*Capítulo Revisado*
O frio da manhã me traz ainda mais sono, lembrando-me do porquê de estar acordada tão cedo, o que me irrita com meu amado pai e mais uma de suas invenções, que por algum motivo não me traz uma sensação boa. De alguma forma, sinto que há algo errado e obscuro por trás disso.
Principalmente por estar sendo arrumada como uma prostituta pela minha madrinha Aziza, governante das ninfas e, basicamente, minha mãe de criação. Nunca tive amor ou uma referência materna além dela. Minha mãe me deixou nos braços do meu pai quando nasci, e ele basicamente me entregou para Aziza, já que suas obrigações como General do nosso "rei" nunca permitiram que ele fosse presente na minha vida.
Depois do meu 7º aniversário, sua presença não era mais tão importante a ponto de me fazer chorar ou ficar com febre. Az sempre me levava ao belíssimo jardim de seu reino, onde eu podia me sentir como qualquer uma das crianças dali, em sua maioria meninas.
A terra é tão diferente daqui. A diferença entre a floresta onde Az vive e a de cá é assustadora. A ¹ Δάσος των φωτισμένων é cheia de luz e vida, com sorrisos e risadas por todos os cantos, além do cheiro de perfume e rosas por todo lado. Já a ² Το δάσος των πονεμένων é vazia, sem vida, apenas com almas aflitas presas aos seus troncos, assim como outras criaturas horrendas que cheiram a enxofre, como todo o ambiente.
Não posso reclamar daqui, pelo menos não da minha casa, que fica em um dos compartimentos do enorme palácio que se estende por boa parte do submundo. Não conheço a pobreza de alguns mortais ou o sofrimento das almas deles, presas aqui por seus piores pecados. Mas, em contrapartida, não tenho liberdade total desde o início da minha adolescência. Segundo meu pai, já estou na idade em que os homens vão colocar seus olhos perversos em mim, com más intenções. Mal sabe ele que não tenho pureza em meu corpo há muito tempo, desde que vi Apolo na floresta, em uma das visitas que fiz a Aziza. Mas essa é uma história para outro momento.
— Ai! — Aziza me acerta um peteleco, chamando minha atenção.
— Onde estava com a cabeça? Estou te chamando há um tempo! Você cortou seu cabelo de novo? Você sabe o que seu pai pensa sobre isso! — Aziza termina de prender meu cabelo em um coque rodeado por tranças e uma tiara de prata com algumas pedras de ametista, como a maioria das minhas joias, feitas por um amigo de minha madrinha. Se não me engano, o nome dele é Hefesto.
— Não cortei muito! Ainda está batendo nas minhas nádegas. É exagero da sua parte e da do meu pai essa necessidade de manter meu cabelo tão longo. Estamos no verão, é incômodo! Aliás, estou chateada com você, Aziza. Somos confidentes em tudo, e você não quer me contar o que meu pai está tramando desta vez! — Me encaro no espelho, observando como meu rosto continua o mesmo de anos atrás, como se estivesse congelado no tempo, assim como Aziza, que parece sempre ter uns 20 e poucos anos, mesmo tendo mais de 100. É uma dádiva das ninfas e dos deuses. Sou grata à minha mãe por essa bênção, pois as criaturas originais daqui não são nada agradáveis.
— O cabelo é o maior símbolo de feminilidade da mulher. Sem ele, toda essa beleza nesse rostinho lindo se vai. Acredite, minha querida, homens imortais só se casam com mulheres belas ao ponto de dar dor nos olhos. Não é à toa que Poseidon te quer como dele! — Aziza abre a porta, me dando passagem.
Sua fala me lembra das inúmeras vezes que Poseidon, o rei dos mares, tentou convencer meu pai a me dar como esposa ou das vezes que tentou me tomar à força. Mas, graças a Zeus, não teve sucesso! Porém, sua obsessão por mim ao longo dos anos só aumenta, o que, no fundo, só me faz desprezá-lo cada vez mais e sentir nojo de suas atitudes.
— Olha, ter um homem como Poseidon atrás de mim, ao meu ver, nunca será algo bom. Não pretendo ser mais uma de suas vítimas, como Medusa! — Observo a direção em que estamos andando, percebendo que se trata da sala do trono, o que me dá calafrios.
Nunca tive contato direto com Hades. Seu modo discreto e reservado com qualquer um que não seja seus funcionários de confiança ou a rainha Perséfone faz dele uma figura distante. Nas poucas vezes em que encontrei Perséfone, ela se mostrou gentil e doce, bem diferente do marido que, apesar de justo, sempre se mostrou frio e cruel em suas ações, o que já presenciei em relação às almas que vêm parar aqui, causando-me, no fundo, um pouco de medo.
