XII - Daddy Issues

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"Vá em frente e chore, garotinha
Ninguém faz isso como você
Eu sei o quanto é importante para você
Eu sei que você tem problemas com seus pais"

Daddy issues - the neighbourhood

O som suave do vento passando pelas cortinas era a única coisa que preenchia o silêncio no quarto de Eliza naquela manhã. Ela estava acordada, mas ainda deitada, os olhos fixos no teto, pensando no turbilhão de emoções que tinham tomado conta de sua vida nos últimos dias. A imagem de Ryan tentando forçá-la ainda assombrava sua mente, mas o que a deixava igualmente confusa era Ravi. Ele tinha sido tão cuidadoso, tão protetor, que ela não conseguia parar de pensar na intensidade das palavras dele.

Sentada na cama, Eliza respirou fundo e passou as mãos pelo rosto, tentando se preparar para mais um dia. Ela sentia que havia muito a processar, muito a resolver, mas estava determinada a enfrentar tudo com calma. O aroma de café vindo da cozinha indicava que Ravi já estava acordado, mas antes que ela pudesse sair do quarto, uma batida inesperada ecoou pela casa.

— Quem será tão cedo? — murmurou Eliza, franzindo a testa enquanto se levantava.

Ainda vestida com o pijama, ela caminhou até a porta, hesitante. Quando abriu, sentiu o chão se mover sob seus pés. Seus pais, Alexia e Miguel, estavam parados ali, com expressões de desdém e indiferença, como se tivessem sido tirados de um quadro de lembranças amargas que ela preferia esquecer.

— Mãe? Pai? — A surpresa escapou de seus lábios, e por um momento ela se sentiu como uma adolescente novamente, pequena e indefesa diante deles.

Alexia, como sempre, lançou-lhe um olhar crítico, vasculhando cada detalhe de sua aparência. Seus olhos pareciam perfurar Eliza, indo direto ao ponto mais frágil, como se estivessem prontos para encontrar algo a criticar. Ela não decepcionou.

— Olha só para você, Eliza. — A voz de Alexia cortou o ar como uma lâmina afiada. — É assim que você anda por aí? De pijama à essa hora? Isso é jeito de receber alguém?

Eliza se sentiu imediatamente invadida por aquele sentimento familiar de inadequação, algo que ela sempre tentava evitar quando estava com os pais. Tentou respirar fundo e manter a calma, mas o olhar de julgamento de Alexia era sufocante.

— Eu... não estava esperando vocês — disse Eliza, afastando-se da porta para que eles pudessem entrar. — Podiam ter avisado.

— Avisar? — Miguel finalmente falou, sua voz carregada de desprezo enquanto ele entrava na casa. — Avisar nossa própria filha que a visitamos? Francamente, Eliza, que tipo de filha você se tornou?

O estômago de Eliza se revirou. O sentimento de inadequação crescia cada vez mais, e ela sabia que o dia seria longo. Fechou a porta atrás deles, tentando manter o controle de si mesma, mas sabia que cada palavra deles a atingiria com mais força do que gostaria.

Os pais de Eliza se sentaram no sofá como se fossem donos do lugar, enquanto ela permaneceu de pé, ainda processando a súbita aparição. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouviu passos vindos do corredor. Ravi apareceu na sala, ainda com o cabelo ligeiramente bagunçado e uma expressão de surpresa no rosto. Ele, diferente de Eliza, parecia mais à vontade com a situação.

— Bom dia — Ravi disse, se dirigindo a Alexia e Miguel. — Não sabia que tínhamos visitas.

Alexia lançou um olhar afiado para ele, mas depois se voltou para Eliza, com uma sobrancelha arqueada.

— Ah, sim, claro. Você tem um homem morando aqui, é? — O tom ácido na voz de Alexia não deixou dúvidas sobre suas insinuações. — Vocês dois... estão juntos, não é?

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