Night

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— Sunny-sshi, iremos começar em cinco minutos. — Um staff avisou, fechando a porta do camarim em seguida.

A atriz se olhou no espelho uma segunda vez e respirou fundo, procurando qualquer falha em sua maquiagem. O rosto perfeitamente desenhado e bem cuidado era veemente apreciado por Lee Hyuk, que fazia o máximo para desviar o olhar.

Contudo, fazer isto parecia um pecado.

Um suspiro descontente escapou dos lábios da atriz ao lhe encarar de canto de olho, levantando da cadeira e pegando o celular na mesa.

— Precisamos conversar. — A voz grossa do homem fez com que Sunny ficasse estática.

Contudo, o rosto tomou uma coloração avermelhada e cerrou os punhos antes de se virar, encarando-o com desdém.

— Se desculpe primeiro.

O tom grosseiro fez com que ele se encolhesse um pouco mais na cadeira, pigarreando ao ajeitar a postura e umedecer os lábios, levantando a cabeça um tanto receoso para fitar a namorada.

Que quase se tornava ex.

— Eu estava errado, hm?

— Errado? Mais que errado! — Sunny esbravejou, cruzando os braços na altura do peito. — E mais uma vez, eu que tive que lhe mostrar isso. É cansativo, Lee Hyuk! — praticamente rosnou o nome.

— Me desculpe, querida. — Murmurou o policial, caminhando em direção a ela.

O relacionamento um tanto conturbado começara durante as filmagens do drama policial que Sunny estava atuando, batendo recordes de audiências e a concretizando como atriz. No início, o homem fora chamado para ser um consultor, mas não esperava se apaixonar pela loira. Nem ela, no entanto, esperava se apaixonar.

Contudo, o que não sabiam era que tal amor vinha de outras vidas.

— Tem sorte que eu não consigo ficar brava com você por muito tempo. — Sussurrou, olhando para o lado.

Lee Hyuk vinha um tanto atarefado e acabara esquecendo do aniversário de 100 dias do casal, o que deixou a loira um tanto furiosa e chateada. Apesar de não dizer estritamente o que havia causado o comportamento hostil, bastou encarar o bracelete dourado por mais de dez minutos para que a realidade caísse por terra para o policial, que já entrou em desespero.

Contudo, nem mesmo o buquê de rosas brancas fora suficiente para aliviar a raiva da atriz.

As filmagens do último capítulo do drama começaram pouco antes das nove da noite, horário no qual, do outro lado da cidade, So Yeon tentava espantar o solitário homem de seus pensamentos.

— Remédios, preciso dos meus remédios. — Procurou o frasco azul no meio de sua mesa bagunçada.

Uma veterana não tinha tempo para perder, afinal, sua vontade de entrar numa universidade conceituada falava mais alto que as súplicas de seu corpo para dormir mais de cinco horas por noite. Retirou duas pílulas brancas e as colocou para dentro com um pouco de água, fazendo uma careta.

Quatro dias desde que voltara de Quebec, e quatro dias que não conseguia pensar em nada que não fosse Kim Shin.

"Vamos ser felizes nessa vida, Eun Tak."

As palavras que fizeram So Yeon correr para longe daquele homem e chorar atrás de uma árvore. Apesar de achar que ele não era real, sua estadia em Quebec foi recheada de sua presença, tornando tudo mais estranho.

E mais real.

No restaurante com arquitetura gótica e um serviço excepcional, ele estava sentado perto da janela quando a adolescente notou sua presença, e o sorriso que dera quando So Yeon arregalou os olhos lhe fez questionar a própria sanidade, mas uma das colegas comentou sobre as roupas dele.

E, naquele momento, percebeu que ele não fazia parte de um sonho maluco.

Quando estava fazendo compras na loja local, o homem se aproximou dela e disse que sentiu sua falta. Mas apenas sua presença fora suficiente para que lágrimas enchessem seus olhos e precisasse de alguns minutos no banheiro para se recompor.

