Seven hearts in darkness

𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟗: 𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐄𝐃𝐃𝐈𝐍𝐆

4 anos atrás
Bath - Inglaterra

1 ano após o velório.

O sol brilhava alto no céu, suas luzes douradas reluzindo sobre as copas das árvores e banhando o jardim em um brilho quase sobrenatural. Tudo ao redor parecia meticulosamente calculado para ser perfeito. Os arbustos aparados, as flores dispostas em fileiras harmoniosas, cada detalhe do cenário refletia uma organização que contrastava com o caos dentro de Elowen. Ela conseguia ver o altar, adornado com rosas brancas e laços de seda, destacando-se entre as árvores como um símbolo imponente do que estava por vir.

Sentada em frente à janela de seu quarto, Elowen observava tudo com olhos vazios. O movimento lá fora, os risos abafados dos convidados que chegavam, as últimas preparações... nada disso parecia realmente tocar sua consciência. Era como se ela estivesse presa entre duas realidades, observando de longe, sem realmente fazer parte de nenhuma delas. Uma das empregadas estava ajoelhada ao seu lado, ajustando com delicadeza o tecido do vestido que Elowen fora obrigada a vestir. Seus dedos ágeis trabalhavam nas camadas de seda, tentando com gestos gentis suavizar a rigidez do momento. A cada ajuste, ela murmurava palavras de encorajamento, na esperança de acalmar o coração da jovem.

⸻ Vai ser um lindo dia, senhorita Elowen. Sua mãe ficaria orgulhosa de vê-la tão bonita — disse a empregada, sua voz suave e reconfortante.

Mas aquelas palavras, embora bem-intencionadas, pareciam longínquas, ecoando no vazio que Elowen sentia. Ela mal conseguia processar o que estava sendo dito, como se estivesse ouvindo tudo através de um espesso véu de indiferença. A dor era muito mais forte, mais real. As flores que Catherine tanto amava estavam espalhadas por todo o jardim, mas, para Elowen, cada pétala era um lembrete do quanto tudo havia mudado. O peso do luto, que ela ainda carregava em seu peito, parecia ser ignorado por todos ao seu redor.

O casamento de seu pai com Morgana estava marcado para aquela tarde. A cerimônia não deveria acontecer tão cedo — não para Elowen. Um ano. Só havia se passado um ano desde que sua mãe, Catherine, havia morrido. Como podiam seguir em frente tão rápido? Para Elowen, o luto ainda era uma presença viva, uma sombra constante que a acompanhava desde aquele dia fatídico.

Ela pressionou a testa contra o vidro da janela, sentindo o frio do vidro contrastar com o calor abafado da sala. "Já faz um ano." Aquelas palavras ecoaram em sua mente enquanto observava os preparativos com um nó na garganta. Cada sorriso dos convidados, cada riso distante, parecia um insulto à memória de sua mãe.

⸻ Vai ficar tudo bem, senhorita. — repetiu a mulher, com um sorriso suave, enquanto passava os dedos pelos cabelos da jovem, ajustando-os com cuidado. Seu toque era delicado, mas firme, como se, de alguma forma, quisesse ancorá-la à realidade. ⸻ É um belo dia. Todos estão ansiosos pela cerimônia.

"Ansiosos." A palavra reverberou na mente de Elowen, cheia de uma ironia amarga. Ela observava os convidados — amigos e familiares — chegando, vestidos em suas melhores roupas, os rostos iluminados por sorrisos descontraídos, como se aquele fosse um dia de celebração e alegria. Para eles, talvez fosse. Mas para Elowen, nada fazia sentido. Como podiam estar tão felizes? Como podiam continuar suas vidas como se a morte de Catherine fosse apenas um capítulo encerrado, uma lembrança distante?

Seu olhar se perdeu entre as flores brancas que decoravam o jardim, aquelas mesmas flores que sua mãe amava tanto. Catherine passava horas ali, cuidando de cada planta com uma paciência que Elowen sempre admirara. Era como se, naquele pequeno pedaço de terra, sua mãe tivesse criado um santuário para elas, um lugar onde podiam estar juntas, rindo e compartilhando momentos simples. E agora, aquele mesmo jardim, com suas flores e cores vibrantes, se tornaria o cenário de algo que Elowen jamais poderia aceitar.