𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟒: 𝐒𝐈𝐋𝐄𝐍𝐂𝐄𝐒 𝐓𝐇𝐀𝐓 𝐒𝐏𝐄𝐀𝐊

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5 anos atrás
Bath - Inglaterra

1 mês e meio após o velório.

Os dias começaram a mudar lentamente para Elowen, como uma brisa leve que afastava, aos poucos, o nevoeiro pesado do luto. O vazio ainda estava lá, preso no fundo do peito, uma presença constante e sufocante, mas ela estava tentando seguir em frente. As manhãs, que antes pareciam intermináveis, agora eram preenchidas com pequenos gestos de esforço. Já não ficava o dia inteiro na cama, encarando o teto com olhos vazios, e a comida, antes um fardo impossível de suportar, começava a ser consumida em pequenas porções. Cada garfada ainda trazia um nó na garganta, como se mastigar e engolir fossem atos que exigiam uma força absurda. No entanto, Elowen se obrigava a continuar. Ela sabia que, de algum modo, sua mãe gostaria que ela estivesse bem, que não se entregasse à dor completamente.

As mudanças eram quase imperceptíveis, mas estavam lá. As olheiras sob seus olhos continuavam profundas, o rosto ainda magro e pálido, mas a sombra de uma força interna começava a surgir. O peso da perda não havia diminuído, mas Elowen encontrava momentos de breves respirações entre os dias de escuridão.

Uma das primeiras coisas que voltou a fazer foi caminhar pelo jardim. As pequenas voltas que dava ao redor da mansão eram mais uma fuga do que uma busca por alívio. O jardim, o refúgio verde que sua mãe tanto amava, era agora um lugar de consolo silencioso e dor crua. Cada flor parecia contar uma história da presença de Catherine, cada pétala lembrando-a dos momentos felizes que compartilharam ali. O cheiro das rosas, o toque suave das folhas ao vento, tudo era um lembrete do quanto sua mãe amava aquele lugar.

A cada passo, seus olhos se fixavam nas flores que Catherine havia cultivado com tanto carinho. Os lírios brancos, as rosas amarelas, as magnólias... tudo ali parecia tão vivo, enquanto ela se sentia desmoronando por dentro. Era impossível não sentir a dor perfurante que acompanhava cada memória de sua mãe. Involuntariamente, as lágrimas caiam, como se o próprio jardim estivesse chorando com ela.

Houve dias em que Elowen se obrigava a ir mais longe, a andar mais tempo, como se desafiar seu corpo a continuar fosse uma forma de afastar o sofrimento. A caminhada trazia um tipo de exaustão física que era bem-vinda, pois, por alguns momentos, essa exaustão abafava a dor emocional. Mesmo assim, havia dias em que, ao se aproximar das flores que Catherine mais gostava, o peso no coração era esmagador, e ela se via dobrada em lágrimas, ajoelhada ao lado de um canteiro de flores, incapaz de suportar o turbilhão de sentimentos que lhe assolava.

Mas ela continuava. Mesmo entre as lágrimas, ela continuava caminhando, dia após dia. Ela sabia que precisava, que a vida não parava mesmo quando tudo ao seu redor parecia estar desmoronando.

Adrien, como sempre, estava presente. Mesmo que houvesse algo não resolvido entre eles, ele continuava aparecendo, respeitando o espaço dela, mas sem nunca deixá-la sozinha. O beijo que compartilharam, no entanto, pairava no ar como uma tempestade prestes a estourar. Nenhum dos dois mencionava o que havia acontecido, mas o silêncio entre eles se tornara mais pesado, mais sufocante. O que antes era uma presença reconfortante, agora estava impregnado de uma tensão que Elowen mal conseguia suportar.

Em uma tarde, após uma de suas longas caminhadas pelo jardim, Elowen voltou ao seu quarto e, ao abrir a porta, encontrou Adrien à sua espera. Ele estava sentado no peitoril da janela, os olhos perdidos no horizonte, o corpo relaxado, mas havia algo em sua postura que parecia sugerir inquietação. Assim que a viu entrar, ele se levantou rapidamente, quase nervoso, como se não soubesse exatamente como agir. O olhar cauteloso que ele lhe lançou deixou claro que ele estava esperando por algo — talvez por uma palavra, uma explicação ou até uma confrontação.

Seven hearts in darknessOnde histórias criam vida. Descubra agora