Intocável

Capítulo 47: Carregando o Fardo

Acordei na manhã seguinte com os olhos ainda pesados. A conversa com Yumi na noite anterior me deu algum alívio, mas a sensação de desconforto ainda estava lá, como uma sombra. O contrato de confidencialidade, as palavras frias da empresa, tudo ainda ecoava na minha mente. Mas eu sabia que precisava continuar. Jungkook provavelmente já estava lidando com o próprio turbilhão, e eu não queria ser mais um peso para ele.

Desci da cama lentamente, e logo Bam correu para me receber. O carinho dele sempre me trazia um pouco de paz, ainda que momentânea.

Yumi estava na cozinha, preparando café.

— Bom dia — ela disse com um sorriso suave, mas eu pude ver a preocupação nos olhos dela. — Como você está?

— Melhor... um pouco — respondi, tentando parecer mais firme do que realmente estava. — Mas ainda não sei o que fazer.

Sentei-me à mesa enquanto Yumi servia uma xícara de café para mim. O aroma era reconfortante, mas mesmo isso parecia insuficiente para afastar o peso em meu peito.

— Você conversou com o Jungkook sobre isso? — Yumi perguntou, sentando-se à minha frente.

Suspirei, tomando um gole da xícara.

— Ainda não... Ele também foi pego de surpresa com o contrato. Acho que nem ele esperava que a empresa fosse tão longe. — Fiquei em silêncio por alguns segundos, olhando o café. — Parte de mim não quer preocupá-lo mais do que ele já está. Mas, ao mesmo tempo, preciso que ele saiba como isso está me afetando.

Yumi balançou a cabeça em compreensão.

— Você sabe que ele vai te apoiar, Hari. Ele não quer que você passe por isso sozinha. E a empresa... eles podem ter seus interesses, mas isso não pode definir o relacionamento de vocês.

— Eu sei — respondi, fechando os olhos por um momento. — Só é difícil ignorar a sensação de que estou sendo vigiada o tempo todo, como se estivesse prestes a fazer algo errado.

Yumi colocou sua mão sobre a minha.

— Você nunca esteve interessada na fama. Se fosse por isso, não estaria tão desconfortável com tudo isso. Eles sabem disso, mas, às vezes, essas empresas só enxergam números e proteção de imagem.

Concordei com a cabeça, mesmo que as palavras dela não apagassem completamente minhas preocupações. Precisava encontrar um jeito de lidar com isso, sem que me consumisse por completo.

De repente, meu celular vibrou. Peguei o aparelho rapidamente e vi uma mensagem de Jungkook. Ele perguntava como eu estava e se queria encontrar com ele depois do trabalho. Um sorriso pequeno escapou dos meus lábios, algo que só ele conseguia provocar, mesmo nos momentos mais difíceis.

— É o JK? — Yumi perguntou, já sabendo a resposta só pela minha expressão.

— Sim. Ele quer me ver depois do trabalho — respondi, ainda olhando a mensagem. — Talvez seja a hora de conversar sobre tudo isso.

— Com certeza — Yumi disse, sorrindo. — Vocês precisam estar na mesma página, Hari. E lembre-se, ele te escolheu, e vocês estão juntos nisso.

Senti uma onda de gratidão por ter Yumi comigo. Ela sempre sabia o que dizer, sempre tinha a palavra certa para me manter firme quando o chão parecia desmoronar sob meus pés.

— Obrigada, Yumi. De verdade. Não sei o que faria sem você aqui — falei, me levantando e a abraçando de lado.

— Você faria o que sempre faz — Yumi sorriu, me apertando em um abraço. — Você seguiria em frente. Mas eu tô aqui, então não precisa fazer isso sozinha.

Sorrimos juntas, um momento de leveza em meio ao caos. Talvez, com o apoio das pessoas ao meu redor, eu conseguisse encontrar uma forma de lidar com tudo isso.

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Mais tarde naquele dia...

Depois de algumas horas de trabalho em casa, recebi outra mensagem de Jungkook, avisando que estava a caminho. O nervosismo voltou, mas eu sabia que precisava ser honesta com ele. Precisávamos lidar com isso juntos, mesmo que a situação fosse desconfortável para ambos.

Quando a campainha tocou, meu coração deu um pulo. Abri a porta e lá estava ele, com um sorriso tímido, carregando um saco de comida.

— Trouxe seu favorito — ele disse, levantando o saco de papel com uma tentativa de leveza, mas eu podia ver a preocupação em seus olhos.

— Obrigada — respondi, dando-lhe um abraço apertado. Precisava daquele contato, daquele conforto.

Fomos para a cozinha e começamos a comer em silêncio por alguns minutos. Eu sabia que ele estava esperando que eu iniciasse a conversa, então respirei fundo e decidi falar.

— Kook, sobre o contrato... eu preciso falar com você — comecei, colocando os hashis de lado e olhando para ele.

Ele ergueu o olhar, a expressão atenta.

— Claro. Eu também queria falar sobre isso... — ele respondeu, sua voz baixa. — Eu não sabia que a empresa ia te pedir aquilo. Fiquei surpreso, e também não gostei da maneira como foi feito.

— Eu sei que você não sabia — interrompi. — Mas não consigo deixar de me sentir vulnerável. Eles fizeram parecer que eu estava com você por interesse. Como se eu fosse uma ameaça para você e para os outros. Isso me deixou... completamente exposta.

Jungkook colocou a mão sobre a minha.

— Eu nunca vi você assim, Hari. E eles não deveriam te fazer sentir assim. Se eu soubesse, teria falado com eles antes. Sei que foi desconfortável, mas não deixa isso definir o que a gente tem.

Olhei para ele, os olhos cheios de incerteza.

— Eu sei que você confia em mim, Kook. Mas... eles não confiam. Eles só me veem como uma latina mestiça que pode estar atrás de algo. E isso... dói.

Ele apertou minha mão, os olhos tristes.

— Eu vou falar com eles. Isso não pode continuar assim. E eu... vou fazer o que puder para te proteger, ok? Não quero que você se sinta assim, nunca.

Suspirei, aliviada por ele estar ao meu lado, mas ainda assustada com o peso que carregávamos. Eu confiava nele, mas sabia que a empresa era poderosa e faria de tudo para proteger a imagem de Jungkook e do BTS, mesmo que isso significasse me deixar à margem.