com você no final, e acho que, por mais que doa agora, foi melhor assim. Se ela tivesse ficado... vocês dois poderiam estar mortos em breve.

Alfonso abaixou a cabeça, lutando para conter as emoções que ainda fervilhavam dentro dele. Maite estava certa, ele sabia disso. Mas o vazio deixado pela partida de Anahí parecia impossível de ignorar.

— Stefans não vai desistir, Alfonso, — Maite continuou, a seriedade em sua voz aumentando. — Esse homem é perigoso. Ele sabe que Anahí falhou, e vai encontrar outro jeito de tentar te atingir. Você precisa se proteger, e eu também. Não podemos baixar a guarda.

Alfonso olhou para a irmã, preocupado. O perigo que Stefans representava era real, e agora ele sabia que estava mais exposto do que nunca.

— O que vamos fazer? — ele perguntou, sem saber como proceder.

Maite cruzou os braços, pensativa.

— Vamos nos preparar. Precisamos de mais segurança, de mais pessoas ao nosso redor em quem possamos confiar. Stefans joga sujo, e temos que estar prontos para o que vier. E, Alfonso... sei que ainda está machucado por tudo o que aconteceu com Anahí, mas não podemos deixar que isso nos distraia. Não agora.

Alfonso assentiu, reconhecendo a verdade nas palavras dela. O perigo não tinha acabado. Se Stefans já havia enviado Anahí, ele provavelmente tinha outros planos em mente. Mas, dessa vez, Alfonso não seria pego de surpresa.

Ele levantou, determinado.

— Tem razão. Vamos nos preparar. Não vou deixar esse homem arruinar mais nada.

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