Eun Tak não teve as mesmas oportunidades que So Yeon.
Ser fadada a uma maldição lhe privou de algo crucial no mundo humano: o tempo. Ela não teve tempo de ver seu programa de rádio no topo, também não teve tempo de comemorar bodas de algodão, tampouco aproveitar o desabrochar das cerejeiras com um anel de casamento.
As poucas coisas que almejou quando sua vida se tornou mais colorida não puderam ser concretizadas, e nada do que queria era extraordinário: brigar por toalhas molhadas, reclamar sobre o trabalho, comer ramyeon apimentado às 2h da manhã após um filme ruim, sair para caminhadas após o jantar...
O milagre de sua segunda chance lhe deu uma percepção mais aguçada sobre o apreço da vida. Mesmo que agora tivesse outro nome, seu interior continuava o mesmo, talvez um pouco mais empática. So Yeon passava mais tempo com sua mãe, apreciava mais o cheiro de café matinal e o bom dia de seus vizinhos, agora, cada momento parecia único.
Mas, no fundo, seu maior medo era perdê-lo.
A melancolia lhe atingiu assim que entrou na loja de conveniência, esta que lhe proporcionou uma doce memória: quando um Goblin astuto (e um pouco bêbado) lhe ofereceu comprar a loja inteira por puro descontrole. Um banana milk foi mais que o suficiente, mas ele parecia irredutível.
Sempre achou que ele ficava mais charmoso quando sorria e, naquele momento onde seu sorriso parecia mais solto e sincero, ela involuntariamente sorria também, mesmo que não soubesse diferenciar o sentimento de amor e gratidão.
— Ei, jovem. — a voz de um antigo amigo lhe despertou instantâneamente. — Estou com pressa. Se você não se mexer, vou ter de passar na sua frente.
— Oh, Ceifador! — sorriu, mas ele não fez o mesmo.
Com os cabelos um pouco maiores do que numa vida passada, as maçãs do rosto perfeitamente esculpidas foram analisadas com um pouco mais de carinho, quase uma figura paterna, a sensação saudosista logo deu espaço a felicidade de o ver novamente.
Ela queria contar tudo: agradecer por não ter tomado o chá, que agora sua mãe está viva e estão muito felizes juntas e que, apesar de não se chamar mais Eun Tak, ainda possuía as preciosas memórias, bem como conseguiu se reconectar com o Goblin.
Será que eles conseguiriam ser amigos nessa vida? Não tinha lhe dado uma boa primeira impressão na primeira loja de conveniência, julgava que esse momento parecia ainda pior, o Ceifador parecia completamente sem paciência e rabugento.
Bom, mas há mil anos também era a mesma coisa, então...
— Do que você me chamou? — apontou para a mais nova, deixando o kimbap que segurava em evidência. — Wow, você está me chamando de velho?
— Não, não, Ahju... Digo, pode passar na minha frente. — o sorriso sem graça foi acompanhado de um passo para trás, Lee Hyuk passou desconfiado, já imaginando que Sunny ficaria irritada pela demora.
Com um timing perfeito, a figura do Goblin chamou atenção de ambos: os olhos que pareciam curiosos e até um pouco ansiosos para ver sua amada se tornam morosos assim que paira sobre a figura de um velho amigo.
Amigo esse que foi lhe entrelaçado como um karma. A pessoa que lhe acolheu como nunca imaginou, o homem que ceifou sua vida se tornou seu maior confidente. Duas criaturas místicas que criaram um vínculo que ultrapassava o âmbito carnal.
E talvez esse fosse o motivo do homem marejar.
Lee Hyuk mal conseguia respirar. A sensação confusa lhe assolou sem precedentes, só então notou que chorava, mas nunca tinha visto aquele homem, tampouco conseguia entender o que estava lhe fazendo marejar numa loja de conveniência.
Mas o encarava petrificado.
A um passo da porta da loja de conveniência, Kim Shin mantinha uma expressão terna, sorrindo curto para seu amigo de longa data mesmo sem saber direito o que fazer. As mãos no bolso do casaco escondiam minimamente a ansiedade.
Já por outro lado, a caixa da loja não conseguia entender o que estava acontecendo.
So Yeon julgou que a cena durou alguns minutos, o silêncio quase ensurdecedor se quebrou quando o sino da porta da loja ecoou, chamando atenção de todos os presentes:
A figura esbelta de Sunny, que escondia as madeixas ruivas num boné escuro e moletom de mesma cor, não parecia nada feliz. A expressão endurecida da atriz se tornou preocupada assim que fitou o namorado, até que a figura do homem à sua direita lhe chamou atenção.
As lágrimas lhe atingiram tão rápido que lhe custou acreditar.
— Wow.. o timing... — So Yeon sussurrou.
E, num embalo de respirações descompassadas e lágrimas incontroláveis, a jovem só conseguia pensar em qual desculpa daria para a caixa da loja.
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Eternal Bride [K-DRAMA] [PT/BR]
RomanceA Coreia viveu anos de chuva. Numa outra vida, atendendo por outro nome: So Yeon cumpre sua promessa e o encontra. Mesmo sem saber exatamente quem é, ou o motivo, seus caminhos se cruzam novamente. Numa segunda vida, numa segunda oportunidade, ele...