Uma nova vida

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A manhã seguinte chegou com a leve brisa do outono batendo nas janelas da casa nova de Mendrake. Ele havia passado a noite em claro, refletindo sobre os últimos dias — sua fuga, o encontro com Pedrux e a sensação inexplicável de segurança que o envolvia agora. Aquela casa simples, ao lado da de Pedrux, era o oposto da mansão sufocante dos Drakes. Aqui, havia silêncio, mas um silêncio tranquilo.

Mendrake, já vestido com a blusa favorita de Pedrux, saiu para o quintal e logo o viu chegando. Pedrux sorriu ao vê-lo, um brilho suave nos olhos.

— Você dormiu bem? — perguntou Pedrux, enquanto se aproximava.

Mendrake riu levemente, balançando a cabeça.

— Acho que ainda estou me acostumando com o fato de que estou... livre.

Pedrux o olhou com seriedade, sabendo que as feridas que Mendrake carregava iam muito além do físico.

— Eu não sei o que você passou, mas... quero que saiba que você pode contar comigo, Mendrake. — Pedrux colocou uma mão tímida no ombro de Mendrake, que, embora surpreso com o gesto, aceitou o conforto.

— Eu sei, Pedrux. — Ele suspirou, sentindo pela primeira vez em anos que estava começando a reconstruir sua vida. — E agradeço por isso.

Antes que o clima ficasse pesado demais, Pedrux sorriu, tentando mudar o foco.

— Vamos para a escola, então? Acho que hoje temos que conhecer alguns colegas novos.

A escola era um local vibrante e movimentado, o completo oposto da obscuridade que Mendrake havia deixado para trás. As vozes animadas dos estudantes preenchiam os corredores, e Pedrux parecia relaxado, como se aquele fosse seu território.

Eles entraram na sala de aula, e imediatamente, dois rostos familiares os receberam.

— E aí, Pedrux! — Um garoto alto, com um sorriso contagiante, levantou a mão para um high-five. — Esse é o seu amigo? — perguntou, olhando para Mendrake.

— Mendrake, esse é o Ameizim — explicou Pedrux. — E aquele ali — apontou para um garoto de cabelo preto e olhar curioso — é o Nait.

Ameizim se aproximou, cumprimentando Mendrake com um aperto de mão firme, enquanto Nait os observava atentamente, mas logo sorriu de forma amigável.

— Vocês são a dupla que resgata os oprimidos, pelo que ouvi por aí. — Nait brincou, fazendo Pedrux corar um pouco.

Mendrake, ainda se acostumando com a leveza daquela interação, sorriu. Pela primeira vez, ele sentia que estava em um ambiente onde não precisaria se defender a todo momento.

A aula começou, mas logo Mendrake percebeu outra presença na sala. Uma garota de cabelos escuros, sentada ao fundo, observava tudo com uma calma quase sobrenatural. Seus olhos eram afiados, como se enxergassem mais do que apenas o que estava à sua frente. Pedrux notou seu interesse e sussurrou:

— Aquela é May. Ela chegou faz pouco tempo, mas já se tornou uma das nossas. Ela é... diferente.

"Diferente", pensou Mendrake. Ele conhecia esse termo muito bem. Ele próprio era diferente. Mas algo em May o fez querer saber mais.

Ao final da aula, May se aproximou do grupo. Ela não disse muito, apenas os cumprimentou com um aceno de cabeça. Seus olhos encontraram os de Mendrake por um momento, e ele sentiu algo intrigante. Havia um mistério naquela garota que o deixava desconfortável, mas também curioso.

— Parece que o grupo está crescendo — comentou Ameizim, jogando a mochila sobre o ombro. — Vamos para a cantina?

Mendrake concordou, acompanhando o grupo enquanto tentava afastar a sensação estranha que May havia despertado. Mesmo assim, ele sabia que havia algo mais sobre ela. Algo que ele não podia ignorar.

Naquela tarde, já de volta à sua casa, Mendrake olhava pela janela, observando Pedrux no quintal ao lado. Desde que o conhecera, ele sentia uma estranha paz quando estava perto dele. Pedrux era diferente de tudo que ele conhecera na vida. Onde sua família tinha sido fria e cruel, Pedrux era calor e bondade. E, embora não soubesse explicar o porquê, Mendrake sentia algo crescendo dentro de si. Algo que ia além da amizade.

Com um suspiro, Mendrake se afastou da janela, tentando não se deixar levar por aqueles pensamentos. Ainda havia muitas coisas que ele precisava entender sobre si mesmo e sobre o que estava por vir.

Mas uma coisa era certa: ao lado de Pedrux, ele estava seguro.

699 palavras

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