Capítulo 46: Sentindo-se Exposta

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Assim que cheguei em casa, minha cabeça estava a mil. Mal consegui me despedir de Jungkook direito, e ele percebeu, mas parecia entender que eu precisava de espaço para processar o que havia acontecido. O peso daquele contrato ainda estava nas minhas costas, esmagando cada centímetro da minha confiança. Tudo que eu queria era estar em um lugar seguro, longe daquela situação sufocante.

Abri a porta do apartamento e fui recebida por um ambiente aconchegante, mas nem mesmo o cheiro familiar do meu lar conseguiu acalmar o turbilhão dentro de mim. Bam estava deitado no sofá, e ao lado dele, Yumi, com a cara enfiada no celular, levantou o olhar quando me viu entrar.

— Hari? Tá tudo bem? — Yumi perguntou, largando o celular de lado e se levantando.

Eu não consegui responder de imediato. A expressão dela, preocupada, era o estopim para o que eu estava segurando o dia inteiro. Minhas pernas ficaram fracas, e antes que eu pudesse me controlar, lágrimas quentes já escorriam pelo meu rosto.

— Ei, o que aconteceu? — Yumi veio rapidamente até mim, seus braços me envolvendo em um abraço apertado.

Solucei, tentando organizar os pensamentos. O contrato, as palavras frias da empresa, a sensação de ser reduzida a alguém que só estava com o Jungkook por interesse... tudo me atingiu de uma vez só.

— Eles... eles me fizeram assinar um contrato de confidencialidade, Yumi — eu disse, a voz quebrada. — Como se eu fosse uma ameaça para o Jungkook. Como se... como se eu fosse usá-lo pra ganhar fama, pra me aproveitar dele e dos outros membros.

Eu mal conseguia falar, e Yumi me apertou ainda mais, me guiando até o sofá. Bam, percebendo a tensão, levantou-se e deitou sua cabeça no meu colo, como se também tentasse me consolar.

— Você não é nada disso, Hari — Yumi sussurrou, acariciando meu cabelo. — Eles só estão tentando se proteger, sabe como essas empresas são. Mas isso não define quem você é.

— Eu sei... — respirei fundo, tentando controlar as lágrimas. — Mas eu me senti tão exposta, tão desprotegida. Eles me olhavam como se eu fosse uma intrusa. Eu não sou parte daquele mundo, Yumi. Eu sou só... eu.

Me encolhi no sofá, enquanto o choro continuava a sair descontrolado. Tudo o que eu vinha evitando desde o início desse relacionamento veio à tona. A pressão da empresa, o medo de ser vista como uma interesseira... e, além disso, o peso de ser mestiça, de não pertencer completamente a nenhum dos mundos em que estava inserida.

— É por causa disso também, sabe? — continuei, minha voz mais baixa agora. — Eles me veem como uma latina. Como alguém de fora. Não sou completamente coreana, e isso... isso pesa. Sempre pesa. Não importa o quanto eu tente, eu nunca vou pertencer completamente.

Yumi suspirou, me olhando com uma tristeza compreensiva. Ela sabia o que eu queria dizer. Nós já havíamos conversado sobre isso antes, sobre como ser mestiça na Coreia trazia um peso que, muitas vezes, passava despercebido pelos outros, mas era esmagador para quem o carregava.

— Eu entendo você, Hari — ela disse suavemente. — Mas você não pode deixar que isso defina como você se vê. Não importa de onde você veio ou como as outras pessoas te enxergam. O Jungkook te ama pelo que você é. Isso é o mais importante. E essa empresa... eles só estão com medo de perder o controle. Mas você é muito mais forte do que isso.

Eu assenti, mas ainda me sentia esmagada pela situação. Tudo que queria era que meu relacionamento fosse algo nosso, íntimo, sem interferências. Mas, agora, com o contrato, sentia que parte disso havia sido arrancada de mim. Era como se, de uma hora para outra, minha relação com Jungkook tivesse se tornado mais sobre o que eu poderia ou não fazer, sobre como eu deveria agir para não prejudicar a imagem dele.

— Não quero que eles me vejam como uma interesseira, Yumi. Não sou assim... — murmurei, passando a mão pelo pelo macio de Bam. — E, ao mesmo tempo, tenho tanto medo de como as pessoas me enxergam por ser mestiça, por ser latina. Parece que, não importa o que eu faça, eu sempre serei aquela que está tentando se encaixar em um lugar que nunca será meu.

Yumi me olhou com ternura e segurou minhas mãos.

— Você não tem que provar nada para ninguém. Nem para a empresa, nem para as pessoas. Você está aqui porque merece estar aqui, e porque o Jungkook te ama. Eles podem tentar controlar o que quiserem, mas eles não podem mudar o que vocês têm.

Eu balancei a cabeça, tentando absorver as palavras dela. Yumi sempre soube como me acalmar, como me trazer de volta para o chão quando eu estava à beira de cair. E, mesmo com todo o meu medo e insegurança, no fundo eu sabia que ela estava certa. Não importava o que a empresa dissesse ou como eles tentassem me controlar, o que eu e Jungkook tínhamos era real, e isso era algo que eles não podiam tirar de nós.

Mas ainda assim, o peso daquele contrato estava lá, pairando sobre nós como uma sombra.

— Eu só... não sei como vou lidar com isso daqui pra frente. — Suspirei, secando as lágrimas do rosto. — Não sei se estou pronta para o que isso significa.

Yumi apertou minhas mãos e sorriu gentilmente.

— Você não precisa ter todas as respostas agora. Só dê um passo de cada vez. E lembre-se, você não está sozinha. Eu estou aqui, o Jungkook está aqui, e nós vamos passar por isso juntos.

Eu sorri de leve, ainda me sentindo vulnerável, mas grata por ter Yumi ao meu lado. Saber que eu tinha alguém com quem contar, alguém que me entendia e me apoiava, fazia toda a diferença.

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