𝟎𝟏.

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NOVA YORK, 1987
PRIMAVERA


— Lauren, eu não vou transar com esse homem.

A luz fraca do fim da tarde passava pelas pequenas frestas dos prédios da Quinta Avenida. Era horário de pico, a movimentação era frenética. Carros, obras na calçada e mesmo assim não havia nenhum táxi disponível. Passamos dez minutos acenando e quando finalmente conseguimos um fomos roubadas por um engravatado mal educado de Wall Street que, pela cara, também deveria estar desesperado por um táxi.

Eu e Lauren estávamos indo para casa e ela resolveu que seria interessante questionar a minha vida sexual bem ali, no meio da calçada. O homem em questão eu conheci na fila de uma loja de materiais de construções, ele foi muito atencioso e me ajudou a escolher a cor da tinta para pintar as paredes da sala do meu apartamento. Verde bambu, era lindo e fresco.

— Eu só estou falando que já que trocaram telefones, vocês poderiam sair qualquer noite dessas para pegar um cineminha. Como era o nome dele mesmo? — Ela franziu a testa tentando lembrar. Seu cabelo cacheado estava lindamente volumoso, com uma mecha na lateral enrolada e presa por uma presilha preta. — Steve?

— Samuel. — Respondi por fim. Atravessamos a rua pela faixa de pedestre junto com mais uma dúzia de pessoas. Meus pés doíam por conta dos saltos e ainda estávamos longe. — Só porque dei meu telefone a ele não significa que eu queira transar com ele.

— Mas vocês já se encontraram duas vezes! — Lauren mexeu as mãos incrédula. Ela trajava um lindo vestido tubinho preto da Versace, um espetáculo nas suas curvas. — E eu me lembro perfeitamente de ouvir você dizer que ele beija bem e que tem pegada. O que há de errado com ele? Me diga com bastante sinceridade.

— O pau dele é pequeno.

Eu me sentia péssima por falar aquilo assim, mas Lauren entendeu no mesmo momento. Desde que eu havia recuperado o controle da minha vida e conseguido esquecer Mason, a minha vida sexual estava a milhões. Nova York era um ninho de homens loucos por algo casual e rápido, o meu tipo ideal. Todas as qualidades, profissões e nacionalidades. Eu era uma sommelier, aquele era meu território. Em dois anos, a minha lista do sexo cresceu consideravelmente, visto que antes de Mason, eu sou tinha transado com o carinha que conheci no colégio e perdi minha virgindade.

— Pequeno quanto?

— Do tipo que você não consegue sentí-lo, mesmo depois de uma pegação quente no banheiro de um pub. — Passamos por uma vitrine da Vivienne Westwood. Lauren soltou um suspiro de quem diz "Caramba!". — Eu sei, fico triste porque ele é um cara legal.

— O oral dele pode ser bom. — Sugeriu minha amiga com um olhar divertido.

— Não quero pagar pra ver.

Era incrível poder falar sobre essas coisas novamente, voltar a ser eu. Os dois últimos anos foram um inferno, nada parecia dar certo. Mason tinha jogado um feitiço nela, tinha certeza. Começou com a casa em que morávamos, que ele fez questão de tomar poucos meses depois do término. Depois fui transferida para outro setor no The New York Paper, onde eu trabalho, acabei saindo da coluna de variedades para a coluna de entretenimento. Não era minha área, mas aceitei o desafio como a guinada que precisava para ir em direção à minha nova versão. Era bem divertido, pois eu estava sempre por dentro dos maiores eventos da cidade.

Andamos mais duas quadras e chegamos ao meu apartamento. Larguei minha bolsa encima da mesa e tirei meus saltos, os deixando na sapateira embutida perto do hall. Lauren se jogou no meu sofá e tirou sua pasta de trabalho da sua bolsa de marca. Essa era nossa rotina, se não fosse no meu apartamento, era no dela. Abri o botão da minha calça e sentei no chão. Jeremiah, meu gato, se deitou ao meu lado.

𝑻𝑯𝑬 𝑷𝑬𝑶𝑵𝑰𝑬𝑺 / 𝗝𝗞Onde histórias criam vida. Descubra agora