Fada

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Hoje vocês vão saber o que aconteceu com alguns dos personagens dessa história...

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Não havia um aluno no Ensino Fundamental II do Colégio Ponto Verde que não gostasse da professora Lírio de Lemos, que ministrava as aulas de português

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Não havia um aluno no Ensino Fundamental II do Colégio Ponto Verde que não gostasse da professora Lírio de Lemos, que ministrava as aulas de português.

Com 24 anos, era a mais nova do corpo docente, e a que obtinha as melhores aprovações e resultados.

Suas aulas de Português tinham ampla participação dos alunos, e ela usava os livros apenas como guias: incentivava a escrita dos alunos e a partir dos textos produzidos por eles, iniciava suas considerações sobre o tema da aula.

Outras vezes, para o deleite das turmas, usava alguma referência da internet – um meme, um post bem-humorado, para construir suas observações.

Certa feita, ela mostrou para a turma, em uma projeção na sala, a imagem de uma participante de reality show e um trecho de música em cima. Os meninos, do nono ano, reconheceram no ato tanto a participante quanto a música, e começaram a cantar alto.

- Parabéns! – a jovem sorriu, batendo palmas. – Estão afinados, já posso pedir uma máquina de karaokê para a sala.

- Sério, Lírio? – perguntou um dos alunos.

- Quando eu não falo sério por aqui? – sorriu. A turma comemorou, punhos levantados, todos comemorando. – Acalmem-se, calma... Sentem-se...

A voz modulada, gentil, de Lírio, mesmo em um volume mais alto, foi capaz de fazer até a turma do fundão se calar.

- Mas eu só vou trazer o karaokê se toda a turma passar neste bimestre. Não quero ninguém perdendo em Português.

- Oxe, pró, vou brocar essa unidade!

- Pode botá meu dez aê, Lírio!

- Mas antes, hora de destrinchar esses versos... E me explicar quem rima com quem aqui... "Caso do acaso bem marcado em cartas de tarô / Meu amor, esse amor / De cartas claras sobre a mesa, é assim / Signo do destino / Que surpresa ele nos preparou, oh oh / Meu amor, nosso amor / Estava escrito nas estrelas"

Mas o que ela gostava mesmo era do uso da literatura nas aulas. Muito cautelosa – e cuidadosa – com os livros escolhidos como paradidáticos, Lírio buscava construir uma atmosfera de imersão. De sonho.

Como se os alunos entrassem no livro, à moda Lírio.

- Pró, a gente tá fazendo o que aqui? – o grupo de 18 alunos do oitavo ano, muitos deles de óculos escuros por conta do sol, outros meio incertos em tirar fotos da fachada do Mercado Modelo com os celulares, foi representado em sua dúvida por Kelvin, que segurava o livro paradidático daquele bimestre.

- Hoje vamos passear pelos locais onde Quincas Berro D'Água caminhou.

Lírio, que milagrosamente conseguia levar o grupo de alunos sem o apoio de outro docente, apenas contava com o motorista da van alugada para deslocamento, seguia atrás dos adolescentes, a única adulta no espaço, e que acabava chamando a atenção de todos por um motivo distinto: seu caminhar tranquilo, a voz melodiosa, modulada, feito uma canção de ninar, o longo vestido rosa-claro com rosas azuis, num tom pastel, e as alças em formato de flores, a sandália rasteira que ninguém conseguia ver, mas ela parecia flutuar pelo chão do mercado; os cabelos em uma trança única, penteada para trás, presa por uma presilha em formato de rosa, parecia uma versão moderna de "Rapunzel".

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