A noite havia caído e, enquanto Mendrake caminhava pelas ruas em direção à sua casa, ele não conseguia afastar a sensação de que algo estava errado. O frio no ar não era só físico, mas parecia vir de dentro, uma inquietação que ele não conseguia explicar.
Ao virar a esquina, viu sua casa à distância, mas antes que pudesse dar mais um passo, uma figura saiu das sombras e parou à sua frente. O coração de Mendrake disparou quando reconheceu a silhueta. Feuripe, seu irmão mais velho, estava ali, com aquele olhar predatório que Mendrake conhecia muito bem.
— Feuripe...? O que você está fazendo aqui? — Mendrake perguntou, a voz trêmula.
Feuripe deu um sorriso cruel, cruzando os braços.
— Você realmente achou que podia escapar da nossa família, irmãozinho? — Ele deu um passo à frente, e Mendrake recuou instintivamente.
— Eu não vou voltar — disse Mendrake, tentando parecer firme, mas a presença de Feuripe fazia velhos medos virem à tona.
Antes que Mendrake pudesse reagir, sentiu algo pesado bater em sua cabeça. O mundo ao seu redor girou, e tudo ficou escuro.
Quando Mendrake acordou, ele estava em um lugar que não reconhecia. Um quarto frio, com paredes de pedra, quase como uma cela. Suas mãos estavam presas com correntes, e a cabeça latejava.
— Finalmente acordado, maninho. — A voz de Feuripe ecoou pela sala, e Mendrake levantou a cabeça lentamente, seus olhos focando na figura que estava encostada na parede.
Feuripe o olhava com desprezo, os braços cruzados.
— O pai está muito decepcionado com você, sabia? Fugir assim... como se fosse um rato. — Feuripe deu um sorriso de escárnio. — Mas não se preocupe. Vamos levá-lo de volta para casa. E você vai aprender sua lição.
Mendrake se esforçou para puxar as correntes, mas era inútil. Ele estava preso.
— Eu não vou voltar — ele sussurrou, mesmo sabendo que suas palavras soavam vazias. Feuripe riu, aproximando-se lentamente.
— Não é uma escolha, irmãozinho. Você pertence a nós.
Enquanto isso, Pedrux, Ameizim, Nait e May estavam se preparando para mais um dia de escola quando perceberam que Mendrake não havia aparecido. Pedrux olhou para o relógio, preocupado. Era estranho. Mendrake sempre mandava mensagem ou avisava se algo estivesse errado.
— Tem algo de errado — disse Pedrux, inquieto. — Mendrake nunca se atrasa.
— Você acha que aconteceu alguma coisa? — perguntou Ameizim, cruzando os braços.
Pedrux franziu o cenho, o coração batendo rápido. Ele sabia que algo estava errado, mas não sabia o quê. Então, May, que até agora estava em silêncio, falou:
— Acho que Mendrake está em perigo.
Os três amigos a olharam, surpresos pela convicção em sua voz. May levantou-se, o rosto sério, seus olhos refletindo uma preocupação genuína.
— Como você sabe disso? — Nait perguntou, intrigado.
May hesitou por um segundo antes de responder:
— Eu... apenas sei.
Pedrux não questionou. Ele confiava em May, mesmo sem entender como ela sabia dessas coisas. Seu único foco era encontrar Mendrake. Eles rapidamente saíram da escola, começando a procurar nas ruas próximas.
Enquanto andavam pela cidade, Pedrux sentia uma sensação crescente de desespero. Algo lhe dizia que Mendrake estava em perigo real, e ele não conseguia suportar a ideia de perder o amigo que havia se tornado tão importante para ele.
— Ali! — May apontou para uma construção abandonada ao longe. Seus olhos brilharam de uma forma estranha, como se soubesse exatamente onde eles deveriam ir.
Sem perder tempo, o grupo correu em direção ao prédio. Lá dentro, tudo estava escuro e úmido, mas não demorou muito para ouvirem vozes. Pedrux reconheceu imediatamente a voz de Mendrake, fraca, mas ainda cheia de determinação.
— Eu nunca vou voltar! — ele ouviu Mendrake gritar.
Pedrux apertou os punhos, o coração batendo freneticamente. Eles encontraram uma porta entreaberta e espiaram. Feuripe estava dentro, segurando uma faca na mão, ameaçando Mendrake que estava acorrentado a uma parede.
— Precisamos agir agora — sussurrou Pedrux, com os olhos fixos na cena.
May assentiu e, surpreendendo a todos, ela murmurou algo em uma língua que nenhum deles conhecia. Um brilho suave emitiu-se das mãos dela, e, de repente, as correntes de Mendrake se soltaram.
Mendrake caiu no chão, atordoado, mas livre. Feuripe, pego de surpresa, virou-se bruscamente.
— O que diabos...?
Antes que Feuripe pudesse reagir, Nait e Ameizim avançaram, imobilizando-o com uma força que nenhum deles sabia que possuíam. Pedrux correu até Mendrake, ajudando-o a se levantar.
— Você está bem? — perguntou Pedrux, a preocupação evidente em seus olhos.
Mendrake, ainda fraco, assentiu, tentando se manter em pé com a ajuda de Pedrux.
— Eu... eu sabia que você viria — disse Mendrake, sua voz falhando, mas cheia de gratidão.
— Sempre vou vir — Pedrux respondeu com um sorriso pequeno, mas sincero.
Eles não perderam tempo. Com Feuripe imobilizado, o grupo rapidamente deixou o prédio, levando Mendrake para um lugar seguro. O pai de Mendrake, porém, não desistiria tão facilmente. E todos sabiam disso.
Mas naquele momento, com os amigos ao seu redor e Pedrux ao seu lado, Mendrake sentiu, pela primeira vez, que talvez estivesse seguro. Pelo menos por enquanto.
A noite caiu novamente, e enquanto Mendrake descansava, ele não pôde deixar de pensar em como havia sido salvo. Em como May parecia saber exatamente o que fazer, como se houvesse algo mais profundo por trás de tudo aquilo. E ele estava certo.
May, em silêncio, olhava para o céu pela janela, os olhos fixos nas estrelas. Ela sabia que seu papel naquela história estava apenas começando.
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Luz da Lua: O coração revelado
Hayran KurguEm uma cidade envolta por mistérios, Mendrake é um jovem que foge de um passado sombrio para começar uma nova vida. Ao lado de Pedrux, um garoto que ele defendeu de valentões, Mendrake encontra amizade e um novo começo. Juntos, eles formam um grupo...