— Pobre mulher. Enfim, silêncio! Vamos entrar na presença de Hades! — Aziza me puxa para dentro do enorme salão, onde as portas são abertas por alguns guardas.
Entro pela primeira vez na sala do trono, deslumbrada com seu tamanho e beleza, semelhante aos templos humanos abandonados de arquitetura gótica. A diferença é que a decoração é toda em vermelho e preto, combinando com o restante das paredes cinzas do castelo.
Observo a sala, com algumas garotas, talvez umas cinco, todas bem arrumadas como verdadeiras princesas. Ao observá-las com mais atenção, percebo que são pequenas, entre 1,50 m e 1,60 m, confirmando que são mortais, já que nenhum ser daqui ou da superfície tem menos que 1,70 m, que é a altura de Aziza, considerada pequena para sua espécie.
Aziza me puxa, fazendo-me ficar próxima a elas, de frente para Hades, que mantém sua expressão fechada, observando cada uma de nós com cautela e de forma minuciosa, como uma avaliação. Sinto-me um pouco perdida e confusa. Não sou princesa, nem tenho um título importante, e nem sei o porquê disso. Aliás, onde está a rainha? Tenho certeza de que ela não gostaria muito disso.
Procuro por meu pai e Aziza, que me observam à distância. Aziza com seu sorriso reconfortante e meu pai com sua carranca de sempre. Poucas vezes o vi sorrir ou parecer feliz.
As garotas são eliminadas uma a uma, restando somente eu. Mantenho-me parada no lugar, sem ousar me aproximar como as outras fizeram. Não me sinto bem ou confortável. O olhar do Rei parece lançar um peso invisível sobre mim, me impedindo de encará-lo diretamente.
— Gabriel! Aproxime-se e traga sua filha até mim, ela parece ter perdido os movimentos das pernas. Não tenho o dia todo! — Ouço sua voz grossa e potente ecoar pelo salão, fazendo-me finalmente olhá-lo nos olhos, dando alguns passos antes que meu pai possa me alcançar e me puxar com toda sua brutalidade e força.
— Estou aqui, majestade. O que deseja? — Digo em voz baixa, tentando obter alguma resposta de seus olhos frios e mortos, que me examinam de cima a baixo.
— Vejo que seu pai não te contou por que está aqui, mas serei breve. Minha esposa se foi, e preciso de uma nova rainha. Gabriel implorou para que você fosse uma das candidatas e, pelo que vejo, meu general acertou na recomendação. Você é bela e uma criatura nativa daqui! — Hades exclama de forma fria e monótona.
Sinto meu coração disparar diante do desespero que toma conta de mim. Ser esposa de um homem como Hades? Possessivo, frio e psicopata? É literalmente se tornar cativa dentro da própria casa e até mesmo golpear a si mesma.
— Majestade, não quero ofendê-lo, mas já tenho alguém! — Tento pensar rápido e o nome de Apolo me vem à mente. — Aliás, ele é Apolo, filho de Zeus... — Sou interrompida por um tapa vindo de meu pai, que me encara com fúria no olhar.
— Pobre moça, mais uma vítima das ilusões do iluminado! — Hades dá um sorriso sarcástico pela primeira vez, enquanto se aproxima. — Não te contaram? Perséfone foi embora justamente para viver com ele. Você não passou de mais uma com quem ele se deitou. Mas agora isso não importa! Você é minha a partir de hoje! — Hades agarra meu queixo, me obrigando a olhar em seus olhos, agora vermelhos.
— Majestade, isso quer dizer que haverá casamento? — Ouço a voz de meu pai às minhas costas, mas não consigo me virar para olhá-lo ou dizer algo. Prefiro me manter calada e firme. Não posso demonstrar que tal humilhação me abalou.
— Sim, levem-na até os meus aposentos. Depois acertaremos o restante das coisas! — Hades solta meu queixo, abaixando-se à altura da minha orelha e sussurrando uma breve ameaça.
— Seu inferno pessoal acaba de começar!
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A Maldição Do Olimpo
RomanceE se as histórias dos Deuses do Olimpo não fossem como nos contaram? Se tudo o que sabemos sobre os romances, traições, brigas e guerras fosse apenas a ponta do iceberg? Mentiras, traições, amor e ódio, andando lado a lado. Lhe apresento uma históri...