Laços que se fortalecem

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O som da campainha ecoou pela casa de Mendrake, tirando-o de seus pensamentos. Ele abriu a porta e, como já se acostumara, encontrou Pedrux sorrindo do lado de fora.

— Está pronto? — perguntou Pedrux, balançando levemente a cabeça na direção da rua.

Mendrake sorriu de volta e pegou sua mochila, fechando a porta atrás de si. Hoje seria um dia importante. A escola organizava uma pequena excursão, e o grupo todo estava animado. Ameizim e Nait já os aguardavam no ponto de encontro, e, surpreendentemente, May também estava lá, sentada sozinha em um canto, olhando para o céu com aquele ar distante.

— Vamos? — Nait perguntou, empolgado, quando viu os dois se aproximarem.

Ameizim, sempre brincalhão, colocou o braço ao redor dos ombros de Mendrake e Pedrux, os apertando num abraço desconfortável.

— O trio dinâmico chegou! — Ameizim exclamou, rindo, e Mendrake sorriu, apesar da falta de jeito com esse tipo de interação física. Ele já estava se acostumando com as brincadeiras.

Eles subiram no ônibus, cada um encontrando um lugar. Mendrake sentou-se ao lado de Pedrux, e logo o veículo começou a se mover. O caminho era tranquilo, mas a cabeça de Mendrake estava distante. Ele ainda pensava em May e na sensação estranha que ela lhe causava. Havia algo naquela garota que ele não conseguia entender, mas que, de alguma forma, parecia estar conectada com tudo o que vinha acontecendo.

— No que está pensando? — perguntou Pedrux, sua voz suave, mas cheia de curiosidade.

Mendrake deu de ombros, tentando disfarçar seus pensamentos.

— Nada de mais. — Mas Pedrux, sendo quem era, não se deixou enganar.

— É sobre a May, não é? — Pedrux sorriu de canto, divertido. — Ela tem esse jeito misterioso que deixa todo mundo intrigado.

Mendrake não pôde deixar de concordar.

— É, talvez seja isso.

O ônibus seguiu até uma área verde próxima da cidade, onde a turma desembarcou. Um parque amplo, com árvores altas e um lago no centro, aguardava os alunos. O ar fresco preenchia os pulmões de Mendrake, e ele se sentiu mais leve do que há muito tempo. Ao longe, May ainda estava afastada, sentada sozinha à beira do lago, observando a água com atenção.

Enquanto os outros aproveitavam a excursão, brincando e explorando o parque, Mendrake decidiu caminhar até ela.

— Oi — disse, ao se aproximar.

May ergueu os olhos, sem parecer surpresa. Era como se ela soubesse que ele viria.

— Você parece sempre tão distante — comentou Mendrake, sentando-se ao lado dela.

May deu um pequeno sorriso, aquele tipo de sorriso que era enigmático e sabia mais do que mostrava.

— Eu gosto de observar as coisas de longe. Às vezes, é mais fácil entender tudo quando não estamos no meio do caos.

Mendrake ficou em silêncio por um momento, tentando absorver aquelas palavras. Ele olhou para a água calma do lago e refletiu sobre o caos que sua vida havia sido até agora.

— Eu entendo isso — respondeu baixinho.

May o olhou mais atentamente, como se quisesse dizer algo, mas hesitasse. Ela pareceu reconsiderar e mudou de assunto.

— Você e Pedrux são bem próximos, não é?

Mendrake não pôde evitar sorrir ao ouvir o nome do amigo.

— Sim. Ele tem sido... um grande apoio para mim. Acho que, sem ele, eu estaria completamente perdido.

May assentiu, seu olhar voltando para o lago. Ela parecia ponderar cada palavra antes de dizer:

— Às vezes, as pessoas aparecem nas nossas vidas por razões que não entendemos na hora. Mas acredite, há sempre uma razão.

Mendrake franziu o cenho, intrigado. May falava com uma convicção quase sobrenatural. Ele queria perguntar mais, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Ameizim gritou do outro lado do parque, chamando-os.

— Venham, está na hora de irmos!

May levantou-se lentamente e deu um último olhar para Mendrake, antes de se juntar ao grupo. Ele permaneceu sentado por um segundo, sentindo que havia algo mais profundo naquela conversa do que parecia à primeira vista.

Na volta para casa, o ônibus estava mais silencioso, com muitos alunos cochilando após o dia cheio. Pedrux, ao lado de Mendrake, já estava quase dormindo, a cabeça escorregando levemente para o ombro de Mendrake, que não se moveu. Sentia o coração acelerar com o simples toque, mas não fez nada para afastar o amigo. Na verdade, o conforto que sentia com Pedrux ao seu lado era algo novo e revigorante. Uma paz que nunca pensou que poderia sentir.

Quando o ônibus finalmente parou na escola, o grupo desceu, despedindo-se para o fim de semana. Pedrux sorriu para Mendrake, parecendo mais feliz e relaxado do que nunca.

— Até amanhã, então?

— Até — respondeu Mendrake, observando enquanto Pedrux seguia para casa. Ele ficou parado ali por mais alguns minutos, tentando processar as emoções que cresciam dentro de si. Algo estava mudando, e ele sabia disso.

Enquanto caminhava de volta para sua própria casa, seus pensamentos voltaram para May e para suas palavras. "Há sempre uma razão." Mendrake sentiu que aquelas palavras eram mais do que apenas um conselho vago. Havia algo por trás delas, algo que ele ainda não entendia, mas que estava profundamente ligado a Pedrux.

E, por mais confuso que se sentisse, uma coisa era clara: ele não queria perder Pedrux. Não agora. Não nunca.

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