𝟎𝟔. ㅤㅤ𝓐 𝓛𝑰𝑻𝑻𝑳𝑬 𝓓𝑬𝑨𝑻𝑯.

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𝑖𝑛𝑡𝑜𝑐𝑎́𝑣𝑒𝑙

Desde o instante em que a vi, algo dentro de mim se inquietou

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Desde o instante em que a vi, algo dentro de mim se inquietou. Havia uma beleza nela que desafiava qualquer lógica, um tipo de pureza que parecia descer direto de algum reino além deste mundo. 

Ela era graciosa, serena, se movia silenciosamente pelos corredores, sempre com os olhos baixos e o rosto gentil, quase como se não pertencesse a esse plano. Sua pele clara, os cabelos loiros ondulando sobre os ombros, me recordava uma boneca de porcelana. 

Frágil, imaculada, intocada. Angelical demais para ser real.

Havia algo em mim que ansiava por quebrar essa delicadeza, corrompê-la. A forma como ela parecia tão etérea acendia algo sombrio que eu carregava, uma parte de mim que eu sempre mantive oculta. 

Sarah é tudo o que eu nunca fui. Inocente, devota e fervorosa. Em contraste, eu era envolto em sombras, carregava algo denso, oculto. E isso, esse contraste, essa antítese entre nós, fazia cada detalhe dela me atrair cada vez mais.

Ao longo do dia, tentei manter a postura, mas meus olhos procuravam por ela no convento, inevitavelmente. E então, mais tarde, enquanto vagava pelos corredores, eu a encontrei. 

Ela estava na capela, ajoelhada em frente ao altar, sozinha, sua figura reluzida pelo brilho suave das velas. Parecia uma flor intacta em meio ao silêncio, completamente absorta em sua oração.

Meu desejo de me aproximar foi quase automático, instintivo, uma necessidade que nem me importei em questionar.

Andei lentamente, deixando que o som de meus passos a alertasse da minha presença. 

Ela levantou o rosto, o olhar vagamente assustado, como se não me esperasse ali.

── Interrompo? ── Murmurei, mantendo minha voz baixa, controlada, enquanto me aproximava. 

Ela endireitou-se, ainda de joelhos.

── Padre Charlie. ── Respondeu, a voz soando como um sussurro. ── Não esperava... não esperava companhia agora.

Eu sorri, mantendo o olhar firme, absorvendo cada expressão de seu rosto.

 ── Como você está, Sarah? ── Me aproximei, a luz da lamparina em minha mão sendo a única iluminação entre nós.

── Estou bem, padre. ── Ela desviou o olhar, parecendo nervosa. Meus dedos apertaram a lamparina. Tão ingênua, tão pura. ── Obrigada por perguntar.

Inclinei-me ligeiramente, estudando o rosto dela mais de perto. 

── Sarah ── Sussurrei, saboreando seu nome em minha boca, quase como se fosse uma palavra sagrada e profana. ── Por que parece me evitar? Algo em mim a incomoda?

Houve um instante de hesitação em seus olhos, algo entre o medo e a curiosidade. 

── Não é nada, padre. Eu apenas... estou me adaptando à sua presença.

── Se adaptando? ── Repeti, mantendo meu olhar fixo. ── É difícil de acreditar. Sinto que talvez seja algo além disso.

Eu me abaixei até que nossos rostos estivessem na mesma altura, me inclinando um pouco mais do que o apropriado. 

── Você teme a minha presença?

Ela respirou fundo, um sinal sutil de desconforto, seus lábios abriam e fechavam em busca de respostas. 

── Eu... temo a sua autoridade. Apenas sinto que ainda não o conheço bem...

Eu ri levemente. Até mesmo quando tentava me enganar, ainda parecia ingênua.

── Talvez tenha razão em temer. ── Murmurei, maliciosamente.

Ela me olhou, arregalando os olhos levemente, parecendo se dividir entre o impulso de se levantar e o de permanecer onde estava, tentando entender o que havia em meu tom.

Essa hesitação, sua inocência, incendiava algo intenso dentro de mim. Eu queria ver até onde ela iria, até onde se atreveria.

── Sabe... ── Continuei, meu tom refletindo algo proibido. ── Acho que Deus coloca certas pessoas em nosso caminho com um propósito. E não pude deixar de pensar... 

Ela pareceu prender a respiração enquanto eu me aproximava, seu rosto ficando levemente corado. 

── O que será que ele pretendia ao colocar você em meus caminhos?

── Eu... eu não sei ao que se refere, padre. ── Respondeu, sua expressão séria, levemente assustada.

── Não? ── Eu a observei, encantado. ── Talvez você ainda descubra.

Me levantei, ajustando minha batina, enquanto mantinha os olhos cravados nela, saboreando o nervosismo que a dominava. 

Eu deixei a capela sentindo uma satisfação densa, sombria, sabendo que eu estava apenas no início de algo que prometia ser irresistível e perigoso.









𝐃𝐄𝐕𝐎𝐓𝐈𝐎𝐍, charlie mayhewOnde histórias criam vida. Descubra agora