𝟎𝟑.

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NOVA YORK
1987

— Benny, eu acho que isso é invasivo demais... — Ando atrás do meu chefe em passos largos, tentando acompanhar seu ritmo.

Estamos andando por entre os setores do The New York Papers fazendo uma pesquisa de avaliação com os funcionários e perguntando o que eles esperam da empresa e pontos que precisam ser melhorados. Em anos, nunca tinha visto nada assim. Quando minha mãe trabalhava na escola primária de Pasadena sempre reclamava que, em seu emprego, havia muitas situações desnecessárias e insalubres. Benny não quer carregar essa imagem, quer manter a revista com boa avaliação e com funcionários satisfeitos.

— Porquê perguntar o que eles acham sobre o seu novo trabalho seria invasivo? — Ele me olha com o cenho franzido. A luz das dez horas entra pelas grandes janelas de vidro, deixando o andar de esportes completamente iluminado naturalmente. — É uma forma de receber um feedback imediato.

Acontece que o andar de esportes era o pior lugar para começar uma pesquisa. Todas as pessoas que trabalham nesse andar são arrogantes, insatisfeitos e, em sua grande maioria, homens. O ambiente é um completo caos. Várias mesas com divisórias com espaço para três pessoas em cada, quatro ou cinco televisões ligadas em canais diferentes e um exército de estagiários andando para lá e pra cá com caixas e papéis. E o cheiro não era dos melhores.

— Podemos, por favor, ir para o outro andar. Tenho certeza que as meninas da coluna "como" vão amar opinar sobre a minha crônica. — Peço quase choramingando mas Benny me ignora completamente. Paramos ao pé da porta do escritório de Paul, o diretor executivo da parte de esportes, e posso notar que junto com ele está Leonel, o homem mais repugnante de todos. — Pedir validação sobre o meu trabalho a esses homens soa machista demais para mim.

— Diana, querida, eu geralmente aprecio seu posicionamento feminista, mas hoje não tenho tempo pra isso. — Meu chefe bate na porta de vidro e, antes mesmo de ser convidado, ele entra. — Bom dia, senhores.

— Benny! Meu Deus, é a primeira vez em meses que o vejo no meu andar. — Paul responde caloroso. — É como ver um anjo indo ao submundo. O que posso fazer por você hoje?

Benny pega o rascunho que eu carrego. — Leiam e me digam o que acham.

Paul olha por cima do seu óculos por um segundo e pega o maço de folhas à sua frente. Nesse meio tempo eu olho para Leonel também, só para me certificar se ele ainda é obcecado por mim. Ele não é um homem feio, muito longe disso. Loiro, olhos cor de avelã e mais de 1.90 de altura. Seu rosto é digno de uma capa, e ele sabe disso, porque já foi eleito o colaborador mais bonito da revista por dois anos seguidos. Mas é um louco, ciumento passional. Saímos uma vez, e ele achou que eu era uma posse sua. Daí surgiu a minha regra de não misturar o pessoal com o trabalho.

— Bom te ver, Harrison. — O meu sobrenome escorrega por seus lábios. O som do tom de voz é firme, aveludado e muito atraente. Trás um efeito diferente.

— Quanto tempo, hum? — Respondo com um sorriso educado.

O silêncio entre nós reina novamente. — Me espanta vocês quererem escrever sobre esse cara. — Paul solta o rascunho na mesa com um estalo alto. Ele se recosta na sua cadeira e abana a cabeça negativamente. — Já viu o que eles fizeram na Inglaterra? Dizem que eles gravam orgias depois dos shows.

— A vida sexual deles não é problema meu. — Benny dá de ombros. — Quero saber o que você acha da coluna, os pontos fortes.

— Que sua colunista escreve bem, todo mundo já está cansado de saber. — Paul apoia os cotovelos na mesa e cruza os dedos. — A ideia é boa para falar a verdade. Mas você tem certeza que quer fazer isso, Benny? Os caras são uns depravados.

𝑻𝑯𝑬 𝑷𝑬𝑶𝑵𝑰𝑬𝑺 / 𝗝𝗞Onde histórias criam vida. Descubra agora