Despedaçada

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BOOOOOOOM!

Como eu disse, a dinâmica de publicação deste livro começa um pouquinho diferente...

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Ramiro Pimentel caminhou pela ampla sala da casa dos Vieira com um sorriso no rosto.

Não sabia como surgiu aquele sorriso, mas de repente, sentiu-se bem, leve, feliz consigo mesmo.

Talvez fosse a conversa com Lírio. Raramente os dois trocavam alguma ideia – na verdade, foi a primeira vez que conversaram por mais de um minuto e sem que fossem temas genéricos como o tempo – e naquela tarde, foi curioso conhecer mais sobre a irmã mais nova de Cris.

Eles eram diferentes – até mesmo no físico – mas Lírio possuía uma gentileza que o desconcertou. Onde Cris era intenso, rápido, focado, Lírio entendia a vida de uma maneira mais leve. Talvez nem todos precisavam ser acelerados, era possível que a vida fosse mais do que dinheiro, contratos, grandes conquistas.

Lírio estava se formando em Letras, seria professora, tinha as flores como amigas, e muito provavelmente não viveria em eterno estado de ansiedade como ele. Não era fácil ser dono de uma agência de publicidade; e regularmente Ramiro se olhava no espelho, encarando uma ruga que não deveria estar ali.

Tinha 33 anos, se sentia mentalmente jovem – e era jovem.

O publicitário encontrou o amigo sentado a uma poltrona, uma perna dobrada em cima da outra, o pé balançando com impaciência.

- Onde você estava, Miro? No banheiro?

- Não. Você demorou, fiquei te procurando e encontrei sua irmã no jardim lá dos fundos. Ficamos conversando um pouco.

Cris revirou os olhos e disfarçou um sorriso irônico.

- Lírio vai se enterrar naquela porcaria, e você ainda entretendo.

- Eu... Não vejo problemas, Cris.

- Minha irmã vive naquele jardim conversando com as flores como se elas respondessem! Pelo amor de Deus, isso nem é comportamento de uma pessoa normal e você ainda ficou batendo papo com ela? Agora é que Lírio vai achar que o príncipe encantado a encontrou!

Ramiro levou a mão à nuca, o olhar comprimido de quem não conseguiu entender as palavras do amigo.

Cris notou que suas palavras não encontraram eco em Ramiro e decidiu ser mais incisivo. Gostava do amigo, considerava-o o irmão que sempre quis ter, e precisava adverti-lo sobre quem era a irmã dele.

- Não acredito, Miro, você nunca percebeu que minha irmã arrasta um caminhão por você?

O publicitário franziu o cenho, confuso.

- Não.

- Man, você é distraído pra caralho! Ela fica olhando pra você o tempo todo quando você visita, e com certeza deve estar sonhando acordada no quarto porque você tirou três minutos de seu dia pra ouvir os delírios dela.

- Delírios? – Ramiro considerou Lírio bem tranquila, apenas navegando em um compasso diferente do resto da família. Mas Cris conhecia a irmã desde que ela nasceu, devia ter uma visão diferente.

- Sabe qual é o apelido dela aqui em casa? "Delírio", porque ela é delirada igual minha mãe. Fica lá com a cara enfiada nas flores, conversando com as flores, achando que quando terminar a faculdade vai ficar aqui em casa vivendo às custas de nosso pai porque o salário de professor é de miséria. Pior que ela não tem talento pra outra coisa. Valéria até tentou botar ela em balé, curso de modelo, mas Lírio não sabe dançar nem pra salvar a própria vida.

LírioOnde histórias criam vida. Descubra agora