IV- All too well

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"E talvez tenhamos nos perdido na tradução
Talvez eu tenha pedido por muito
Mas talvez esse lance fosse uma obra de arte
Até você a arruinar por inteira
Correndo assustada, eu estava lá
Eu lembro de tudo muito bem"

All too well- Taylor swift

Eliza acordou naquela manhã com uma sensação de inquietação que parecia pesar no ar. O sol da manhã entrava suavemente pela janela do quarto da casa de praia, mas mesmo a luz dourada não conseguia iluminar o nó que ela sentia no estômago. O reencontro com Ravi no dia anterior tinha sido muito mais difícil do que imaginara. Dez anos tinham se passado, mas ainda assim, a ferida da última briga parecia aberta, crua.

Ela passou alguns minutos em silêncio, deitada na cama, ouvindo o som das ondas quebrando na praia. A lembrança do Ravi mais jovem, o garoto com quem ela costumava rir, compartilhar segredos e, sem nunca admitir, amar em silêncio, contrastava cruelmente com o homem frio e distante que ela havia encontrado. O tempo não só os separara, mas também os endurecera.

Levantando-se devagar, ela vestiu algo simples e desceu até a cozinha. No caminho, passou pelos antigos retratos de verões passados pendurados nas paredes da casa. O sorriso jovem e despreocupado dela e de Ravi olhava para ela, como um lembrete de uma época mais simples. Agora, aquelas memórias pareciam parte de outra vida.

Ao chegar à cozinha, encontrou Ravi sentado à mesa com uma xícara de café à sua frente, o olhar fixo no horizonte além da janela. Ele não parecia perceber sua presença de imediato. O ar entre eles estava pesado, como se ambos soubessem que algo precisava ser resolvido, mas nenhum dos dois estivesse disposto a dar o primeiro passo.

— Bom dia — Eliza disse, tentando soar natural, embora sua voz estivesse ligeiramente trêmula.

Ravi levantou os olhos por um breve momento, mas seu rosto permaneceu impassível.

— Bom dia — ele respondeu de forma curta, como se as palavras fossem uma obrigação.

O silêncio se alongou entre eles, e Eliza sentiu a necessidade urgente de quebrá-lo. Cada segundo em que eles não falavam parecia um passo mais fundo no abismo que os separava.

— O que você acha de vermos algumas das questões da casa hoje? — ela sugeriu, tentando parecer casual. — Podemos começar a planejar o que fazer.

Ravi tomou um gole de café antes de responder, sem emoção.

— Claro. Temos que resolver isso de qualquer maneira.

As palavras dele eram tão frias quanto o vento que soprava do mar. Eliza sentiu uma pontada de desconforto, como se estivesse falando com um estranho. Onde estava o Ravi que costumava ser seu melhor amigo, aquele com quem ela compartilhava os detalhes mais profundos da sua vida?

Horas mais tarde, eles saíram para encontrar alguns antigos conhecidos da cidade que poderiam ajudar com as reformas. Eliza não se sentia completamente à vontade, mas sabia que precisava manter a compostura. Porém, nada poderia prepará-la para o que estava prestes a acontecer.

Ao chegarem ao pequeno café onde haviam combinado de se encontrar com alguns amigos de Ravi, Eliza logo sentiu o ambiente mudar. Ravi parecia relaxar na presença deles, como se o peso que ele carregava entre eles dois não existisse naquele círculo. Ele sorriu, riu, e por um momento, ela teve um vislumbre do garoto que ele fora, mas era uma visão dolorosa, porque não era com ela que ele se abria assim.

Eles se sentaram em uma mesa no fundo, e as conversas logo começaram. Inicialmente, Eliza tentou se integrar ao grupo, rindo ocasionalmente de alguma piada, mas sua desconexão com o que acontecia à sua volta era palpável. Ela era a única ali que não parecia pertencer àquele mundo. E então, veio o momento que mudou tudo.

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