Um caso raro

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🪨 | Lana's
Vision

O dia começou mais cedo do que o de costume e para completar eu mal consegui dormir essa noite.

Passei a noite inteira pensando em como seria o dia de hoje, como funcionaria e o quão eu decepcionaria meus pais.

Eu tenho que por a cabeça no lugar.

Me levantei e olhei o reflexo que estava no espelho, observei minhas roupas longas e coloridas.

Soltei um riso frouxo, talvez não seja tão ruim permanecer aqui.

Minhas pernas amoleceram e me sentei na cama novamente.

Eu não posso me enganar desse jeito, o meu lugar não é aqui, ou talvez sim.

— Lana, pense.

Me deitei na cama novamente, meu irmão então apareceu no meu quarto.

— Olha só, apareceu quem estava sumido.

Eu disse sorrindo e ele fechou a porta se sentando ao meu lado.

— Eu tinha que voltar, o teste é hoje.

— Nem me lembre.

Lamentei e ele passou as mãos pelos meus ombros, me confortando.

— Você deveria ter ido comigo, Lana, assim teria conhecido as outras facções.

— Caleb, não bato perna como você.

— Não me ofende, mas como você está?

— Não sei dizer, um pouco confusa talvez, e você?

— Eu acho que já estou decidido, quando for escolher, Lana, pense na família mas também pense em você.

Eu sorri para o meu irmão e o olhei por um instante, ele parecia realmente decidido. Conseguia imaginar Caleb vivendo aqui para sempre, ele gostava da vida no campo.

Para ele era fácil, ele se encaixava aqui. Sempre pensava nos outros e nunca nele, dócil, a bondade reinava em Caleb.

Mas, e eu?
Digo, o que eu sou?
Bondosa, inteligente, honesta, altruísta ou corajosa?

Escutamos algumas batidas na porta e lá estavam os nossos pais, com sorrisos grandes nos rostos e nos olhando.

Os observei encostados no batente da porta, tinha medo de descobrir que não sou da amizade e ter que deixar minha família.

Na verdade, tinha medo de descobrir que esse era exatamente o meu lugar.

Assim que cheguei ao local do teste avistei a fila enorme que tinha ali, apesar disso, mas apesar do nervosismo me mantive quieta, não sabia o que esperar.

Olhei ao redor e todos pareciam animados, alguns assustados e outros apenas quietos, assim como eu.

Estava me mantendo quieta observando o chão como se fosse a coisa mais interessante do momento, e na verdade era.

— D'Angelo.

Levantei a cabeça assim que ouvi o meu sobrenome, com os olhos ainda arregalados pelo transe que estava agora há pouco.

Avistei uma mulher magra e alta de fios escuros, ela me olhava como se esperasse uma reação minha e só então percebi que passei um tempo paralisada a encarando.

Assim que voltei a consciência, fui até a mulher que me esperava, ignorando os olhares alheios e sorrindo para a mulher que estava na porta antes de entrar.

A esperei fechar a porta e então ela apontou para a cadeira.

— sente-se.

Sem tardar me sentei, a cadeira era confortável, observei o espaço e não tinha nada de especial, apenas uma sala jogada.

Voltei o meu olhar para a morena que me aguardava, e então levei a minha atenção a ela.

— Sabe que amanhã a escolha vai ser sua, independente do resultado de hoje, não é?

— Eu ouvi dizer, mesmo assim eu espero que o teste me guie.

— Mas toma cuidado porque não tem volta.

Ela deu uma risada fraca e me entregou um líquido, esperei que ela falasse algo.

— 95% vão para a facção de origem, com você não parece ser diferente. Pode beber o líquido, inclusive, me chamo Tória.

A olhei de costas e observei a tatuagem em sua nuca, olhando em seus olhos novamente quando ela se virou para mim ao terminar de falar.

Tomei todo o líquido e a entreguei o recipiente, meus olhos se fecharam, o gosto era estranhamente forte e desconhecido.

Assim que abri os olhos para reclamar do sabor não tinha mais ninguém na sala.

Me levantei assustada da cadeira ao ver o meu reflexo vir até mim.

— Escolhe.

Observei para onde o reflexo apontava e vi em uma mesa vários utensílios e objetos.

Não tive muito tempo para pensar, assim que eu ouvi um barulho atrás de mim, me virei para ver e lá estava um urso preto e grande me olhando com raiva.

Olhei novamente para as mesas e já não tinha mais nada que pudesse me ajudar, ouvi o rosnado do bicho e o vi correndo em minha direção.

Fechei os meus olhos com força e minhas pernas fraquejaram.

— Calma, Lane, pensa!

Até que tudo ficou em silêncio e abri os meus olhos novamente, já não havia mais nada ali.

Ouvi uma risada de uma menina mais nova e me virei para ver, ela chamava por um bicho e quando olhei o urso estava atrás dela.

Assim que ela começou a correr fui atrás dela e de algum jeito consegui pular em cima do urso a fim de salvar a garota, como algo estranho nos afundamos no chão.

Me levantei em um pulo, eu já havia acordado.

A mulher antes confiante agora me olhava assustada, me puxando pelo braço.

— Rápido, seja rápida antes que alguém chegue.

Olhei sem entender e a mulher me encarou por alguns segundos.

— Diga que passou mal e que eu te liberei.

— Mas qual foi o meu resultado?

— Abnegação, audácia, altruísmo, o seu resultado foi inconclusivo.

Ela me encarou séria e um olhar de dúvida caiu sob meus olhos. Afinal, isso era possível?

— Isso não pode ser verdade, é impossível.

Disse eu entrando em desespero, o que diria para os meus pais? Ou melhor, como não diria a eles.

- Não é impossível, só é incrivelmente raro, chamam de divergente. Não conte para ninguém, escute o que estou dizendo.

— Eu não sei o que vou fazer amanhã, o teste era pra me dizer o que fazer e agora não sei mais.

— O teste não funcionou em você, terá que escolher por si própria.

Disse ríspida ao me pôr para fora da sala em segundos e fechar a porta dos fundos.

Sai em disparada, ainda sem entender mas o caminho para casa foi longo para conseguir pensar no que fazer.

— Então, Lane, fiquei sabendo que passou mal no teste de hoje.

Meu pai disse entrando na cozinha, eu estava lavando os pratos e caleb me ajudava guardando-os.

— É mas não precisa se preocupar, querida, amanhã será um grande dia para vocês dois.

Minha mãe falou se encontrando com o meu pai.

— Nós amamos vocês.

Sorri sem jeito com a fala deles.

O tempo passou e eu estava deitada novamente, não sei se conseguiria dormir bem, pelo menos tentaria.

Divergente: além do que os olhos veem.Onde histórias criam vida. Descubra agora