Seven hearts in darkness

𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟏𝟐: 𝐏𝐔𝐍𝐈𝐒𝐇𝐌𝐄𝐍𝐓𝐒 𝐀𝐍𝐃 𝐈𝐍𝐅𝐋𝐔𝐄𝐍𝐂𝐄𝐒

Bath - Inglaterra.

Dois dias haviam se passado desde o aniversário de Elowen, mas o clima dentro da casa estava mais frio e tenso do que nunca. Alaric, seu pai, não trocara uma única palavra com ela desde aquela noite. As lembranças daquele dia se misturavam com uma tristeza pesada e a crescente sensação de abandono. Elowen passava pelos corredores da casa, que antes eram acolhedores, mas agora pareciam vazios e opressivos. As sombras das janelas projetavam-se longas e frias, e o eco dos passos de Alaric no andar superior era um lembrete constante de sua distância.

Cada tentativa de aproximar-se do pai para uma explicação ela era recebida com portas fechadas e olhares evitados. O silêncio dele era como uma punição invisível, um castigo que doía mais do que qualquer bronca. Elowen sentia o peso de uma culpa que nem sabia se merecia. Enquanto isso, Morgana parecia deslizar pela casa como uma presença constante e maliciosa, sempre à espreita. O vestido justo da madrasta balançava suavemente enquanto ela se movia, seus olhos brilhavam com um certo prazer maligno toda vez que encontrava o olhar abatido de Elowen. Seu sorriso era uma adaga oculta, cada curva nos lábios pintados com a promessa de mais dor.

Naquela manhã, o ar no jardim estava fresco, mas pesado. Elowen, procurando uma fuga do ambiente sufocante da casa, havia se refugiado entre as plantas. O sol se infiltrava timidamente entre as folhas, criando padrões dançantes no chão, mas mesmo a beleza do jardim parecia desbotada. A natureza, que antes trazia paz e serenidade, agora era apenas mais um lembrete do isolamento que ela sentia.

Ela se ajoelhou no meio das flores, deixando que as mãos acariciassem suavemente as pétalas macias das rosas que sua mãe tanto amava. Mas até isso parecia diferente. A saudade da mãe, Catherine, tornou-se quase insuportável. Cada flor, cada cor no jardim lembrava-lhe da falta que sua mãe fazia. O jardim, que antes era o refúgio delas duas, agora parecia mais um lugar de fantasmas e memórias dolorosas.

Enquanto se forçava a cuidar das plantas, uma enxurrada de pensamentos tomava conta de sua mente. Ela tentava se agarrar às boas lembranças que tinha de Adrien naquela noite. Seus sorrisos cúmplices enquanto escapavam da festa, os beijos trocados sob o céu estrelado. Eles haviam se isolado da festa barulhenta e fútil, criando seu próprio mundo, ainda que por algumas horas. Longe das exigências de Morgana, dos olhares de Alaric, eles eram apenas dois jovens compartilhando algo puro e bonito. Mas agora, tudo aquilo parecia tão distante. Aqueles momentos que antes eram doces agora vinham carregados de incerteza e uma sensação amarga de que algo estava prestes a desmoronar.

Seu peito apertou. Algo estava diferente. Algo estava errado. Era como se uma nuvem densa estivesse se aproximando, trazendo consigo tempestades. O olhar distante e a frieza de seu pai, a presença constante e insidiosa de Morgana... Elowen sabia que algo estava por vir, algo que ela não poderia controlar. Um confronto. Uma punição.

Uma brisa suave passou pelo jardim, levantando os fios soltos de seu cabelo, como se a própria natureza estivesse tentando acalmá-la. Elowen fechou os olhos por um breve momento, buscando nas profundezas de si mesma alguma paz. A terra úmida entre seus dedos e o som tranquilo da água sendo despejada nas plantas deveriam ter sido suficientes para aliviar seu coração aflito, mas a sensação de que algo estava para acontecer se recusava a ir embora.

Ela sabia que o silêncio de seu pai, Alaric, era apenas o prelúdio para algo maior. Quanto mais ele evitava a filha, mais o medo e a angústia cresciam dentro dela. O que ele pensava? Estaria decepcionado, furioso ou algo pior? A cada passo dado pela casa, a presença fantasmagórica dele parecia acompanhá-la, como uma sombra pesada.

Enquanto regava algumas plantas, perdida em seus pensamentos, ouviu o som de passos leves se aproximando. Seu corpo imediatamente enrijeceu, e ela sentiu um frio na espinha antes mesmo de se virar. Morgana.