(Nota do autor: Mais um capítulo um pouco curto! Eu acredito que a história esteja ficando boa, por favor, de a sua opinião sempre que possível! Estou aberto a críticas e sugestões! Muito obrigado por lerem, próxima atualização na segunda!!!)
**11/05/111**
Juan observava seu reflexo distorcido na janela do carro, enquanto o veículo avançava pela estrada sinuosa. Sua juba, que outrora fora volumosa e majestosa, agora mostrava sinais claros de sua idade. O dourado brilhante havia cedido lugar a tons acinzentados, e as marcas do tempo eram visíveis em cada mecha desgrenhada que balançava com o leve vento que se infiltrava pelo pequeno vão da janela. A passagem dos anos era algo que ele não podia mais ignorar. Ele completaria 78 anos naquele ano, e embora ainda tivesse alguma vitalidade para realizar viagens como essa, ele sentia o peso da idade em cada parte de seu corpo.
O motivo que o levava a encarar mais uma viagem longa e cansativa? Um filhote em particular: Yawara, o lobo-guará.
Juan sempre fora mais envolvido com a parte burocrática do orfanato. Ele raramente interagia diretamente com os órfãos, deixando essa tarefa para sua equipe de cuidadores experientes, como Issa e William O papel de Juan, ao longo dos anos, havia se consolidado em coordenar a administração do orfanato, cuidar de suas finanças e garantir que tudo funcionasse sem problemas. Ele poderia ter se aposentado anos atrás, mas preferiu continuar. Havia algo em continuar no comando que o dava propósito. Além disso, um medalhão tão velho quanto ele ainda tinha um pouco de influência nas camadas políticas da cidade, e ele usava essa influência para garantir que o orfanato tivesse os recursos necessários.
Enquanto o carro avançava pela estrada cercada por árvores altas e densas, Juan observava as sombras das folhas balançando ao vento, que se projetavam na lateral do carro. Ele respirou fundo, o ar quente do interior do veículo misturado com o cheiro leve de couro dos assentos e o perfume de sua motorista. A estrada sinuosa fazia com que a viagem fosse lenta, e ele tinha tempo de sobra para refletir.
Ele conhecia Yawara apenas de nome, assim como conhecia todos os órfãos que viviam sob seus cuidados, mesmo que de longe. As fichas de cada um deles estavam sempre disponíveis para ele ler, e com frequência a equipe de cuidadores o entregava relatórios resumidos ou contava histórias sobre o progresso dos jovens. Por isso, quando a questão de Yawara foi trazida à sua atenção, ele ficou intrigado.
Inicialmente, ele pensou que o comportamento quieto do lobo-guará era apenas mais um exemplo de um filhote introspectivo. Afinal, isso não era incomum—existiam muitas crianças que eram tímidas e introvertidas, e que precisavam de tempo para se adaptar. Mas o que chamou a atenção de Juan foi que toda a equipe parecia concordar que o caso de Yawara era diferente. Não era apenas uma questão de personalidade; era algo mais profundo. E quando Issa, William e os outros cuidadores começaram a expressar preocupações sérias sobre o comportamento do filhote, Juan decidiu que era hora de agir.
Ele se lembrou das conversas que tivera com a equipe. Cada cuidador trouxe sua perspectiva, mas todos concordaram em um ponto: Yawara não era como os outros. O filhote era quieto demais, quase ausente nas interações diárias. Embora houvesse órfãos que demonstravam introversão, Yawara parecia estar à parte até mesmo desse grupo. Sua introspecção era de uma profundidade incomum, e a maneira como ele observava tudo sem se envolver levantava preocupações.
Para Juan, confiar na opinião de sua equipe sempre foi fundamental. Ele sabia que Issa, Neji, William e os demais eram profissionais experientes, com décadas de trabalho com órfãos. Se todos eles estavam preocupados, isso significava que algo precisava ser feito. Levar Yawara a um profissional especializado parecia a única solução lógica.
Foi por isso que ele estava ali, agora, dentro de um carro que lhe parecia um pouco mais apertado do que o usual. Não que o veículo fosse pequeno; era de tamanho padrão, adequado para transportar leões de sua estatura. Mas, para Juan, a idade e o cansaço tornavam até mesmo a viagem mais confortável um pequeno desafio. O couro dos assentos era macio, e o ar-condicionado mantinha o ambiente agradável, mas seus ossos velhos já não se acomodavam com a mesma facilidade de antes.