Já na Coreia, sentia que a sensação ruim havia se intensificado durante as noites e os sonhos agora mais lúcidos. Provavelmente teria de voltar ao psiquiatra e intensificar os remédios, como sua mãe reagiria a tal coisa?

O simples pensamento fazia So Yeon suspirar pesadamente. Os olhos pequenos fecharam-se por um segundo antes de se levantar, colocando o casaco grosso num tecido escuro por cima do pijama amarelo antes de se dirigir a rua.

Talvez um pouco de ar puro fosse lhe fazer se sentir melhor. Não achou necessário avisar a mãe, que conversava com algumas amigas no telefone sobre como estava preocupada com a condição da filha. So Yeon calçou os tênis brancos e gastos, logo estava do lado de fora, inspirando a brisa noturna que bagunçava levemente os cabelos.

Cruzou os braços na altura do peito e encostou a cabeça na parede tijolada. A casa ficava numa rua íngreme e com vizinhos amigáveis, estes que costumavam lhe cumprimentar de manhã quando estava indo para a escola e até mesmo lhe presenteavam com kimchi.

— Você... você me enlouquece. — Pensou em voz alta, os lábios formaram uma linha reta. — Eu estou perdendo o resto da sanidade que achei ter.

Dez segundos.

Nove, passos chamaram sua atenção.

Oito, os olhos se estreitaram.

Sete, aquela maldita silhueta.

Seis, olhos amendoados encontraram os seus.

Cinco, o homem estava próximo.

Quatro, sua respiração ficou presa na garganta.

Três... aquele cachecol era familiar.

Dois, os pés dele pararam em frente aos seus.

Um.

Os olhos de Kim Shin transbordavam dor.

— Então é aqui que mora... — a constatação saiu como um suspiro.

So Yeon franziu o cenho por um segundo, mas a cabeça virou de um lado para o outro em negação antes de cruzar os braços na altura do peito antes de dirigir a palavra para ele:

— Diga-me que isso é loucura. Ahjusshi, diga-me que estou delirando. — Suplicou. — Eu não...

— Senti sua falta. Por todos estes anos.

— Este cachecol...

— Um dia foi seu. — O Goblin deu um sorriso pequeno. — Soyeon-ah.

— Você... — A voz embargada falhou, a jovem tomou um segundo para se recompor.

Kim Shin retirou o isqueiro preto do bolso da calça e estendeu em direção a So Yeon, que receosamente o encarava antes de pegar o objeto metálico, mas antes que pudesse perguntar que raios aquele homem estava fazendo, ele objetivamente a cortou:

— Isso também foi seu.

Objeto no qual a colocara em problemas, mas também era quase como um amuleto, que carregava para todos os cantos para chamar o seu amor. Ele não esboçou estar triste pela reação da menina, mas sentiu que a única coisa possível a se fazer naquele momento era ir embora e deixar que ela tomasse uma decisão.

Mesmo que ainda não soubesse qual.

— As respostas para o teste de amanhã são todas B. Não coma tanto doce, vai te fazer mal. — O Goblin a advertiu, colocando as mãos dentro do bolso. — Lhe esperarei, Soyeon-ah.

Aquele nome estranhamente combinava com sua amada.

— Hey! Ahjusshi! — A menina gritou quando o assistiu dar as costas, caminhando em direção a esquina.

Contudo, mesmo o seguindo e procurando seus traços, ele desaparecera como uma brisa fria. Estática, os olhos escuros vagaram pelas ruas, mas nenhum vestígio.

Nada, absolutamente nada além do isqueiro em suas mãos.

Agarrada ao objeto metálico, So Yeon fora deixada naquela rua com uma extrema sensação vazia. Mas seu subconsciente sabia o que precisava ser feito.

Afinal, era a primeira e última noiva do Goblin.

Eternal Bride [K-DRAMA] [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora