𝗣𝗿𝗼́𝗹𝗼𝗴𝗼

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LOS ANGELES, 1985

INVERNO

O inverno havia coberto Los Angeles com uma fina camada de gelo, um lembrete inesperado de que até mesmo a cidade do sol podia ser envolta por uma fria melancolia. Para Diana Harrison, a cidade parecia tão distante quanto as próprias emoções. Pensar sobre aquilo parecia uma grande piada, para ser sincera. Dois meses atrás sua vida era outra, tinha cor, cheiro e seu coração estava cheio de um amor inofensivo. Iria se casar. E, de repente, não iria mais. Todas as suas referências de amor desabaram como prédios mal calculados quando ela viu Mason, seu noivo, transando com uma das enfermeiras da sua equipe.

A luz fraca dos postes refletia na calçada molhada, criando um brilho dourado que contrastava com o ar gelado. Não tinha sido uma boa ideia sair de casa naquela noite. O clima não estava bom para ir ao um show do Air Supply, ela não estava bem para ouvir aquelas músicas. Certamente cairia no choro, borraria sua maquiagem e voltaria para casa mais triste que nunca. De acordo com Lauren, sua melhor amiga, seria um pecado imperdoável perder aqueles passes para o show. Área VIP, com todas as bebidas inclusas.

Apesar da relutância, ela acabou cedendo, pensando que ouvir suas músicas favoritas poderiam, pelo menos, preencher o vazio que ela sentia. O palco estava montado em um local ao ar livre, coberto por árvores e a multidão, envolta por casacos pesados, vibrava de expectativa. Haviam muitas pessoas e a área VIP não era tão exclusiva assim. Diana quis desaparecer dentro do seu agasalho quando viu todo aquele alvoroço. As amigas ganharam protetores de ouvido e foram em direção à lateral do palco, onde estava mais calmo.  Havia um contraste agridoce em tudo aquilo, uma sensação de melancolia que pairava no ar.

Os primeiros acordes de "All Out of Love" começaram a soar pelos alto-falantes, e Diana sentiu um nó se formar em sua garganta. Era como se tivesse engolido um cacto. Nada poderia ser pior e mais humilhante que aquilo tudo. Abaixou a cabeça e encarou as próprias botas. A voz suave dos cantores ecoava pelo local, e por um instante, ela se permitiu fechar os olhos e deixou que a música a envolvesse. Como se cada palavra da canção estivesse narrando o seu próprio fracasso amoroso. Desejou uma bebida forte e quente e nem precisou pedir, Lauren avisou que buscaria e voltaria logo.

Viu o rosto de Mason surgia em sua mente com uma clareza dolorosa. As promessas, os planos, tudo parecia uma ilusão cruel demais para suportar. Ela não merecia passar por tudo aquilo, sabia disso. Mas, ainda assim, a droga do seu coração batia forte contra o peito querendo entender tudo aquilo. Não havia respostas para buscar, tudo havia ficado explícito demais. Prometeu a si mesma que não choraria, mas era tão difícil com aquela música irrompendo seus ouvidos. Um soluço silencioso escapou de seus lábios, um grito silencioso em meio a toda aquela dor, rapidamente levou a mão ao rosto, tentando manter a compostura.

— Diana, nós não viemos de Nova York para Los Angeles para você chorar no show que planejamos vir por meses. — O tom de Lauren era calmo, ela olhava para a amiga com aquele olhar de pena, como quem lida com uma criança que acabou de cair do balanço.

— Cantarem essa logo de primeira foi golpe baixo. — A morena deu uma risadinha desanimada. Seu longo cabelo castanho escuro caía por seus ombros em ondas definidas. Pensou em como as pessoas deveriam estar vendo aquela cena, era vergonhoso de verdade. Ela quis rir. — Talvez eu deva encher a cara.

— Nada disso! — Lauren balançou a cabeça coberta por um loiro descolorido rebelde. — Nós duas vamos aproveitar o show e depois podemos ir comer tacos com bastante molho de pimenta. Você pode usar essa desculpa para chorar sem se preocupar.

— Você é cruel. — Sorriu se sentindo um pouco melhor. — Algum dia eu vou me recuperar totalmente?

Suas palavras pareciam uma súplica, um pedido íntimo aos deuses. Era irônico, pois ela jamais fora uma grande praticante da sua religião. Se sentia até hipócrita,se igualando à aqueles que procuravam ajuda divina quando a vida tomava rumos difíceis. Lauren não respondeu ao invés disso, abraçou a amiga de lado e balançaram o corpo no ritmo do ápice da música. Era aquilo, Diana só precisava de Lauren, uma boa bebida e passaria por aquilo. Tinha que ter um pouco de fé.

𝑻𝑯𝑬 𝑷𝑬𝑶𝑵𝑰𝑬𝑺 / 𝗝𝗞Onde histórias criam vida. Descubra agora