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NOVA YORK
1987
Sinto um calafrio percorrer meu corpo quando passamos pelo portão do parque, como se um peso tivesse sido tirado de mim. Uma lufada de ar puro, uma redenção do destino. Por um segundo eu penso em parar de caminhar, fechar os olhos e esperar que toda essa agitação passe. Mas Jungkook está ao meu lado, caminhando com passos preguiçosos e olhos curiosos, varrendo meu rosto a procura de algum sinal de desconforto.
É difícil esconder a minha feição, todo meu ânimo parece ter ido embora. Ver Mason com Janice foi desconcertante, para dizer o mínimo. E a forma como ele conduziu tudo me deixa enjoada, ele quis esfregar sua felicidade na minha cara. Esfregou a puta com que me traiu na minha cara.... e eu não revidei, não disse porra nenhuma do que pensei que diria.
Sinto uma onda diferente me invadir. Água turva e violenta. Vergonha.
Abraço meu corpo e vejo, logo a frente, uma equipe de televisão gravando. A câmera está apontada para o portão do parque e uma mulher fala animada com ela. Um rapaz da produção acena para ela e então o meu mundo começa a desabar lentamente sob meus pés. Só pode ser brincadeira!
— Parece que esse evento trouxe muito mais além de filantropos e crianças. Vejam, Jeon Jungkook, vocalista do Peonies! — Ela diz com um sorriso enorme em seus lábios. Caminha até nós e se posiciona ao lado do astro. — Jungkook, é um apoiador da causa?
Olho para ele de soslaio com o cenho franzido. Jungkook solta um riso anasalado e seu semblante muda. Ele está usando o seu charme, sendo irresistivelmente simpático com a repórter. Quase solto um riso de surpresa.
— Me preocupo muito com a causa animal, sim. — Ele lambe o lábio inferior ao olhar para a câmera. — Apoiar causas desse ramo nos torna mais humanos, não é?
A repórter balança a cabeça em afirmação. — Absolutamente! E qual casa você ajuda, poderia nos dar alguns nomes, para que as pessoas que estão assistindo conhecê-las?
Uma ruga surge no meio das suas sobrancelhas. — Eu... Eu prefiro ajudar anonimamente. — Seu olhar encontra o meu, suplicando por um pouco de cumplicidade. — Mas conheço alguém que conhece as melhores causas... Ela saberá explicar melhor que eu.
Jungkook inclina a cabeça para o lado, num convite silencioso para que eu me aproxime. Penso por um instante, talvez seja uma exposição demais. As pessoas vão especular, vão pensar que eu estou dando pra ele. Abro meu melhor sorriso e cumprimentei a repórter, não vai fazer mal.
Nunca me preocupei demais com o que as pessoas vão pensar de mim.
E está tudo bem.
Falo um pouco sobre o canil que ajudo e acompanho de perto e faço uma nota mental para agradecer ao astro pela oportunidade de falar. Jungkook permanece ao meu lado, maneando com a cabeça, às vezes dando aquele meio sorriso. O piercing em seu lábio me desconcentra por um instante. Pouco menos de dez minutos se passaram e nós voltamos a caminhar e meus pensamentos estão mais claros que antes. Ufa! Mason saiu da minha mente.
