(moshang)Entre presas e batimentos cardíacos

cap 11: aderiva

Quatro dias se passaram sem nenhum sinal de Mobei-jun.

Quatro dias em que Shang Qinghua quase se convenceu de que tudo era apenas um sonho, o sonho mais lindo que ele já teve. Um sonho em que ele finalmente encontrou aquele que ele estava procurando por toda a sua vida. Um sonho cheio de esperança e devoção.

Quatro noites com quase nenhum sono, segurando seu telefone perto do coração, desejando algo, qualquer coisa. Qualquer coisa que fizesse Shang Qinghua se sentir menos abandonado.

Ele se sentia abandonado por tudo e por todos: seus pais não o queriam, não conseguiam aceitar que ele era diferente. Ele vagava por esta vida sem rumo, sobrevivendo dia após dia, com quase nenhuma vontade de viver. Quebrado até que conheceu o homem mais excepcional que já existiu. Desanimado até que lábios frios o beijaram e sussurraram as palavras que ele desejava ouvir mais do que tudo. Entorpecido até que mãos frias tocaram e acenderam algo tão intenso que todo o seu ser estava em chamas toda vez que ele estava perto de Mobei-jun. Ele se permitiu amar, sonhar e ter esperança... e agora, Mobei-jun simplesmente o deixou sem nenhuma explicação.

Foi tudo em vão? Todas aquelas noites no abraço um do outro... Eu nem lembrava mais como era minha própria risada... até que o encontrei.

Ele reacendeu meu espírito e senti que estava vivendo novamente, não apenas sobrevivendo. Ele prometeu que explicaria e, ainda assim, tantos amanheceres e entardeceres se passaram e... nada.

Enquanto ainda estou aqui, amando-o tanto que sinto que eu iria... como se meu corpo fosse virar pó sem ele. Eu o amo, meu adorável vampiro. Essa... criatura sobre a qual quase não sei nada. Estupidamente e irresponsavelmente apaixonada por alguém que nem mesmo é humano. Uma criatura da noite, literalmente morta, literalmente sem respirar. Ele é a Morte encarnada e, ainda assim, não consigo parar de pensar nele. Ninguém jamais poderia substituí-lo.

É como se ele tivesse me esquecido... ou simplesmente não se importasse mais. Talvez ele nunca tenha me amado de verdade.

Afinal, sou uma casca quebrada de homem, um ser humano fraco e chato. Quem poderia realmente me amar? Como um Deus real, infinito e eterno, poderia desejar alguém como eu?

O voo para sua cidade natal está marcado para hoje. Shang Qinghua luta para seguir em frente, pisar em seu coração partido e continuar seus planos de ver seus pais, voando para o outro lado do país. Mesmo que ele não se sinta bem, mesmo que se sinta doente e seu corpo esteja fraco e exausto por longas noites sem dormir e muito pouca comida, ele é do tipo que sempre cumpre suas promessas.

Empurrando tudo para longe em uma gaveta dentro de sua mente, ele se concentra em conhecer seus pais, no que ele deveria dizer a eles, em como fazê-los ver que ele não é uma aberração porque ele prefere homens. Em como fazê-los entender que seu amor por eles permaneceu o mesmo, independentemente dos anos passados longe.

Sim, ele se concentraria nisso. Ele poderia lamentar o amor perdido de Mobei-jun quando ele retornasse.

Ele não espera nenhum milagre dessa visita, mas deseja que pelo menos o deixem falar, que o deixem explicar. Ele tem que tentar, pelo menos. Eles estão ficando velhos e ele não quer que esses 12 anos de saudade, culpa e sofrimento se transformem em 13, 15, 20 anos. Ele não quer que esse afastamento dure até que seus pais não estejam mais andando nesta terra. Ele está dando o primeiro passo em direção à reconciliação e espera que seus pais o encontrem no meio do caminho.

Ele está no aeroporto, 30 minutos antes do embarque. Ele está inquieto e miserável, desejando poder apenas falar com Mobei-jun. Nos últimos dias, ele escreveu vários poemas e todos pareciam aliviar um pouco sua dor. Porque durante esses momentos, ele estava escrevendo seus sentimentos em vez de usar lágrimas para trazê-los à tona.