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Capítulo 01_ Ecos do Silêncio

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Londres = Grã-Bretanha

1780



O vento cortante atravessava o cemitério com a ferocidade de um lamento. As árvores balançavam-se sob o peso de suas folhas mortas, lançando sombras longas e contorcidas sob a luz pálida de um céu opaco. Uma névoa tênue pairava sobre o chão coberto de folhas secas, mesclando-se aos contornos sombrios das lápides antigas que preenchiam o lugar.

Ali, entre túmulos esquecidos e pedras cobertas de musgo, uma figura se destacava na escuridão crescente - Narcisa Rosier Black, envolta em um manto negro, a face pálida escondida sob o véu do luto.

Seus olhos, marcados pelo cansaço e pela dor, cravavam-se no túmulo diante dela, como se pudessem penetrar a terra recém-remexida e alcançar o corpo que ali repousava. Ela entrelaçou os braços ao redor do próprio corpo, como se buscasse conter o peso esmagador de suas emoções, enquanto seu olhar permanecia fixo na lápide, onde se lia um nome que não deveria estar ali.

Severus Prince Snape.

Narcisa se esforçava para manter a postura altiva e digna que era esperada de uma bruxa de sua posição, mas as ondas de dor interna tornavam quase impossível manter a compostura. O fino tecido de luto mal disfarçava a barriga que começava a se mostrar. Grávida, e recém divorciada de um casamento que nunca trouxe felicidade, e agora... agora diante de uma perda que dilacerava sua alma de uma forma que ela jamais poderia ter imaginado.

Ela passou a mão trêmula pelos longos cabelos bicolares de duas cores, onde os fios loiros junto do preto escapavam do véu, observando a lápide em um silêncio amargo. "Teria sido diferente se eu tivesse falado antes?", pensava, enquanto a amargura e o arrependimento a sufocavam. Não havia mais volta.

Um pouco mais afastados, duas figuras observavam em silêncio. Lílian Evans Potter estava ao lado de seu marido, James Thiago Pottet, mas seus olhos esverdeados refletiam uma dor única. Diferente da maioria dos presentes, ela havia conhecido Severus Snape além das máscaras que ele usava, além da fachada de seguidor das trevas. Lílian conhecera o garoto solitário que, de alguma forma, encontrara nela um porto seguro, um amigo que, mesmo distorcido pelo ódio e pelas escolhas erradas, nunca deixou de ser parte de sua vida. Agora, ele se fora, e o peso do luto tornava difícil até mesmo respirar.

James, ao seu lado, mantinha-se firme, mas não escondia o desconforto. Os anos em Hogwarts haviam sido preenchidos por rivalidades e disputas com Severus, e apesar do ressentimento antigo, havia algo na morte que transcendia as brigas do passado. Ninguém merecia tal fim, especialmente alguém que, ele sabia agora, possuía camadas mais profundas do que aquelas que transpareciam em suas interações juvenis.

Potter suspirou, entrelaçando os dedos aos de Lílian, que mantinha o olhar fixo em Narcisa e no túmulo à sua frente. A voz dele, quando veio, era baixa e respeitosa, como se a presença do morto ainda pairasse sobre eles, exigindo reverência.

- Ele nunca foi um homem fácil de entender - começou James, quebrando o silêncio que pesava sobre ambos. - Mas não merecia esse destino. Ninguém merece morrer acreditando estar sozinho.

Lílian assentiu, mas não respondeu. Seus olhos estavam marejados, e ela mal conseguiu conter as lágrimas que ameaçavam cair. Ela virou o rosto para ele, os lábios trêmulos, e a expressão de dor quase fez James recuar.

- Eu deveria ter insistido para que ele nos ouvisse - sussurrou ela. - Deveria ter feito mais.

James balançou a cabeça.

Harry Potter __ Ascensão do PrinceOnde histórias criam vida. Descubra agora