O momento em que se sentaram passou sem registro. Kurt nem ao menos percebeu quando abaixou a cabeça e adormeceu. Mas quando dedos rasparam atrás de sua cabeça, aquilo enviou uma sensação aterrorizante. Ele acordou assustado de um pesadelo. Assombrado por Antony Young, Monaco, Carter e P.J., todos fundidos no mesmo monstro de 4 cabeças em seu sonho. Seu corpo despertou num solavanco brusco, como se estivesse caindo. Ele se debateu e empurrou, até que bateu em algo sólido, mas macio.
— Ei, ei... calma. Sou eu — Nash cochichou, ajeitando o braço que estava ao seu redor.
Kurt abriu os olhos inchados para ver o dia amanhecendo, o sol se erguendo timidamente no horizonte. Ainda estava sobre o telhado, meio sentado, meio agachado no chão, as costas descansando contra a parede do abrigo da caixa d'água. Sua cabeça se inclinava no ombro de Nash. Kurt se levantou depressa quando percebeu. A jaqueta dobrada de Nash deslizou, caindo, e ele percebeu mais tarde que Nash teve o cuidado de colocá-la debaixo de sua cabeça, para que ele tivesse algo macio para descansar.
Houve uma troca sem graça de olhares. Kurt recolheu o casaco, bateu no lado que caiu no chão para limpar e entregou de volta, se esforçando no limite para não se encolher de vergonha. Mal podia acreditar que tinha obrigado Nash a passar a madrugada ali fora, no concreto duro e desconfortável, assistindo ao seu choro incontrolável. Ao menos agora ele se sentia vazio, como se tivesse esgotado o reservatório de lágrimas para sempre de novo. Ao mesmo tempo que isso era uma vantagem, também parecia ser o problema: a sensação de vazio era uma dualidade árdua.
— Eu estava mais cansado do que pensei — as palavras escorregaram, sem jeito. — Você ficou aqui o tempo todo?
— Você se apoiou em mim e apagou. Eu não queria atrapalhar — Nash disse, com uma voz grave que desceu reverberando pelo peito de Kurt.
O suspiro que Kurt deu saiu trêmulo.
— Me desculpe, de verdade. — Ele pediu, segurando as próprias mãos. As finas cascas que se formavam sobre os cortes e arranhões já eram perceptíveis, ásperas ao toque.
Nash balançou a cabeça, para tranquilizá-lo. Um feixe de sol incidiu sobre seu rosto, transformando seus olhos verdes em dois faróis apontados para Kurt. Ele esticou a mão e correu a ponta dos dedos pelo lado amassado do cabelo de Kurt, ajeitando os fios rebeldes para baixo e atrás da orelha. Não era algo tão importante, mas Nash tinha uma mania discreta de constantemente buscar desculpas para tocá-lo. E Kurt já tinha percebido.
— Há quanto tempo você não dorme? — Nash sussurrou.
— Bastante — Kurt deixou escapar com o ar.
A mão desceu de volta, o deixando, e o calor começou a desbotar rápido.
— Você sabe que pode conversar sobre qualquer coisa comigo — Nash disse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Colisão [2ª edição 2024]
General FictionVENCEDOR DO WATTY AWARDS 2018 NA CATEGORIA CRIADORES DE MUDANÇAS Para Kurt Young, a vida sempre foi dura. Mas o ruim conseguiu se tornar pior desde que ele saiu de casa com o carro que roubou do pai. Longe do subúrbio onde foi criado, ele se arrisco...