𝑠𝑎𝑛𝑡𝑎 𝑐𝑢𝑟𝑖𝑜𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
A tarde se arrastava lentamente dentro do convento, e Sarah sentia o peso de um dia exaustivo de trabalho. As freiras haviam sido designadas para uma faxina geral, e ela como sempre, levava suas tarefas a sério.
O cheiro de cera e sabão impregnava o ar enquanto as irmãs se movimentavam de um lado para o outro, limpando cada canto do convento. Sarah já estava cansada, os músculos das pernas doíam e sua cabeça latejava levemente, mas ela se forçava a continuar.
Ela já havia limpado quase todo o convento quando chegou ao corredor dos aposentos. Um suspiro escapou de seus lábios ao perceber que ainda faltava o quarto de Charlie.
Suas mãos estavam suadas e um estranho nervosismo começou a crescer dentro dela à medida que se aproximava da porta.
Desde que ele chegou, algo dentro dela se agitava em sua presença. Algo que ela não compreendia, e talvez nem tentasse compreender.
Ao girar a maçaneta, sentiu uma leve hesitação. A privacidade do espaço, a presença silenciosa de Charlie impregnada em cada canto, tudo ali fazendo seus pensamentos tropeçarem. Ela entrou, fechando a porta atrás de si.
O quarto estava impecável, como se ele fosse meticulosamente organizado, mas Sarah começou a limpar de qualquer forma, querendo ocupar sua mente.
O cheiro amadeirado que enchia o ambiente era suave, mas inebriante, e de repente cada objeto que ela tocava parecia ter a assinatura de Charlie. As roupas bem dobradas, a cama perfeitamente feita, a mesa com papéis e anotações. Tudo ali era ele, e ela não conseguia deixar de notar isso.
Conforme limpava, uma pequena luz prateada chamou sua atenção. Entre as páginas de uma bíblia que repousava na cabeceira, algo brilhava, refletindo uma luz cintilante. Sarah hesitou, seu coração disparando com a curiosidade.
Sabia que não deveria mexer em suas coisas pessoais, especialmente em algo tão sagrado como a bíblia. Mas o que seria aquilo? Seu dedo deslizou pela superfície do livro e antes que percebesse, já estava abrindo as páginas.
Santa curiosidade.
Escondida entre as folhas, havia uma fotografia de Charlie, e algo na expressão juvenil dele prendeu a sua atenção. Ele parecia diferente, mas já com aquele olhar obscuro, como se, mesmo criança, algo sombrio tivesse feito morada em seus olhos. Sarah mal conseguia desviar seu olhar da imagem, perdida em seus pensamentos sobre o que aquele passado guardava.
Seus olhos permaneceram fixos na foto por mais alguns segundos, até que o som inconfundível da maçaneta do banheiro sendo destrancada a fez congelar.
Sua mente correu, mas antes que ela pudesse reagir, a porta se abriu e a figura de Charlie surgiu diante dela.
Ela gelou, incapaz de reagir. Quando levantou o olhar, encontrou Charlie ali, parado na porta do banheiro, vestindo apenas uma toalha na cintura enquanto as gotas de água ainda deslizavam pelo seu peito nu.
Sua respiração ficou presa na garganta, nunca imaginou vê-lo de uma forma tão vulnerável e exposta. Mas havia algo além disso; o modo como ele a observava, a maneira como seu olhar queimava direto sobre ela.
Sarah sentiu o calor subir em seu rosto instantaneamente, seu corpo congelado pela surpresa e vergonha.
── Sarah. ── Sua voz soou baixa e carregada, quase como uma advertência. Ele deu um passo à frente. ── Estava procurando algo?
── Padre... eu... ── Ela engoliu em seco, sem saber o que responder. ── Eu só estava limpando. Não quis... invadir sua privacidade. ── Sarah tentou disfarçar a fotografia, mas ele percebeu.
Charlie arqueou uma sobrancelha, chegando ainda mais perto.
── Curiosidade pode ser uma coisa perigosa, Sarah. ── Ele se aproximou devagar, com uma calma assustadora, os olhos fixos. ── Principalmente em um convento...
Seus olhos estavam escuros, negros. A toalha envolta em sua cintura parecia precária, e Sarah não conseguia evitar que seus olhos desviassem para o seu corpo despido.
── Eu... eu sinto muito, padre. ── Respondeu, desviando o olhar, sentindo seu rosto em chamas. ── Foi um erro. Não vai acontecer de novo.
── É mesmo? ── Ele parou em sua frente, a intensidade daquele olhar sendo o suficiente para que ela quisesse recuar. Estava paralisada, presa por algo que não compreendia.
O som da sua voz era hipnotizante, e a proximidade fez ela sentir algo como um choque. O calor do quarto pareceu aumentar, e seu corpo pedia para ela se afastar, mas permaneceu ali, presa no mesmo lugar.
── Não... não quis ser desrespeitosa. ── Sussurrou, tentando controlar a respiração. ── Estava apenas limpando, padre...
Ele soltou um leve suspiro, como se estivesse avaliando o que fazer, com um leve sorriso nos lábios.
── Mexer no que não pertence a você pode custar caro.
A mente dela gritava para que saísse dali, mas antes que pudesse se mover, ele deu mais um passo. Cada detalhe de seu rosto, cada gota de água que descia por seu peito, a maneira como a toalha caía sobre a pele úmida, tudo parecia ser uma provocação silenciosa.
── Você não acha que deve ser... disciplinada por isso?
Ela engoliu em seco, seu rosto queimando pela vergonha, confusa entre a culpa e algo mais profundo, visceral.
── D-disciplina?
── Sim. ── Ele se inclinou, seu olhar prendendo o dela com firmeza. ── Três dias de oração no altar, onde poderá refletir sobre seus impulsos. E três dias de confissão, comigo.
Sua respiração travou na garganta. Havia algo no tom dele, na maneira como ele pronunciava cada palavra, que tornava aquele castigo algo além de uma punição comum.
Era como se ele quisesse a testar, ver até onde iria, ver se ela teria coragem de questioná-lo.
── Eu... aceito, padre. ── Sua voz saiu trêmula.
Charlie apenas sorriu, um sorriso indecifrável, quase desafiador.
── Ótimo. Espero que esteja pronta para se arrepender verdadeiramente...
Ela assentiu, incapaz de manter o contato visual, mas ao mesmo tempo, sentindo um estranho magnetismo que a fazia querer olhar para ele, entender o que havia de tão proibido naquela presença.
Ele deu um passo para trás, finalmente dando espaço para ela respirar fundo.
── Pode ir agora.
Sarah deixou o quarto com o coração disparado, sentindo-se dividida entre o alívio e um fogo que ela não compreendia.
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𝐃𝐄𝐕𝐎𝐓𝐈𝐎𝐍, charlie mayhew
Fanfiction𝓓𝐄𝐕𝐎𝐓𝐈𝐎𝐍 ♱ onde o sacerdote Charlie Mayhew é convocado para liderar um pequeno convento de uma cidade pequena. O que parecia ser uma missão sagrada e benevolente, se torna uma verdadeira prova de resistência quando seus caminhos se cruz...