II

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*Capítulo Revisado*

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*Capítulo Revisado*

A primeira noite se passou, e eu mal consegui pregar os olhos. Me senti acuada, como um bicho caçado e encontrado. Hades não me fez nenhum mal, nem sequer me tocou. Segundo ele, não seria injusto comigo, já que ele e a rainha só tiveram relações após o casamento, e quando ela se sentiu pronta. Tenho certeza de que seu plano é me tornar uma cópia dela, o que seria um plano sem cabimento e impossível, eu diria. Não sou, nem serei, metade do que Perséfone foi aqui. Aliás, nem quero. Não desejo parecer ou ser como uma pessoa sem confiança e, muito menos, traidora. Apesar de Hades ser uma parede de mármore, era nítido em seu olhar que havia amor. Além do mais, ele sempre fez todos os desejos e caprichos dela. Ele não merecia tal traição e abandono; ninguém merece, na verdade.

Observo o sol avermelhado nascer em seu esplendor. Mesmo sendo o submundo, temos o nosso próprio "céu", com o sol e a lua, diferentes da superfície, mas, ainda assim, com seu brilho. Os raios solares daqui não afetam ninguém, nem sequer cegam, como Apolo e seu poder fazem com qualquer mortal que ouse olhar ou ficar exposto demais à sua presença.

A lembrança da primeira vez que nos vimos vem à minha mente, juntamente com a lembrança da nossa primeira vez. A sensação sempre foi a mesma: me senti livre, feliz como nunca antes. A cada beijo ou gemido, um sorriso disfarçado aparecia, como se minha alma se libertasse aos poucos. O gosto de cereja do seu beijo, assim como a firmeza de seus braços me abraçando, enquanto dizia que eu seria sua para sempre.

"Que piada! Não posso aceitar que fui tão burra ao acreditar em um iluminado que mal tive tempo de conhecer!"

Sinto uma pequena dor no peito, como a picada de algum inseto — uma formiga, eu diria. Lágrimas começam a descer enquanto um pequeno ardor se instala em minha garganta. A sensação de um coração partido é uma das piores possíveis, principalmente quando ela se junta à dor do abandono e da troca.

"Eu não fui o suficiente? Se ele não me queria para sempre, por que mentiu dizendo o contrário?"

— Amestista! — As mãos de Hades me abraçam por trás, me dando um baita susto.
— Oi? — Limpo as lágrimas rapidamente antes de me virar para encará-lo.
— Te chamei e não obtive resposta. Se está pensando no seu maldito iluminado, esqueça quem já te esqueceu. Aliás, acho que sequer se lembrou da sua existência! Quero você pronta em uma hora. Precisamos ver alguns preparativos — Hades se afasta, adentrando o banheiro.

Fico sem reação. Qual o problema dele? Me atacar com palavras duras não vai trazer sua rainha de volta, nem reverter sua situação deprimente, escondida atrás de sua carranca! Compreendo seu sofrimento, mas estamos no mesmo barco, e não vou aceitar que ele me trate como um saco de esterco, simplesmente porque tive o azar de me envolver com o homem por quem sua esposa se apaixonou. Se ele está com dor de cornos, que desconte no casal dos traidores e não em mim!

Entro no banheiro, onde ele repousa completamente nu na banheira repleta de espuma. Seus olhos fechados indicam relaxamento.

— Não quero atrapalhar seu banho, mas exijo respeito. Não estou diminuindo ou menosprezando a sua dor, mas estou sofrendo também! Já basta estar sendo obrigada a casar contra a minha vontade, não mereço ser tratada como um mero objeto! — Me aproximo da borda da banheira, já que não obtenho nenhuma resposta.

"Ele dormiu assim tão rápido? Ou simplesmente está me ignorando?"

— Majestade? — Cutuco seu braço, sendo surpreendida por sua mão gelada, que agarra meu pulso com força. Não o suficiente para machucar, mas o bastante para não me deixar escapar.

— Seu pai disse que sua língua é afiada, mas não achei que fosse tanto! Quer respeito? Prove que você o merece! — Hades me puxa para dentro da banheira, me colocando embaixo dele.

Meu coração erra as batidas, enquanto meu corpo se arrepia por inteiro. O contato da água fria com o calor dos nossos corpos, seu rosto tão próximo do meu, aumenta minha imaginação a níveis absurdos. Não estou com medo, mas sim curiosa até onde ele pode ir.

Sua mão esquerda puxa minha cintura, colando nossos corpos, enquanto a direita agarra meu cabelo, sem me dar chance de fugir do seu beijo, que começa de forma lenta e calma, mas logo se torna agressivo e possessivo. Eu o empurro e lhe dou um tapa no rosto.

O silêncio se instala de forma assustadora, me fazendo encolher no canto da banheira. Sei o que está por vir: uma sessão de pancadas ou algo assim. Meu pai é assim, e como qualquer homem, Hades não será diferente.

Meu coração acelera, fazendo meu peito subir e descer, enquanto Hades permanece quieto, com a mão no lugar onde bati. Seus olhos demonstram ódio, e isso me faz começar a tremer e agarrar os joelhos.

Hades se aproxima, e eu enfio a cabeça entre os joelhos. Proteger o rosto é importante; qualquer outra parte ainda dá para esconder dos olhares maldosos e linguarudos.

— Está tremendo? Se tem tanto medo assim, não devia ter feito isso. Mas não se preocupe, não sou covarde a ponto de encostar um dedo sequer em uma mulher! Apenas suma daqui e não dirija a palavra a mim pelo resto do dia — Hades toca meu cabelo e logo se afasta.

Aproveito a deixa e saio correndo do banheiro e do quarto, que, por incrível que pareça, está destrancado. Corro o mais longe possível. Não posso confiar cem por cento na sua palavra. Não o conheço, e muito menos tenho boas memórias das poucas vezes em que vi suas ações. Mesmo que não adianta fugir, manter distância por enquanto é uma ótima opção.

Não queria começar esse casamento de forma negativa. Não que eu vá me entregar de corpo e alma ou me apaixonar perdidamente por Hades, mas talvez tentar uma boa convivência. Ser inimiga do Deus do Submundo não é uma boa ideia, principalmente pela frieza e falta de piedade em suas atitudes. Hades não tem mais seu coração; qualquer resquício de amor ou bondade se foi junto com Perséfone.

A Maldição Do OlimpoOnde histórias criam vida. Descubra agora