Capítulo 8

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(nota do autor: novamente, gostaria de agradecer a presença de todos aqui! Estou aberto a críticas e opiniões sobre a história. Pessoalmente, estou chegando em um ponto um pouco desconfortável, sei oque quero escrever, mas não sei como executar. A ideia da paranóia e isolamento de Yawara se trata de uma combinação de fatores, alguns que nem ele próprio tem consciência.)

**16/05/111**

Yawara estava nervoso. Não, mais do que nervoso — ele estava apavorado. O motivo? Escola. A maldita escola.

A manhã havia começado como todas as outras, sem nenhum presságio de que algo o faria sair de sua rotina cuidadosamente planejada. Ele acordara no horário de sempre, tomara seu café da manhã sem ser notado pelos cuidadores e fizera o possível para não chamar atenção no caminho para a escola. Era a fórmula perfeita: passar despercebido, evitar conversas, e manter o perfil mais discreto possível. Tudo parecia estar sob controle.

Mas então, Brittany, a professora coiote, entrou na sala com um sorriso mais brilhante que o normal. E foi aí que as coisas começaram a desmoronar.

Yawara estava sentado em sua cadeira, quieto e observador como sempre, quando Brittany anunciou a atividade do dia. Uma atividade em dupla. Ele sentiu seu coração acelerar instantaneamente. Enquanto os outros filhotes começavam a se agitar, trocando olhares curiosos sobre quem seria seu parceiro, ele permanecia imóvel, sentindo o pânico tomar conta de seu corpo.

Ele sabia o que aquilo significava. Interação social. Falar com alguém. Revelar algo sobre si mesmo. E, pior, ter que ouvir sobre os outros e reagir como uma criança normal. Para os outros filhotes, isso era fácil. Para ele, era um pesadelo.

Vamos lá, ele pensou, tentando manter a calma. Vamos relembrar o que me trouxe até aqui.

A atividade em si era simples: cada dupla deveria conversar sobre o que gostava de fazer no tempo livre e, em seguida, desenhar algo que representasse o que o parceiro contou. Para os outros, uma oportunidade de criar laços e conhecer melhor os colegas. Mas para Yawara, significava um potencial desastre. Quanto mais ele falasse, mais arriscava dizer algo errado — algo que não condizia com sua aparência.

Ele já havia passado tanto tempo evitando conversas, se isolando de propósito, que agora, quando finalmente era forçado a interagir, sentia-se totalmente despreparado. As palavras pareciam presas em sua garganta, e seu cérebro se recusava a colaborar.

Enquanto Brittany dividia os alunos em duplas, Yawara tentou manter a expressão neutra. Não demonstre medo, ele pensava. Seja invisível. Como sempre. Mas quando Brittany o emparelhou com um filhote de veado chamado Tohan, seu coração deu um salto.

Tohan era pequeno, magro e tinha grandes olhos castanhos que sempre pareciam curiosos sobre tudo à sua volta. Yawara já o observara antes, à distância, mas nunca trocara uma palavra com ele. E agora, Tohan estava sentado à sua frente, esperando que ele dissesse algo.

A sala de aula parecia mais claustrofóbica do que o habitual. As vozes dos outros filhotes, que antes eram apenas ruído de fundo, agora ecoavam de forma insuportável. O som de lápis riscando o papel, risadas abafadas e cochichos faziam sua cabeça girar. Ele sabia que deveria começar a conversar, mas estava preso em um loop de pensamentos.

Ele é um adulto de 30 anos de experiência, ele repetia mentalmente, tentando se agarrar a essa verdade. Ele não um filhote. Ele vivou outra vida, em outro mundo. Ele não deveria estar aqui.

Esse pensamento o assombrava desde o dia em que perceberá as consequências de acordar como um filhote de lobo-guará. Yawara sabia que ele não era como os outros — ele era Victor, um homem de trinta anos que agora se via preso no corpo de uma criança. Um adulto com memórias, experiências e conhecimentos que não pertenciam àquela realidade. Mas ninguém sabia disso. Para todos, ele era apenas mais um filhote.

²°Chance em um Mundo De Bestas (Beastars)Onde histórias criam vida. Descubra agora