𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟐: 𝐅𝐎𝐎𝐓𝐒𝐓𝐄𝐏𝐒 𝐈𝐍 𝐓𝐇𝐄 𝐃𝐀𝐑𝐊𝐍𝐄𝐒𝐒

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5 anos atrás
Bath - Inglaterra

2 semanas após o velório

Os dias passaram em um borrão sombrio para Elowen. Após o jantar fatídico, em que ela gritou com todos e fugiu para o refúgio de seu quarto, o silêncio entre ela e seu pai, Alaric, tornou-se quase insuportável. A casa, que antes era cheia de vida, com o som de conversas e risadas, agora estava envolta em um silêncio opressor. Ele não a procurou naquela noite, nem em nenhuma outra. O peso da ausência dele só acentuava o vazio que ela sentia, como se a mansão tivesse se transformado em um túmulo para suas emoções.

Elowen já não via o pai há dias. Era como se ele também tivesse sido enterrado junto com a mãe, mas em um lugar ainda mais inacessível, trancado em sua própria dor. Sem ele, sem a presença de alguém que pudesse compartilhar seu luto, ela se sentia completamente só. A mansão, com suas paredes imponentes e corredores intermináveis, que antes traziam conforto e segurança, agora parecia um lugar desolado, uma sombra do que um dia foi.

Cada dia parecia se arrastar, uma repetição exaustiva do anterior. Elowen mal tinha forças para sair da cama. As cortinas do quarto permaneciam fechadas o tempo todo, bloqueando qualquer vestígio de luz do lado de fora, como se ela estivesse tentando impedir que o mundo continuasse enquanto seu próprio mundo interno estava estagnado na dor. A escuridão do quarto refletia o luto que a envolvia, um manto pesado que parecia sufocá-la mais a cada instante.

Seu corpo começou a mostrar os sinais de seu sofrimento. A pele, antes com um brilho saudável, agora estava pálida, quase translúcida, como se toda a vida tivesse sido drenada dela. Seus olhos, que costumavam brilhar com uma intensidade única, agora estavam fundos e apagados, como janelas de uma casa abandonada. Até mesmo o ato de respirar parecia um esforço. Cada movimento parecia um esforço gigantesco e cada suspiro era um lembrete do fardo que ela carregava. Sua única âncora, seu único alívio, era Adrien.

A comida, trazida pontualmente pelos empregados, era deixada intocada. Bandejas cheias se acumulavam ao lado da cama, as refeições esfriando e sendo substituídas por outras, em uma rotina que ela não conseguia acompanhar. Sua falta de apetite refletia o estado de seu espírito - nada parecia ter sabor ou sentido. Ela não tinha vontade de comer, não tinha vontade de levantar, de continuar. Era como se cada parte de sua vida estivesse parada, congelada naquele momento em que perdeu sua mãe.

À medida que os dias se passavam, Elowen começou a se tornar uma sombra de si mesma. Seus cabelos, que antes eram bem cuidados, agora estavam desgrenhados, caindo desordenadamente sobre os ombros. Sua figura, outrora forte e graciosa, estava ficando magricela, os ossos das mãos e do rosto tornando-se mais visíveis a cada dia. Ela estava desaparecendo, pouco a pouco, sufocada pela tristeza que não conseguia superar.

Cada detalhe de sua rotina, ou a falta dela, era uma marca do luto que a consumia. Ela não conseguia encontrar um motivo para sair do quarto, para enfrentar o mundo lá fora. A vida parecia ter perdido o brilho, e o que restava era apenas um eco vazio de memórias, lembranças de tempos que ela sabia que jamais poderia recuperar.

E enquanto o mundo lá fora continuava a girar, dentro daquele quarto, o tempo para Elowen parecia ter parado completamente. O silêncio que envolvia sua dor era quase palpável, e cada segundo se arrastava, tornando os dias indistinguíveis. O ciclo interminável de solidão, tristeza e luto se repetia, sufocando qualquer esperança de alívio.

Adrien, fiel e incansável, aparecia todos os dias, mesmo quando ela não o chamava. Ele não precisava de um convite; sabia que, naquele momento, Elowen não tinha forças nem para pedir ajuda. O simples fato de ele estar ali já era um consolo. Ele não forçava conversas longas ou profundas, e tampouco exigia que ela compartilhasse o que estava sentindo. Em vez disso, ele oferecia sua presença como um ancoradouro seguro, alguém que ela sabia que não a abandonaria, mesmo quando tudo ao seu redor parecia desmoronar.

Seven hearts in darknessOnde histórias criam vida. Descubra agora