XI- WindFlower

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"Eu o vejo no fundo da minha mente
O tempo todo
Parece uma febre
Como se eu estivesse queimando viva
ao lado dele
Eu ultrapassei o limite?"

WindFlower - Billie Eilish

A casa de praia estava envolta em um silêncio pesado. A única coisa que preenchia o ambiente era o som da chuva batendo ritmicamente contra as janelas, uma batida suave e constante, como um lembrete do que havia acontecido na noite anterior. Eliza estava sentada à mesa da cozinha, seus olhos fixos na xícara de café fria em suas mãos, mas sua mente estava longe. O café havia esfriado, assim como a esperança de que aquilo tudo não passava de um pesadelo. Mas não era.

Ela estava acordada. A lembrança do toque indesejado de Ryan, o medo que havia percorrido seu corpo, e a expressão furiosa de Ravi ao vê-la chorar estavam gravados em sua mente como marcas indeléveis. A cada vez que fechava os olhos, via o rosto de Ryan se aproximando, sentia a força da pressão dele contra ela, e sua mente a torturava com a pergunta incessante: "Por que eu não vi isso chegando? O que eu fiz de errado?"

Eliza apertou a xícara com mais força, tentando afastar os pensamentos, mas eles eram persistentes. Sua cabeça estava uma confusão de emoções, e a única coisa que conseguia ouvir claramente era a voz interna que insistia em culpá-la.

A rosa vermelha sobre a mesa capturou seu olhar. Ela não sabia ao certo quanto tempo havia se passado desde que havia descido e visto a nota deixada por Ravi. Algo simples, como sempre: "Fui resolver algumas coisas na cidade. Descanse, você precisa." O toque dele estava em todos os pequenos gestos – a rosa, o café. Ele sempre sabia o que ela precisava, mesmo quando ela não sabia como pedir.

Mas hoje, nenhum desses gestos parecia ser suficiente para apagar a dor e a culpa que estavam corroendo sua alma. Ela se levantou da mesa, sentindo-se inquieta, e começou a andar de um lado para o outro pela cozinha. Cada passo parecia mais pesado que o anterior.

— Eu deveria ter percebido antes... — murmurou, as palavras se perdendo no ar vazio. — Como não vi o que estava acontecendo?

A voz era apenas um sussurro, mas ecoava em sua mente como uma acusação constante. Ela parou em frente à janela, observando as gotas de chuva que escorriam pelo vidro, sentindo-se tão frágil quanto aquelas gotas, caindo sem controle, sem direção.

Os pensamentos se tornaram insuportáveis, e ela precisou sair dali. Pegou o casaco pendurado perto da porta e, mesmo sabendo que estava chovendo, saiu da casa e começou a andar pela praia. A areia molhada afundava sob seus pés, e a chuva fria pingava em seu rosto, misturando-se com as lágrimas que teimavam em cair.

Ela andava sem rumo, o som das ondas quebrando ao longe era seu único companheiro. "Eu deveria ter feito algo diferente... deveria ter sido mais cuidadosa..." Ela pensava, e, a cada passo, as perguntas ficavam mais cruéis.

Eliza se afastava cada vez mais da casa, da segurança de Ravi, do conforto que ele sempre trazia, mas parecia que não havia como fugir dos próprios pensamentos.

— Você é uma idiota, Eliza — disse a si mesma em voz alta, parando abruptamente. — Como você pode ter sido tão burra? Como não viu o que estava acontecendo?

Ela abraçou a si mesma, como se estivesse tentando se proteger de uma dor que vinha de dentro, mais devastadora do que qualquer tempestade lá fora.

Enquanto isso, Ravi estava na cidade, mas sua mente permanecia presa no que havia acontecido na noite anterior. Ele sabia que havia lidado com Ryan de forma instintiva, furioso pelo que o homem havia feito a Eliza, mas o que o preocupava mais agora era como ela estava lidando com tudo. Ele conhecia Eliza o suficiente para saber que ela provavelmente estava se culpando, tentando encontrar alguma razão para justificar as ações de Ryan. E isso o deixava louco.

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