𝟎𝟐. ㅤㅤ𝓣𝑯𝑬 𝓐𝑹𝑹𝑰𝑽𝑨𝑳.

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𝑚𝑖𝑠𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑠𝑜 𝑒 𝑠𝑜𝑚𝑏𝑟𝑖𝑜

A manhã surgiu calma, quase sagrada, enquanto o silêncio preenchia o convento

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A manhã surgiu calma, quase sagrada, enquanto o silêncio preenchia o convento. O ar parecia diferente, carregado de uma expectativa sutil. 

As irmãs e eu nos reunimos no pátio para receber o novo padre, padre Charlie Mayhew, que assumiria a liderança após nosso antigo padre se aposentar de seu posto. A madre superior desejou que fosse uma recepção calorosa, um acolhimento digno para aquele que passaria a nos guiar. 

Ao meu redor, eu via rostos curiosos, ligeiramente apreensivos. Era raro que um padre jovem fosse enviado a um convento como o nosso.

Então, ele apareceu.

Ele era muito mais alto do que eu esperava, com ombros largos e uma presença que dominava o espaço. Seu cabelo era escuro como a noite, contrastando com seu olhar misterioso que parecia analisar tudo cuidadosamente.

Sua postura era impecável, o corpo envolto em roupas escuras que pareciam absorver toda a luz ao redor, tornando-o ainda mais imponente. Entre seus dedos, ironicamente, tinha um cigarro, que ele rapidamente largou e o apagou no chão.

O semblante sério e inabalável não deixava dúvidas, ele carregava uma firmeza consigo, como se o peso do mundo não o abalasse. 

── Padre Mayhew, seja bem vindo! ── A madre se aproximou dele, com sua voz firme e ares de autoridade, apertando sua mão.

── Eu agradeço por me receberem com tanta hospitalidade. ── Charlie fez uma reverência respeitosa, com os olhos fixos na madre. 

Havia algo desconcertante em seus olhos, de um castanho profundo, quase negros, que pareciam guardar uma sombra inexplicável. Uma escuridão que parecia mais adequada a um estranho do que ao olhar de um padre. 

Quando seus olhos me encontraram, senti um calafrio percorrer minha espinha, algo que me fez desviar o olhar rapidamente. Sua presença me intimidou de uma forma que fugiu do meu entendimento. 

Ele era apenas mais um servo de Deus, como eu, e eu deveria estar em paz com isso. Mas de alguma forma, não estava.

"É só um padre novo", pensei, tentando afastar o aperto que senti. Eu achava que era cedo demais para formar qualquer opinião. Era apenas mais um padre, e eu devia focar em minhas próprias obrigações e devoções.


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No segundo dia, logo pela manhã, houve uma movimentação especial para a primeira missa oficial do padre Charlie. A capela estava silenciosa, e todos aguardavam em expectativa enquanto ele se preparava no altar. 

O espaço, geralmente tão acolhedor, parecia agora carregar uma solenidade incomum, uma gravidade que vinha da própria presença dele. 

Ele estava ali, imponente, de costas para nós, envolto em sua batina escura. Sua figura no altar era poderosa, e um silêncio intenso preencheu cada canto da capela a sua espera.

Ao começar a missa, o som de sua voz se espalhou, reverberando pelo espaço. Era uma voz grave e firme, que carregava uma intensidade surpreendente, como se cada palavra fosse cuidadosamente moldada, quase calculada. 

Ele tinha uma convicção em tudo o que dizia, mas havia algo mais, algo escondido, uma aura de mistério que pairava sobre cada gesto e cada olhar. 

Tentei afastar esses pensamentos, concentrando-me nas orações, nas respostas e nas palavras que eram dirigidas. Mas não conseguia evitar a sensação de que cada um de nós estava sendo observado, avaliado por aqueles olhos escuros e insondáveis, como se procurasse por algo que ainda não tinha encontrado.

No final da missa, era minha vez de ir até o altar para receber a bênção, como de costume. Caminhei devagar, sentindo o peso de cada passo, meu coração batendo mais rápido do que de costume. Algo sobre ele me intimidou, e eu não sabia por quê.

Ao erguer o rosto para receber a bênção, meu olhar encontrou o dele mais uma vez. A intensidade dos olhos de Charlie era quase insuportável. Aqueles olhos tão escuros pareciam penetrar além do físico, como se ele enxergasse algo que eu mesma desconhecia. 

Um frio súbito tomou conta de mim, e senti meu corpo estremecer. 

── Que Deus te abençoe e proteja, irmã Sarah...

Ele ergueu a mão, pronunciando as palavras de bênção, mas parecia que elas eram ditas diretamente a mim, e não apenas à minha presença.

A benção terminou, mas senti que o impacto do seu olhar ainda me queimava. Me afastei, o coração batendo acelerado, tentando entender o que havia me perturbado tanto. 

Mais tarde, de volta ao meu aposento, tentei esquecer o que havia acontecido, tentei afastar aquela primeira impressão. 

Eu era uma serva de Deus, dedicada, e não deveria deixar que um encontro como aquele interferisse em minha paz.

Ajoelhei-me ao lado da cama, e fechei os olhos, começando minha oração. 

O silêncio da noite me acolheu, mas aquela sombra estranha ainda permanecia em mim.




𝐃𝐄𝐕𝐎𝐓𝐈𝐎𝐍, charlie mayhewOnde histórias criam vida. Descubra agora