Geleobra era a cidade para onde estavam indo. Não era uma cidade muito distante, mas era maior e mais desenvolvida do que a pequena cidade onde o orfanato estava localizado. Lá, Juan esperava encontrar a ajuda de que Yawara precisava—talvez um especialista que pudesse oferecer um diagnóstico mais preciso ou, ao menos, orientação sobre como proceder.
Enquanto o carro seguia pela estrada, as memórias do passado começaram a surgir. Juan sabia que a vida de Yawara nunca seria fácil, e isso não tinha apenas a ver com seu comportamento introspectivo. O maior problema era a espécie de Yawara. Lobos-guarás eram uma raridade nos dias de hoje. A população era incrivelmente baixa, quase extinta. Ele havia conhecido apenas um ou dois outros exemplares, e ambos já estavam mortos, ou tão velhos quanto ele.
Em muitos aspectos, Juan entendia o que Yawara enfrentaria na vida. Ele próprio, como um leão do atlas, sabia o que significava ser uma espécie em extinção. Juan nascera no ano 33 após o fim da guerra herbi-carni, um período marcado por tensões e incertezas. Embora não fosse o período imediato da guerra, as consequências ainda eram sentidas em todos os aspectos da sociedade. O crescimento da população era incentivado, e para os carnívoros, especialmente os grandes predadores como ele, havia uma pressão ainda maior para se reproduzirem.
Leões do atlas, como Juan, eram uma raridade. Sua espécie já não era numerosa antes da guerra, e após o conflito, a situação se tornara ainda mais crítica. A guerra havia dizimado muitas espécies, e os leões do atlas, conhecidos por sua força e grande porte, eram soldados perfeitos. Eles foram enviados para as linhas de frente, onde muitos pereceram. A população masculina foi quase extinta, e a recuperação era lenta, praticamente inexistente.
Juan suspirou ao lembrar de sua juventude, crescendo em um mundo que não tinha mais espaço para sua espécie. Ele conhecia bem a solidão e a pressão social. Encontrar outros de sua espécie era raro, e ele sempre se sentira como se estivesse vivendo à parte do mundo ao seu redor. Foi só quando encontrou seu lar em um orfanato para leões que ele finalmente encontrou um pouco de paz. Mas Yawara... A situação do lobo-guará era ainda mais complexa.
Os lobos-guarás sofreram muito durante a guerra. Ao contrário de outros canídeos, eles não formavam grandes grupos; eram naturalmente solitários, encontrando companhia apenas para acasalar e criar seus filhotes. Isso, combinado com a destruição trazida pela guerra, fez com que a população diminuísse drasticamente. Com o passar dos anos, sua população caiu a níveis assustadores. Por muito tempo, acreditou-se que estavam extintos. Apenas rumores e histórias de avistamentos mantiveram a esperança de que eles ainda existiam.
Mas então Yawara apareceu, deixado à porta do orfanato. Juan se lembrava vividamente daquele dia. O alvoroço que seguiu o abandono do filhote, a corrida para registrar os documentos e encontrar algum parente. A mãe de Yawara nunca foi encontrada, e Juan, ao longo dos anos, aprendeu a não se prender a essa questão. O passado de Yawara era um mistério que talvez nunca fosse resolvido.
Enquanto Juan estava perdido em seus pensamentos, a voz de Ryana, sua motorista, o trouxe de volta à realidade.
“Senhor,” Ryana, uma doberman de olhos atentos, mantinha o foco na estrada à sua frente. “Quando chegarmos à cidade, gostaria de visitar algum lugar em específico antes de irmos para o hotel?”
Juan, ainda imerso em seus pensamentos, levou alguns segundos para responder. Ele olhou para Ryana, que conduzia o carro com uma eficiência silenciosa, e esboçou um sorriso cansado, mas brincalhão.
“Talvez o mercado negro,” disse ele, com um toque de humor em sua voz rouca. “Faz muito tempo que eu não como uma refeição decente de carne.”
Ryana não pôde deixar de sorrir, embora mantivesse os olhos na estrada. Ela já conhecia bem o diretor do orfanato, com suas necessidades alimentares de tempos em tempos. Enquanto o carro continuava seu caminho, as luzes de Geleobra já podiam ser vistas à distância, um farol brilhante no horizonte à medida que a noite caía suavemente.
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²°Chance em um Mundo De Bestas (Beastars)
Fiksi PenggemarBem, se adaptar a novas situações são sempre difíceis! Mas humanos possuem um dom de adaptação surpreendente. Mas, ele não era mais humano, e esse mundo não era mais o mesmo que ele viveu, esse mundo era para ser somente ficção! (Essa é minha primei...