A luz suave da manhã invadia o apartamento, enquanto eu e Yumi estávamos sentadas na sala, ainda de pijamas, tomando nosso café. O riso de Yumi enchia o espaço enquanto ela revivia cada detalhe da noite anterior no parque, claramente entusiasmada.— Você viu como o Jungkook te olhava? — Yumi riu, dando uma mordida em sua torrada. — Eu juro, Hari, parecia que ele mal conseguia tirar os olhos de você!
Eu sorri, mas havia uma mistura de emoções em meu peito. A noite anterior foi surreal. Estar ao lado de Jungkook e seus amigos, como se fôssemos parte daquele mundo, me fez sentir uma alegria que eu não conseguia explicar. Mas, ao mesmo tempo, havia uma sombra de medo que eu não conseguia afastar.
— Eu não sei, Yumi... — respondi, olhando para minha xícara de café. — Foi incrível, mas... tudo isso parece tão irreal. Eu não sou famosa, nem estou nesse mundo como eles. E, além de tudo, sou mestiça, um pouco latina. Isso sempre me fez sentir... diferente.
Yumi me olhou por um momento, a expressão no rosto suavizando.
— Hari, isso é coisa da sua cabeça. Eu entendo que você se sinta assim, mas... Jungkook claramente gosta de você. E quem liga se você não é famosa? Você é incrível do seu jeito. Além disso, não é como se ele tivesse chamado outra garota para o parque. Ele te escolheu.
Suspirei, sabendo que ela estava certa, mas os medos e inseguranças estavam profundamente enraizados em mim. Desde que me entendo por gente, ser mestiça na Coreia sempre me fez sentir deslocada. Minha mãe era brasileira, e cresci com as duas culturas, mas aqui, onde o padrão é tão rígido, eu sempre me senti meio fora de lugar. Era algo que, apesar dos anos, ainda me incomodava.
Mas a verdade era que, por mais que esses medos estivessem ali, havia também algo mais. Eu estava encantada. A forma como Jungkook conversava comigo, o jeito como ele me olhava, como se eu fosse a única pessoa ao redor... Era algo que eu nunca tinha sentido antes. E, por mais que quisesse resistir, não conseguia evitar o sorriso bobo que surgia toda vez que lembrava da noite anterior.
— Nem acredito que tudo isso está acontecendo. — Murmurei, mais para mim mesma do que para Yumi.
— Pois pode acreditar, porque é real! — Ela disse, animada. — E eu acho que isso é só o começo.
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O dia passou rapidamente. Entre trabalho e afazeres, tentei não pensar demais em tudo que havia acontecido, mas Jungkook estava sempre no fundo da minha mente. No entanto, quando a noite chegou, algo mais começou a pesar no meu peito. Meu celular tocou, e ao olhar o nome na tela, senti um aperto no estômago.
Era meu pai.
Respirei fundo antes de atender. Ele sempre ligava nesse horário, e eu sabia o que ele queria lembrar.
— Oi, pai. — Atendi, tentando parecer animada.
— Oi, minha menina. Tudo bem com você? — Ele perguntou com aquela voz sempre calorosa.
— Tudo sim, e com você?
— Estou bem. Só queria te lembrar que o próximo fim de semana é meu aniversário. Vai ser um almoço aqui em casa, e eu quero muito que você esteja presente. Faz tempo que não nos vemos, e seria ótimo ter você aqui.
Eu sabia que ele falava aquilo com sinceridade. Meu pai sempre foi assim, amoroso e preocupado. Desde que minha mãe nos deixou, ele fez tudo o que podia para me criar da melhor forma possível. Mas, por mais que eu o amasse profundamente, havia algo que sempre me fazia odiar aquelas visitas à casa dele.
— Claro, pai, eu vou estar lá. — Respondi, tentando manter a voz firme.
— Que bom, Hari. Vai ser ótimo ter você aqui. Nos vemos no fim de semana, então.
Quando a ligação terminou, eu me joguei no sofá, sentindo o peso daquela promessa. Eu faria qualquer coisa pelo meu pai, porque o amo. Ele sempre foi a pessoa mais importante na minha vida. Mas ir até a casa dele, estar com sua nova família... isso sempre me trazia uma dor que eu evitava enfrentar.
Desde que ele se casou de novo, as coisas mudaram. Não é que minha madrasta fosse uma pessoa ruim.
Mas Era como se eu fosse um lembrete do passado, uma parte da vida dele que não encaixava ali.Os meus meio-irmãos, filhos dela, eram adoráveis, mas eu sempre me sentia deslocada, como se não fizesse parte daquela nova dinâmica familiar. E, por mais que meu pai se esforçasse, eu não conseguia ignorar a sensação de rejeição que me acompanhava sempre que estava lá.
Era como se eu fosse uma intrusa na casa do meu próprio pai.
Por mais que ele fizesse tudo por mim, por dentro, eu sempre me sentia como uma peça que não se encaixava, uma sombra do passado que só atrapalhava a vida que ele havia construído com a nova família.
Eu odiava isso. Odiava me sentir assim. Mas, por amor ao meu pai, eu sempre ia. Sempre fazia o que ele pedia, porque ele merecia isso, depois de tudo o que fez por mim.
Suspirei, perdida nesses pensamentos, enquanto a noite lá fora começava a cair. Mesmo com toda a emoção dos últimos dias, esse peso familiar sempre voltava a me assombrar.
Eu faria o que fosse necessário. Por ele.
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Intocável
Fanfic"O mais triste era que, apesar de se amarem intensamente, eles eram jovens demais para entender o peso desse amor. Um amor que trazia consigo tantas dúvidas, conflitos e um medo sufocante de se machucarem. Em vez de enfrentarem juntos, deixaram que...