Histórias que ninguém conta

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Ramiro Pimentel já enfrentou reuniões difíceis, negociações impossíveis. Todos conheciam sua habilidade de convencimento tanto como publicitário quanto na posição de gestor.

Porém, nada poderia prepará-lo para um dos enfrentamentos mais complexos que se tinha notícia.

Adolescentes de 13 e 14 anos.

E olha que ele tinha sobrinhos com aquela idade, filhos de seus primos.

- Sai daqui que a gente vai colocar nos Stories!

- Vou fazer exposed!

- Manda pro zap, Pati!

- Meninos, calma! – Lírio ergueu as mãos, tentando tranquilizar os estudantes. – Esse rapaz vai para casa e não precisam fazer denúncias ou exposed, certo?

Ela conversava com os alunos, mas seu olhar estava direcionado a Ramiro. A professora não queria a presença dele por ali, e deixava suas intenções bem claras.

- Certo? – ela foi mais firme, aquele provavelmente sendo seu tom mais professoral, imaginou Ramiro.

Precisou capitular, mas daria um jeito de conversar com Lírio outra vez.

No entanto, a distância entre os dois, tão diminuta, tão próxima às dos sonhos, finalmente valeu a pena para algo.

Os sonhos não se aproximavam em nada da realidade.

Ele conseguia sentir mais perto o frescor do perfume, notar os detalhes da curvatura dos cabelos, soltos naquela manhã, longos a um tamanho que ele não conseguia mensurar, mas que pareciam perfeitos – seus dedos tamborilavam a própria coxa a fim de evitar que ele tomasse uma decisão impulsiva.

Os traços do rosto dela, desenhados a pincel, feito um quadro, uma pintura renascentista.

Os dedos tamborilaram ainda com mais força.

Decidiu colocá-los dentro do bolso da calça jeans preta e deu alguns passos para trás, afastando-se, dando a entender que não mais conversaria com Lírio.

- Desculpa, gente. Desculpa pelo susto... Estou saindo, crianças, não se preocupem...

As palavras de Ramiro não pareciam ter convencido os alunos do Ensino Fundamental II, mas a maioria decidiu se separar da professora ao entender que ele havia se afastado.

Assim, os alunos se dispersaram, mas alguns deles esbarraram "naturalmente" no publicitário, mantendo o ar "ameaçador", dentro dos limites de uma ameaça promovida por adolescentes no Ensino Fundamental II. Lírio aproveitou a dispersão para se afastar de Ramiro, mas ele se colocou à frente da jovem, buscando novamente uma chance de conversar.

- Lírio, eu queria falar contigo...

- Como eu disse, não tenho tempo para conversar e meus alunos estão com os celulares prontos para gravar qualquer coisa que me envolva e colocar nos stories. Com licença...

- É rápido, por favor...

A jovem apertou o passo, e Ramiro preferiu não segui-la – porém, o investigador que ele contratou cumpriria o objetivo de saber onde Lírio morava.

A jovem apertou o passo, e Ramiro preferiu não segui-la – porém, o investigador que ele contratou cumpriria o objetivo de saber onde Lírio morava

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