O ar quente de julho ondulava sobre as ruas de asfalto desgastado de Willows Creek, uma cidadezinha pacata e esquecida no mapa, onde nada de importante acontecia. Pelo menos, era o que pensava Alice McCarthy, debruçada sobre o parapeito da janela de seu quarto, olhando o pôr do sol tingir o céu de laranja e roxo. Ela suspirou, frustrada com a mesmice do verão que mal tinha começado.
Alice tinha 15 anos, e para ela, o verão de 1984 prometia ser tão sem graça quanto os anteriores. Seus pais trabalhavam o dia inteiro na fábrica de pneus local, e ela ficava à mercê da própria imaginação, inventando formas de passar o tempo. A única coisa que tornava tudo mais suportável eram seus amigos: Danny, Luke e Sarah.
Danny, de 16 anos, era o mais corajoso do grupo. Com cabelos castanhos bagunçados e uma bicicleta BMX enferrujada, ele estava sempre em busca de algo emocionante para fazer, mesmo que isso significasse entrar em problemas. Luke, o nerd da turma, com seus óculos enormes e camiseta do Pac-Man, preferia ficar em casa jogando Atari, mas raramente conseguia resistir à insistência de Danny para aventuras. E Sarah, a melhor amiga de Alice desde sempre, era a mediadora do grupo, a que mantinha todos unidos quando as coisas ficavam complicadas.
Naquela tarde abafada, Alice estava prestes a ligar para Sarah quando ouviu um apito agudo vindo da rua. Ela se inclinou na janela e viu Danny, parado na esquina, acenando com entusiasmo. Atrás dele, Luke tentava equilibrar uma pilha de quadrinhos enquanto andava desajeitadamente de bicicleta.
"Ei, McCarthy! Vem logo!", gritou Danny. "A gente achou algo muito doido na floresta!"
Alice franziu o cenho. Danny sempre estava com uma nova teoria maluca ou plano mirabolante, mas algo no tom de sua voz a fez sentir um frio na barriga. Ela vestiu seu tênis All-Star e desceu correndo as escadas de madeira de sua casa, se despedindo rapidamente da mãe, que nem se deu ao trabalho de perguntar para onde ela ia. A cidade era pequena, e os problemas grandes pareciam distantes dali.
Quando Alice chegou à rua, Sarah já estava lá, seu cabelo loiro preso em um rabo de cavalo desalinhado. "Você não vai acreditar no que eles encontraram", disse Sarah, um sorriso nervoso brincando nos lábios.
"Encontrei na floresta, perto do Lago Willow. Tava enterrado, como se alguém não quisesse que fosse encontrado", disse Danny, os olhos brilhando de excitação.
"Encontrou o quê?", Alice perguntou, agora curiosa.
"Vem comigo", ele disse, montando na bicicleta. "Você vai ver com seus próprios olhos."
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A trilha até o Lago Willow era familiar para eles. Era o lugar onde passavam a maior parte do tempo no verão, nadando e contando histórias de terror à noite. Mas algo parecia diferente naquela tarde. As sombras das árvores pareciam mais longas, e o vento soprava mais forte do que de costume, fazendo as folhas sussurrarem segredos.
Quando chegaram à margem do lago, Danny guiou o grupo até uma pequena clareira escondida. No meio da clareira, algo brilhava levemente sob a terra solta. Alice se ajoelhou ao lado de Danny e, com um pedaço de pau, começou a cavar. Logo, seus dedos tocaram algo frio e metálico.
"É uma... caixa?", Alice disse, puxando um objeto enferrujado para fora do chão.
"Eu acho que é mais do que isso", disse Luke, ajeitando os óculos. Ele se aproximou e inspecionou o objeto mais de perto. "Isso parece... militar. Tipo, da Guerra Fria."
Alice sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Algo naquele objeto parecia fora do lugar, como se não devesse estar ali, enterrado naquele canto esquecido da floresta. Ela olhou para Danny, que parecia prestes a explodir de empolgação.
"Vamos abrir", disse ele, ansioso.
Luke hesitou. "E se for perigoso? Pode ser uma armadilha ou alguma coisa assim."
"Ou pode ser a coisa mais legal que a gente já encontrou", retrucou Danny, sorrindo desafiador.
Depois de alguns minutos debatendo, eles decidiram abrir a caixa. Com um estalo metálico, a tampa se soltou, revelando algo que ninguém esperava. Dentro da caixa havia mapas, documentos antigos e... um dispositivo estranho, com luzes vermelhas piscando.
"Isso não é uma coisa qualquer", disse Sarah, sua voz baixa. "Acho que a gente acabou de se meter em algo muito maior do que imaginávamos."
Alice olhou para o dispositivo, sentindo seu coração disparar. O verão que prometia ser entediante acabava de se transformar em algo totalmente diferente.
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Continua...

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Além do lago willow
Gizem / GerilimEm um tranquilo verão de 1984, a vida em Willows Creek é tão previsível quanto o calor escaldante. Alice McCarthy, uma jovem de 15 anos, está entediada com a monotonia da cidadezinha e se pergunta se este verão será tão desinteressante quanto os ant...