𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟏𝟑: 𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓 𝐎𝐅 𝐏𝐔𝐍𝐈𝐒𝐇𝐌𝐄𝐍𝐓

26 8 1
                                    

Bath - Inglaterra.

Três semanas haviam se passado desde que Elowen começou seu castigo, e cada dia parecia pior que o anterior. A rotina imposta por Morgana era brutal, cruel em sua repetição implacável. A cada amanhecer, antes mesmo que o sol se erguesse por completo, Elowen já estava de pé, com o corpo enfraquecido, mas forçado a continuar. A mansão, imensa e opressiva, tornava-se seu campo de batalha, onde cada cômodo era uma nova tortura. O silêncio era quebrado apenas pelo som dos seus passos arrastados e o raspar da escova contra o chão.

A ordem de Morgana era clara: nenhum dos empregados deveria ajudá-la. A cada dia, Elowen os via passar por ela, os olhares desviados ou, pior, cheios de pena, mas ninguém ousava se opor à madrasta. Ela estava sozinha. Com o passar do tempo, o peso dessa solidão tornou-se tão esmagador quanto o trabalho físico. A casa parecia maior, mais fria, como se as paredes tivessem se distanciado, isolando-a em um vazio que ampliava seu cansaço e desespero.

Elowen trabalhava de sol a sol, sem pausas. Começava pelos andares superiores, descendo até os salões principais, limpando cada canto, cada fresta. A tarefa mais cruel, no entanto, era esfregar o chão de mármore. Morgana, com seu olhar predatório, havia ordenado que Elowen fizesse o trabalho com uma escova de lavar roupas, uma ferramenta destinada a humilhar e causar dor. O mármore, frio e duro, era implacável contra os joelhos e as mãos da jovem. No início, seus dedos, ainda suaves, inchavam e ardiam com o esforço repetitivo. Mas, com o tempo, a pele começou a rachar, os dedos, uma vez delicados, agora estavam formando calos grossos, doloridos, machucados e cobertos de pequenos cortes. As unhas estavam desgastadas, muitas vezes com sangue seco acumulado ao redor das cutículas e as juntas de seus dedos mal conseguiam se dobrar de tanto esforço.

As palmas de suas mãos, que um dia foram macias e delicadas, agora estavam marcadas por feridas que ardiam ao menor toque da água com sabão. Ela podia sentir a ardência cada vez que pressionava a escova contra o chão, mas a dor física tornara-se quase um conforto, algo tangível que a distraía da humilhação de sua situação. A cada escovada, Elowen tentava não pensar no vazio que crescia dentro dela, no abandono que sentia por parte do pai.

Os dias misturavam-se em um ciclo de dor e exaustão. Ao final de cada jornada, Elowen mal conseguia se manter de pé. Quando finalmente se arrastava até seu quarto, o corpo todo latejava, como se a própria casa tivesse extraído todas as suas forças. Suas roupas, agora folgadas no corpo, eram uma lembrança de como ela havia emagrecido, de como seu apetite sumira. Estava sempre tão cansada, tão exausta, que a ideia de comer parecia um fardo impossível de carregar. Muitas vezes, ela caía na cama sem sequer olhar para a comida deixada para ela. O sono, embora inquieto, era sua única fuga da realidade que Morgana e Alaric haviam construído para ela.

O pior de tudo era a indiferença de Alaric. Ele passava por ela todos os dias, ocasionalmente cruzando os mesmos corredores ou entrando nos salões onde Elowen estava de joelhos, com as mãos feridas e o rosto suado. Seus olhos encontravam os dele, buscando algum sinal de preocupação, de carinho, mas tudo o que via era frieza. Alaric parecia ter se transformado em uma estátua, impassível, como se a jovem que ele tanto prometera proteger não fosse mais sua filha. A cada olhar vazio que ele lhe lançava, Elowen sentia um pedaço de si desmoronar.

O sofrimento dela parecia invisível para ele. Cada vez que seus dedos se entrelaçavam na escova, cada vez que seu corpo cansado tombava de exaustão, ela rezava para que ele percebesse, para que, de alguma forma, ele enxergasse o que estava acontecendo. Mas os dias se arrastavam e Alaric continuava distante, envolto na teia de Morgana, enquanto Elowen afundava mais e mais no vazio de sua própria dor.

As semanas continuavam a se arrastar, e com elas, Elowen se sentia cada vez mais irreconhecível. A dor física já não era o único peso que carregava; o vazio que sentia dentro de si estava crescendo, consumindo sua esperança pouco a pouco. O pai parecia ter desaparecido da sua vida, embora passasse por ela todos os dias, sua presença era apenas uma sombra do homem que ela conhecia. E Morgana... Morgana parecia se deleitar com cada novo sofrimento que Elowen enfrentava.

Seven hearts in darknessOnde histórias criam vida. Descubra agora