𝟏𝟑. ㅤㅤ𝓕𝑨𝑳𝑳𝑬𝑵 𝓐𝑵𝑮𝑬𝑳.

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𝑎𝑛𝑗𝑜 𝑐𝑎𝑖𝑑𝑜 . . .

Eu havia alcançado o que tanto ansiei

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Eu havia alcançado o que tanto ansiei. A noite com Sarah havia me proporcionado uma realização, uma conquista, a minha nova posse. 

Sarah era uma flor intocada, e eu tive o privilégio de ser o seu espinho. Eu havia sido a sombra que ousou tocar sua inocência, aquele que a afastou da pureza que ela tanto preservou. E ao fazer isso, era como se eu também tivesse me revelado para mim mesmo. 

Um ser consumido pelo desejo de possuir, de marcar, de corromper. 

Ela havia sido minha, e eu havia deixado uma parte de mim em sua essência. Algo dentro de mim ria do paradoxo cruel: enquanto eu buscava nela a redenção, eu estava a levando ao mesmo abismo do qual tentava escapar.

Por mais que eu tentasse me concentrar na minha viagem, minha mente continuava voltando ao seu rosto, aos momentos que compartilhamos. Desde a primeira vez que a toquei, soube que nada mais seria o mesmo. 

Ela pareceu renascer sob o meu toque. Vi nela uma dualidade, o retrato de uma mulher que havia se doado à vida religiosa, mas também a paixão latente de alguém que, pela primeira vez, descobria o que era ser desejada, que encontrou em meu olhar, um reflexo desconhecido de si mesma.

Ela havia se tornado parte de mim, e eu a desejava ainda mais.

Enquanto terminava de colocar os últimos itens na mala, ouvi batidas na porta. Me aproximei, esperando encontrar alguém com um recado de última hora, talvez cancelando a viagem, mas era apenas Isabelle. 

Ela se encontrava parada no batente, seu olhar sério, fixo em mim de uma forma quase desafiadora.

── Padre, preciso falar com você. ── Sua voz não era mais leve e descontraída. Havia uma rigidez, uma seriedade que me preocupou.

Pisquei, mantendo a calma. 

── Sobre o que, exatamente? ── Tentei aparentar serenidade, embora meu peito começasse a apertar.

Ela entrou no quarto sem que eu a convidasse, fechando a porta atrás de si. 

O silêncio entre nós pesou.

── Sobre Sarah. ── Suas palavras foram diretas. ── Eu escutei tudo o que aconteceu entre vocês.

O sangue congelou em minhas veias. Fiquei paralisado, a observando. Era como se cada célula do meu corpo tivesse sido engolida pelo choque.

── Eu a segui quando ela veio até o seu quarto... e ouvi o suficiente para saber o que estava acontecendo.

── Isabelle... você deve estar confundindo as coisas. ── Engoli em seco. ── Estava sozinho, não houve ninguém comigo.

Ela estreitou os olhos, desconsiderando minha tentativa. 

── Não! Eu sei o que ouvi, e sei o que você é. ── Ela apontou o polegar em meu peito, enquanto transbordava seu ódio por mim. ── Um projeto de demônio em forma de padre, isso é o que você é!

── Acho que está enganada, irmã... ── Ri, tentando parecer despreocupado, mas minha respiração acelerada falava por mim. ── Estava sozinho no quarto e...

── Não estava. ── Me interrompeu, irredutível. ── Sei o que ouvi, e sei que é algo muito sério.

Naquele momento, percebi que não adiantaria insistir. Eu respirei fundo, tentando controlar a raiva que começava a fervilhar em meu peito. 

Ela já havia formado sua convicção, e o que viesse a seguir poderia nos prejudicar imensamente.

── E o que pretende fazer com essa informação, Isabelle? ── Perguntei, deixando o tom de ameaça vagar em minhas palavras.

Ela desviou o olhar, respirando fundo. 

── Não pretendo dedurar ninguém. ── Respondeu. ── Mas acredito que seria melhor que Sarah fique longe de você.

Suas palavras foram como uma lâmina em meu peito, precisas e letais. Em um momento de desespero, quis arrancá-las do ar, como se não tivessem sido ditas. 

O que Isabelle planejava? Entregaria nossa relação? E o que aconteceria com Sarah se isso ocorresse? 

Uma sensação de perda e impotência tomou conta de mim. Isabelle permaneceu em silêncio, esperando alguma reação minha.

── Longe de mim? ── Respondi, com um sorriso de desdenho. ── Você acha que pode me dizer como conduzir meus relacionamentos?

── Não estou lhe dizendo como conduzir nada, estou lhe aconselhando a partir. Essa missão que o senhor irá, é uma oportunidade.

── E se eu não quiser? ── Comecei a me aproximar, estreitando os olhos. ── O que vai fazer?

Minhas palavras saíram amargas, mas Isabelle não recuou.

── Quanto tempo você acha que levaria para esse caso se espalhar pelo convento? ── Ela cruzou os braços, inabalável. ── Ou chegar até a arquidiocese?

Eu cerrei os punhos, sentindo minha ira prestes a explodir. Estava encurralado, sem alternativas.

── Entenda... Não estou lhe dizendo para ir embora, e sim aconselhando. ── Ela se aproximou, o suficiente para que só nós pudéssemos ouvir. ── Sarah não merece que alguém atrapalhe sua vida.

Depois de suas palavras me atravessarem como uma lâmina, ela se afastou e saiu do quarto, deixando-me sozinho, minha mente processando mais ideias do que eu poderia suportar. 

A ideia de abandonar Sarah, de me afastar, parecia insuportável. Não importava que Isabelle tivesse descoberto, ou que me confrontasse. Eu não a deixaria para trás tão facilmente.

Mesmo que isso significasse tirar Isabelle do nosso caminho.



Quando a noite caiu, minhas malas já estavam prontas, mas antes de partir, eu precisava vê-la uma última vez.

Quando o convento caiu no silêncio, levantei-me, decidido. Caminhei vagarosamente pelos corredores escuros, até chegar à porta do quarto de Sarah. 

Minha respiração estava pesada quando levei a mão à maçaneta, hesitante, mas finalmente a girei, abrindo devagar, para não a acordar.

O quarto estava banhado pela penumbra, e pude ver Sarah repousada, com seus cachos loiros espalhados pelo travesseiro, seu rosto sereno e adormecido. Meu coração apertou de uma forma estranha, quase dolorosa. 

Ela parecia um anjo. Pura, angelical e intocável. E no fundo, sabia que eu era o responsável por sua queda. Agora, o peso de ter a tornado impura, também era uma culpa amarga que me consumia.

Ajoelhei-me ao lado da cama e a observei por um instante, me permitindo memorizar cada detalhe seu. Com um suspiro, me inclinei, aproximando os lábios de sua testa. 

Um beijo suave, breve, minha despedida.







𝐃𝐄𝐕𝐎𝐓𝐈𝐎𝐍, charlie mayhewOnde histórias criam vida. Descubra agora