V- Me, Myself and I

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"Eu não preciso de nada para passar a noite
Exceto a batida que está no meu coração
Sim, isso está me mantendo vivo
Eu não preciso de nada para me satisfazer
Porque a música me preenche e isso me surpreende toda vez"

Me, myself and I- G Eazy, Bebe Rexha

Dois dias se passaram desde a briga, mas o peso das palavras ditas ainda pairava no ar. Eliza acordou com o sol invadindo o quarto, inundando o espaço com uma luz dourada. O cheiro salgado da brisa marinha que entrava pelas janelas abertas lhe trazia uma sensação de nostalgia. Tinha sonhado com momentos passados, aqueles dias simples em que ela e Ravi eram inseparáveis, em que o silêncio entre eles era confortável, e não cheio de tensão como agora.

Vestiu-se lentamente, a cabeça ainda um pouco confusa pelos sentimentos emaranhados. Desceu as escadas da casa de praia, os passos suaves ecoando no piso de madeira envelhecida. Ravi já estava na cozinha, o cheiro de café fresco enchia o ambiente. Ele parecia diferente naquela manhã – não havia a mesma frieza que ela vinha sentindo nos últimos dias. Algo em sua postura parecia mais relaxado.

— Bom dia — disse ele, oferecendo-lhe um sorriso suave, algo que há tempos Eliza não via.

— Bom dia — ela respondeu, surpresa pela mudança em seu tom.

— Fiz café. — Ele empurrou uma xícara para o lado da mesa onde ela costumava sentar. — Ainda gosto de café forte, mas fiz um pouco mais fraco pra você. Lembro que nunca curtiu muito café amargo.

Ela ficou momentaneamente sem palavras. Esse pequeno gesto de consideração mexeu com ela mais do que deveria. Era como um vislumbre do Ravi que ela conhecia – o amigo cuidadoso, gentil e atencioso, que parecia ter se perdido em algum lugar no meio de todas as confusões do passado.

— Obrigada — respondeu, pegando a xícara. Sentiu o calor do líquido em suas mãos, mas foi o calor daquele pequeno ato que realmente aqueceu seu coração.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, cada um imerso em seus próprios pensamentos, até que Ravi quebrou a quietude.

— Vai ter uma festa hoje à noite, no centro da cidade — ele disse, casualmente, mas com um toque de hesitação. — Alguns amigos meus estarão lá. Pensei que... talvez você quisesse ir.

Eliza ergueu o olhar para ele, surpresa pelo convite.

— Não sei se uma festa é o que eu preciso agora... — murmurou, meio indecisa.

— Você está na casa de praia. Acho que uma noite para relaxar e se divertir não vai fazer mal. — Ele deu um meio sorriso, aquele sorriso que costumava fazer seu coração bater mais rápido.

Ela sabia que ele tinha razão. Talvez precisasse mesmo de um momento de distração, de algo que a tirasse da tensão dos últimos dias.

— Tudo bem. Acho que vou aceitar o convite — ela disse, tentando sorrir.

Ravi assentiu, um brilho quase imperceptível de alívio cruzando seu olhar. Ele estava tentando, e ela reconheceu isso.

Quando a noite chegou, a cidade já pulsava com a energia da festa. Luzes coloridas piscavam nas ruas, a música ecoava pelas esquinas, e o riso das pessoas preenchia o ar. Ravi e Eliza caminharam lado a lado até o local, um silêncio confortável entre eles. Não havia a mesma tensão de antes, mas também não havia a mesma cumplicidade de outrora. Ainda assim, algo estava mudando.

A festa estava lotada. Grupos de amigos riam, dançavam, e conversavam animadamente. O ambiente vibrava com a alegria despreocupada típica de uma noite de verão. Eliza se sentiu um pouco deslocada no começo, mas Ravi parecia à vontade, cumprimentando velhos conhecidos.

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