Flora

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Boa segunda-feira gente... Com um capítulo bem importante (e eu me diverti muito escrevendo)

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- "Uso do adjetivo na construção do sentido do texto"... Hmmm... Como vou explicar aos alunos sobre este tema, lavandas?

Lírio aproveitava a tarde tranquila para estudar os planos de aula na varanda de casa, sem se importar com o barulho dos carros subindo e descendo a avenida São Rafael.

As lavandas, colocadas em pequenas mesas de canto no espaço da varanda, davam um aroma delicado ao espaço, que era composto ainda por uma rede, onde Lírio costumava relaxar e ler um pouco.

A rede não ficava pendurada o dia inteiro; era a própria jovem quem colocava o objeto quando necessário. A varanda ficava livre, na maior parte do tempo, para os estudos da professora e os cafés e fofocas que ela dividia com dona Ricarda.

- Vocês me deram uma ideia! – bateu palmas, animada, e sorriu. – Vamos usar as flores para ajudar os alunos na produção dos adjetivos! Vou tirar fotos de vocês, não fiquem melindradas!

Buscou o celular na mesa e procurou o aplicativo de fotos. Registrou algumas imagens das lavandas, e seguiria para as angélicas se não ouvisse um barulho na porta. Três batidas, especificamente.

- Será que é Dona Ricarda? Não... Nesse horário ela vai visitar os netos em Itinga...

Caminhou até a porta e perguntou quem era. A voz surgida por detrás das paredes era inconfundível.

- Sou eu, Lírio. Ramiro.

Teoricamente, não era para Lírio receber Ramiro em casa. Ela havia prometido a si mesma – e reforçado ao publicitário – que a conversa no café seria a última entre os dois.

Além disso, qualquer coisa envolvendo o publicitário, ultimamente, a deixava tensa e confusa. Aquele sonho ainda a perseguia – e as consequências dele também – e ver o personagem principal de suas ilusões bem à sua frente não ajudava em nada nas suas disposições.

Porém, o homem do outro lado da porta não parecia em meio a uma busca por perdão.

- Oi, Lírio, bom dia, tudo bem?

- Oi... Ramiro, o que você está fazendo aqui?

- Vim por questões profissionais. Coisas da agência, e acho que você pode me ajudar.

Aquilo surpreendeu Lírio, e a ausência de reação fez com que ela abrisse a porta para o publicitário e o deixasse adentrar o "jardim secreto" – que era como ele chamava o refúgio da jovem.

Ele caminhou, mãos nos bolsos, pela sala, bem menor que a ampla sala da mansão dos Vieira; ou do duplex onde a família vivia agora. Era tudo pequeno, mas aconchegante, com jeito de lar – o tapete colorido no chão, a mesa de jantar redonda com duas cadeiras, adornada por um vaso de flores de verdade; a estante onde ficava a televisão, livros, e uma pequena caixa de som, enrolada por plantas trepadeiras.

Toda a sala parecia de fato um jardim secreto.

Ramiro notou a cômoda de canto repleta de fotos, um vão imenso deixando a cozinha aberta, sem diferença entre esse cômodo e a sala – Ramiro notou o bar americano, além do fogão, a pia, a geladeira, e um filtro de água natural montado na parede da cozinha.

Ele olhou para o outro lado e percebeu a varanda: a porta de correr, as janelas abertas com a cortina branca amarrada por conta do vento; mas o publicitário podia perceber que, apesar da grade protegendo a varanda por conta da segurança, as flores estavam lá no parapeito, também decorando uma pequena mesa, com duas cadeiras, além da presença de uma rede pendurada.

LírioOnde histórias criam vida. Descubra agora