𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐈𝐈

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O garoto moreno ficou por um momento encarando Manigold, até que sua tutora chamou sua atenção.

— Kaiser! — a mulher gritou, assustando o menino. — O algodão, por favor. — Kaiser rapidamente pegou o objeto e o entregou a ela.

Manigold, ainda observando o garoto, teria ido até ele, mas uma enfermeira o puxou para um banco, começando a tratar de seus ferimentos. Em algum momento, ele acabou perdendo Kaiser e a mulher de vista, mas não se importou, afinal, agora ele sabia onde encontrá-lo.

— Kaiser... — murmurou para si mesmo enquanto saía do local com alguns curativos no rosto.

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No dia seguinte, Manigold descia novamente até o coliseu. Os mesmos garotos de ontem estavam treinando entre si, mas ao verem o azulado, rapidamente abandonaram o local. Ele não se importou, afinal, a pessoa com quem ele realmente queria lutar não estava ali.

Determinado, Manigold correu pelos cantos do santuário até chegar à unidade médica. Entrou de fininho, evitando chamar a atenção, e passou por várias salas onde cuidadores tratavam dos feridos. Contudo, não encontrou sinal de Kaiser.
— Por que ele estaria aqui? — Manigold se perguntou. — Será que se machucou e está ajudando por isso?

Depois de vasculhar o local inteiro e não encontrar o garoto, ele suspirou, prestes a desistir. No entanto, ao virar o corredor, esbarrou em alguém.

— Ai! Olha por onde anda, porra! — reclamou Manigold, massageando a testa.

— Você nem deveria estar correndo em um lugar como esse! — a voz irritada fez Manigold erguer a cabeça rapidamente. Era Kaiser, o garoto que ele tanto procurava.

— É você! Kaiser, né? Finalmente te encontrei. Quero lutar contigo! — Manigold elevou a voz e apontou o dedo para o rosto de Kaiser, que franziu o cenho, claramente irritado, e bateu na mão do azulado.

— Não posso lutar. E para de gritar ou vamos levar uma bronca. — disse Kaiser, mantendo a voz baixa.

— Está com medo, é? Não vou deixar aquela luta passar em branco. Quero revanche. — Manigold cruzou os braços, o orgulho evidente na expressão.

— Não tenho medo. Eu só não posso lutar agora. Ou você está com o orgulho ferido, garotinho mimado? — provocou Kaiser, rindo de Manigold.

— Cala a boca! Eu poderia quebrar sua cara agora mesmo. Ontem foi só um momento de fraqueza, mais nada! — Manigold retrucou, convencido de suas palavras.

Kaiser riu, zombando da tentativa de justificativa do outro.

— Ah, claro. Vou fingir que acredito. Está todo convencido só porque o Grande Mestre te trouxe aqui? Me poupe.

— Exatamente! Sou discípulo dele, e você não deve me subestimar. Quem te trouxe aqui? Um guarda qualquer?

— Eu não sou discípulo de ninguém. E nem deveria ter lutado ontem. Se soubesse que você ficaria correndo atrás de mim como um cachorrinho, teria evitado! — Kaiser respondeu, claramente irritado, cerrando os punhos.

— Se não pode lutar, por que estava no nosso meio ontem? Você tem algum problema, por acaso? — Manigold perguntou, levantando uma sobrancelha.

— Não, idiota! — Kaiser revirou os olhos. — Eu fui trazido para cá para ser um médico. Minha tutora não gosta que eu me envolva nessas lutas inúteis.

— Que perda de tempo! Por que não troca de mestre e treina com alguém que valorize seu potencial? — Manigold insistiu.

— Eu não posso. Serena, a mulher que cuida de mim, me trouxe aqui para isso. E eu não vou desobedecê-la.

Manigold fez uma careta de desagrado, afastando-se.

— Que chatice! É um desperdício te deixar preso aqui. Você seria útil na guerra... — Ele murmurou a última parte, mas Kaiser ouviu.

— Eu não vou contra Serena. Ela cuida de mim desde sempre, e não vou desrespeitá-la. — Kaiser virou-se para ir embora, mas Manigold o puxou pelo cabelo, arrastando-o para fora.

Kaiser se soltou e deu um chute na canela de Manigold.

— Você é muito chato! — gritou, tentando manter a calma.

— E você é um medroso! Você fugiu dela ontem para lutar, por que não faz isso de novo?

— Vamos fazer assim: eu luto com você, mas se eu ganhar, você para de me encher o saco. Se você ganhar, eu faço o que você pedir. — Kaiser propôs.

Manigold sorriu, animado com a oferta.

— Ótimo! Se você perder, vai se ajoelhar e pedir desculpas! — Kaiser franziu o cenho com nojo.

— Que criança você é! Tem quantos anos, quatro? — Manigold revirou os olhos, pegou Kaiser pelo braço e o arrastou para um local isolado.

Depois de longos minutos caminhando, chegaram a um campo aberto cheio de flores, onde o sol poente criava um cenário dourado. Manigold soltou a mão de Kaiser e se posicionou para lutar. Kaiser entendeu e fez o mesmo.

A luta foi intensa. Ambos se golpeavam com precisão e velocidade, mas já estavam exaustos. No fim, acertaram um soco simultâneo no rosto um do outro e caíram sobre a grama, ofegantes, rindo da situação.

— Eu te subestimei... Achei que ia quebrar sua cara fácil. — disse Manigold, ainda ofegante.

— Eu também pensei o mesmo sobre você. Um empate? — Kaiser sugeriu.

— Até poderia, mas meu orgulho não deixaria. Um dia eu vou cobrar isso. — Manigold ofereceu a mão para ajudar Kaiser a se levantar, que aceitou com um sorriso.

— Se não fizer aquele show todo de novo, quem sabe eu aceite rápido. — Kaiser brincou, dando um soco leve no ombro de Manigold.

Os dois começaram a caminhar de volta para o santuário, conversando animadamente, como se a luta feroz de minutos atrás não tivesse acontecido.

Parece que, naquele dia, uma grande amizade havia começado.

𝐂𝐚𝐦𝐢𝐧𝐡𝐨𝐬 𝐄𝐧𝐭𝐫𝐞𝐥𝐚𝐜̧𝐚𝐝𝐨𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora