Ecos de um passado sombrio

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O clima na casa de Pedrux estava tenso. Mendrake ainda se recuperava do sequestro, enquanto seus amigos o cercavam com preocupação e alívio. No entanto, a sombra do que havia acontecido pairava sobre todos. Eles sabiam que Feuripe não havia agido por conta própria. O pai de Mendrake ainda estava por trás de tudo isso, e o perigo não havia desaparecido.

Pedrux observava Mendrake de longe. Ele sabia que seu amigo estava tentando disfarçar a dor, mas a intensidade do olhar de Mendrake era inegável. Algo havia quebrado dentro dele, algo profundo.

— Você acha que ele está bem? — perguntou Nait, se aproximando de Pedrux.

Pedrux deu de ombros, sem conseguir tirar os olhos de Mendrake.

— Não sei. Mas o que aconteceu mexeu com ele de uma forma que eu não entendo. Só espero que a gente consiga protegê-lo.

May, que estava em silêncio no canto da sala, sentiu o peso das palavras de Pedrux. Ela sabia que seu papel naquela história ia além de apenas proteger. Sua missão, desde o princípio, era unir aquelas duas almas tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão conectadas. Ela só não esperava que fosse tão desafiador.

Mendrake, percebendo os olhares de seus amigos, se levantou, tentando ignorar a dor física e emocional.

— Eu preciso sair um pouco — disse ele, já se dirigindo à porta.

— Você tem certeza de que é uma boa ideia? — perguntou Ameizim, preocupado.

— Eu preciso de ar. Só um minuto.

Pedrux se levantou instintivamente, pronto para acompanhá-lo, mas May o parou com um olhar calmo.

— Deixe-o ir, Pedrux. Às vezes, precisamos enfrentar nossos demônios sozinhos.

Pedrux hesitou por um momento, mas acabou assentindo. Ele sabia que May tinha razão, mas não podia evitar a sensação de que algo mais estava por vir.

Mendrake caminhava pelas ruas escuras, perdido em seus pensamentos. A brisa fria da noite trazia uma falsa sensação de tranquilidade. Cada passo que ele dava parecia ecoar com lembranças do passado, de tudo o que ele havia sofrido nas mãos de sua família.

Ele parou em frente a um parque deserto, sentando-se em um dos balanços, enquanto olhava para o céu. As estrelas brilhavam intensamente, mas em sua mente, as sombras do passado eram muito mais fortes.

De repente, ele ouviu passos atrás de si. Virou-se rapidamente, esperando encontrar algum inimigo, mas ao invés disso, viu Pedrux.

— Não consegui deixar você ir sozinho — disse Pedrux, com um sorriso tímido.

Mendrake sorriu de volta, um sorriso pequeno, mas genuíno.

— Não deveria ter se preocupado tanto. Eu só... precisava pensar.

Pedrux se aproximou, sentando-se ao lado de Mendrake no balanço vazio. O silêncio entre eles não era desconfortável, mas cheio de palavras não ditas.

— Eu entendo — disse Pedrux, depois de um tempo. — Sei que o que aconteceu foi horrível, e você não precisa fingir que está tudo bem.

Mendrake suspirou, sentindo um peso no peito. Ele não sabia como colocar em palavras tudo o que estava sentindo. O medo, a raiva, a dor. Mas, acima de tudo, a sensação de que ele estava trazendo perigo para as pessoas que amava.

— Você sabe que eu nunca quis que vocês se envolvessem nisso, certo? — Mendrake finalmente disse. — Minha família... é uma maldição. Eu só queria... fugir de tudo. Mas parece que eles sempre me encontram.

Pedrux balançou a cabeça.

— Nós estamos nisso juntos, Mendrake. Não importa o que aconteça, você não está sozinho. E nunca vai estar.

O olhar de Pedrux era firme e cheio de sinceridade, e por um momento, Mendrake sentiu uma onda de calor no peito. Ele sabia que Pedrux falava sério, mas ainda assim, a dúvida persistia.

— Mas e se... — Mendrake começou, hesitando. — E se eu colocar vocês em perigo? Eu não sei o que meu pai e Feuripe estão planejando. Eu não posso deixar que algo aconteça com você... com vocês.

Pedrux se levantou, puxando Mendrake pelo braço, fazendo-o ficar de pé também.

— Eu não tenho medo de sua família. E você também não deveria ter. — Pedrux olhou diretamente nos olhos de Mendrake, seu olhar intenso e determinado. — Nós somos mais fortes juntos. E eu nunca vou deixar que te machuquem novamente.

Mendrake sentiu algo quebrar dentro dele, mas dessa vez, não era a dor. Era a barreira que ele havia construído para se proteger. Com Pedrux ali, tão próximo, tão determinado, ele finalmente sentiu que não estava lutando sozinho.

Enquanto isso, na casa de Pedrux, May olhava pela janela com uma expressão distante. Ela podia sentir a conexão entre Mendrake e Pedrux se fortalecendo, e uma pequena faísca de alívio brilhou dentro dela. A missão estava avançando como deveria, mas ela sabia que o caminho à frente ainda era cheio de perigos.

— Está tudo bem, May? — perguntou Ameizim, percebendo o olhar distante da amiga.

— Sim — respondeu ela, virando-se com um sorriso. — Está tudo bem... por enquanto.

Nait olhou desconfiado para May, percebendo algo em seu tom de voz que não conseguia entender completamente.

— Você sabe de algo que não está nos contando? — perguntou ele, levantando uma sobrancelha.

May apenas sorriu, aquele sorriso enigmático que ela costumava dar quando sabia de mais do que estava disposta a revelar.

— Talvez — disse ela, dando de ombros. — Mas vocês saberão no momento certo.

Antes que Nait pudesse questioná-la mais, a porta da casa se abriu, e Mendrake e Pedrux entraram juntos, parecendo mais tranquilos. May suspirou aliviada, sabendo que aquele momento havia sido crucial para ambos.

— E então, estão prontos para a próxima etapa? — perguntou Ameizim, tentando aliviar a tensão no ar.

Mendrake sorriu de canto, sentindo uma nova energia dentro de si.

— Sempre.

Mas, do outro lado da cidade, nas sombras, Feuripe e seu pai estavam planejando seus próximos movimentos. O sequestro havia falhado, mas a batalha estava longe de acabar.

E desta vez, eles não iriam cometer os mesmos erros.

970 palavras

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