Uma mulher caminhava lentamente pelo jardim dos fundos de sua residência. Eram passos frágeis, não mais leves como outrora, que seguiam outros, mais leves e rápidos, por causa da idade dessa segunda pessoa que a acompanhava.
- Filha, tenha calma, sua mãe não pode correr atrás de você...
- Desculpa, mamãe! – a voz dela era pequena, finíssima feito a música de um passarinho, e todas as vezes que ela falava, a força que ela não mais possuía ressurgia para dar um ligeiro pulsão de vida para a mulher.
Contudo, ela sabia que não tinha tanto tempo com sua filha. A mais linda flor do seu jardim.
- As flores estão aqui, mamãe! Os lírios! Estão com as pétalas aparecendo!
A mulher se sentou em um banco, encostando o corpo no recosto da cadeira de metal, e respirou com dificuldade. Cada tentativa de sorrir era dolorosa, mas fingiria estar bem por sua filha. Apenas por sua filha.
Não tinha mais o amor do marido – ela sabia, os afetos dele vinham sendo destinadas a outras há muito tempo. Seu filho mais velho não queria conviver com a mãe – já não era mais um adolescente, mas havia uma distância entre os dois que ela nunca conseguiu atinar bem a razão. Era como se ele se ressentisse da existência da própria mãe.
Mas a vida foi bondosa com ela. Sua filha era o sopro de liberdade, uma linda flor que amava a vida tal como ela. Amava as flores, os pássaros, tinha uma luz impossível de ser apagada.
- Viu, mamãe? Os lírios!
- Sim... Lindos, tão belos quanto você.
A menina, que devia ter entre sete e oito anos, se aproximou da mulher, ignorando que estava sentada na grama do jardim, a terra sujando o vestido branquíssimo, e subiu no banco, intencionando abraçar sua mãe.
- Eu me chamo "Lírio" por causa das flores, mamãe?
- Sim... A flor mais pura e mais bela do jardim. Seja sempre como um lírio, minha florzinha. Nunca, jamais esconda suas pétalas.
Entre os prédios antigos do bairro da Graça, no percurso entre o Corredor da Vitória e a Avenida Euclides da Cunha, havia uma casa envolta por árvores antigas, e dois jardins - um na frente e outro nos fundos da residência, cuidado por duas pessoas.
Vivaldo, o jardineiro da família; e a caçula do dono da residência.
Antes, os cuidados do jardim eram da primeira esposa do auditor fiscal Amadeu Vieira, de nome Amarílis.
Após a morte de Amarílis, Vivaldo foi contratado para manter a beleza do jardim, mas logo se viu dividindo as atividades com a filha mais nova de Amadeu, a jovem Lírio, que desde criança gostava de mexer com a terra, e conhecia o suficiente das flores para dividir suas opiniões sobre elas com o experiente jardineiro.
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Lírio
RomansaRegistrado no SafeCreative: 2409119379508 A professora Lírio é querida por todos os alunos do Fundamental II de um colégio localizado em um bairro popular de Salvador. Gentil, doce e apaixonada por livros, ao mesmo tempo que tem o dom de educar, é t...