VIII- somewhere only we know

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"Eu estou ficando velho
E preciso de alguma coisa para me apoiar
Então me fala quando você vai me deixar entrar
Eu estou ficando cansado
E preciso de algum lugar para começar"

Somewhere only we know - Keane

O sol nascia devagar no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, o som das ondas quebrando suavemente na areia. Eliza acordou cedo, seu corpo ainda se recuperando da leve ressaca da noite anterior. A noite das garotas havia sido mais divertida do que ela esperava. Christina, como sempre, conseguia extrair uma leveza de qualquer situação, e até Ravi, que mantinha seu comportamento frio e contido, relaxou um pouco na companhia delas.

Eliza estava feliz com o progresso que havia feito com Ravi nas últimas semanas, mas havia algo que ainda a deixava inquieta. Ele podia ser carinhoso em um momento, até doce, mas logo se fechava novamente, como se uma barreira invisível o impedisse de se entregar completamente àquilo que eles estavam construindo. A cada vez que essa barreira surgia, Eliza sentia uma ponta de frustração, mas também um medo crescente – medo de que, talvez, Ravi nunca a deixasse entrar de verdade.

Ainda de pijama, ela observava a luz suave entrando pelas cortinas do quarto. Christina estava esparramada na cama ao lado, dormindo profundamente. As risadas e provocações da noite anterior ainda ecoavam na cabeça de Eliza, mas agora, no silêncio do amanhecer, sua mente estava um caos.

"Preciso de um tempo sozinha," pensou.

Eliza trocou de roupa rapidamente, vestindo um short jeans desbotado e uma camiseta simples, e saiu em direção à praia. O ar salgado preenchia seus pulmões, e a brisa suave que vinha do oceano acalmava um pouco o turbilhão de emoções que girava em sua mente. Caminhar sempre a ajudava a organizar seus pensamentos.

Enquanto seus pés afundavam na areia úmida, ela revivia os momentos da noite anterior. Christina havia sido um suporte essencial, como sempre. A relação entre elas era algo constante e seguro, diferente da montanha-russa emocional que era sua relação com Ravi. Na festa das garotas, as provocações de Christina sobre Eliza e Ravi haviam sido recebidas com risos e um certo constrangimento, mas agora, sozinha, Eliza começou a perceber o quanto aquelas brincadeiras tocavam em algo mais profundo. O que, afinal, ela realmente queria com Ravi? E o que ele queria com ela?

Seu olhar se perdeu no horizonte, onde o mar se encontrava com o céu. O vai e vem das ondas parecia refletir o que ela sentia por Ravi – momentos de calmaria e conexão, seguidos por uma súbita e inexplicável distância. Por que ele fazia isso? O que havia de tão assustador para ele em simplesmente se abrir e deixar que as coisas fluíssem?

Esses pensamentos a acompanhavam enquanto seus pés a levavam automaticamente em direção à parte mais tranquila da praia, onde poucas pessoas costumavam caminhar nas primeiras horas da manhã. Foi quando, ao longe, ela viu uma figura familiar. Seu coração deu um salto inesperado.

"Não pode ser..."

Ryan.

Ele caminhava descalço pela areia, os cabelos castanhos jogados para trás pelo vento, a mesma postura confiante que ela conhecia tão bem. Eliza parou, hesitante, observando-o por um momento. Seu ex-namorado. O primeiro cara que realmente havia mexido com ela de uma forma profunda. Ele não era apenas um rosto do passado, mas uma lembrança viva de quem ela era antes de Ravi. Um tempo em que as coisas pareciam mais simples, mas talvez menos intensas.

Por que ele estava aqui?

Sem pensar muito, Eliza começou a caminhar na direção dele, seu coração batendo mais forte a cada passo. Quando Ryan a notou, um sorriso abriu-se em seu rosto, aquele sorriso fácil que sempre a deixava um pouco desconcertada. Ele levantou a mão em um aceno casual.

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