𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟓: 𝐓𝐇𝐄 𝐂𝐎𝐍𝐅𝐑𝐎𝐍𝐓𝐀𝐓𝐈𝐎𝐍

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5 Anos atrás
Bath - Inglaterra

1 mês e meio após o velório.

Os dias passavam devagar para Elowen, mas algo a mantinha inquieta. Desde o funeral da mãe, a casa tinha se tornado um lugar sombrio, pesada com o luto. O vazio deixado por Catherine parecia ecoar pelos corredores, como um silêncio sufocante que Elowen não conseguia preencher. No entanto, havia algo a mais que estava corroendo seu espírito. Nos últimos três dias, o comportamento de seu pai havia mudado drasticamente. Ela o observava à distância, sem saber ao certo como reagir ao que estava acontecendo diante de seus olhos.

Toda tarde, ele saía sempre nos mesmos horários, meticulosamente, como se seguisse uma rotina calculada. Quando voltava, já era noite, mas nunca estava sozinho. Uma mulher desconhecida o acompanhava, sempre ao seu lado, e eles cruzavam a porta da frente com uma intimidade que a deixava desconfortável. Elowen se escondia nas sombras do corredor, espreitando enquanto eles trocavam sussurros que pareciam carregados de algo além de palavras — sussurros que cortavam o silêncio da casa, penetrando seu coração como pequenas facadas. Eles riam suavemente, cúmplices, um som abafado que contrastava com o luto profundo que ainda pairava sobre o lugar.

Quando os passos do casal ecoavam pela escada que levava ao andar de cima, Elowen sentia o peito se apertar. Era como se cada passo para o quarto principal fosse uma traição. Eles se trancavam lá, atrás da porta que um dia pertencia aos seus pais, e o silêncio que se seguia era mais pesado do que o habitual. A casa, que já parecia tão vazia, agora estava dividida entre o luto e aquela nova presença, que invadia seus espaços como uma sombra intrusa.

Ela se via sozinha, cada vez mais isolada, mergulhada em pensamentos agitados. Como ele podia fazer isso? Era a pergunta que martelava em sua mente, noite após noite. Não havia explicação lógica para o que ela estava vendo. O pai, sempre tão reservado após a morte de Catherine, agora parecia outra pessoa. O sorriso, que antes se mostrava de maneira tão esporádica, agora surgia com facilidade quando a mulher estava por perto. Era um sorriso diferente, um que Elowen não conseguia reconhecer — um sorriso que a incomodava profundamente. Era cedo demais. A mãe dela ainda parecia presente em cada canto da casa, nas fotos que ainda estavam nas paredes, nos pertences que continuavam no quarto, e até nos detalhes das flores que Catherine tanto amava, agora murchando nos vasos. Cada pedacinho da casa ainda gritava a presença de sua mãe, como se ela ainda estivesse ali, viva, mesmo após a morte.

A mente de Elowen se recusava a aceitar. Como ele podia agir assim, tão rápido? Três dias de idas e vindas, e cada noite o padrão se repetia. A mulher chegava, passava a noite, e quando a madrugada caía, ela partia tão silenciosamente quanto tinha chegado. Era como se evaporasse no ar antes que o sol nascesse, e na manhã seguinte, o pai descia para o café sozinho, como se nada tivesse acontecido. Ele agia com uma normalidade quase desconcertante, como se aquela mulher não tivesse estado ali na noite anterior, como se Catherine nunca tivesse existido. Aquela rotina insuportável estava a corroendo por dentro. A raiva, antes apenas um incômodo sutil, crescia a cada dia, como uma tempestade se formando dentro dela. E com essa raiva, vinha a confusão. Elowen sentia-se traída por ele, mas ao mesmo tempo, não sabia como confrontá-lo. Era como se sua vida tivesse se tornado uma mentira que ela não sabia como desmascarar.

No terceiro dia, Elowen não conseguiu mais segurar. Assim que ouviu a porta da frente fechar suavemente após a partida da mulher, a tensão que ela vinha acumulando chegou a um ponto insuportável. Ela desceu as escadas com passos firmes, embora seu coração estivesse acelerado. O corredor parecia mais longo do que nunca, o peso de sua decisão pressionando seus ombros. O pai estava na cozinha, preparando o café da manhã com a mesma indiferença de sempre. Era como se ele estivesse blindado ao caos emocional que estava acontecendo ao seu redor. Como ele podia ser tão indiferente?

Seven hearts in darknessOnde histórias criam vida. Descubra agora