O cursor pisca na tela enquanto releio a versão de Bernardo. Crispo os lábios e respiro fundo. Não vai ter jeito, vou ter que recalcular a rota.
Capítulo 14 - Maldito ursinho que estava no chão!
Bernardo
- Tia Lauren me ligou agora de manhã – meu pai diz, enquanto termina de fritar as panquecas – o Natal vai ser na casa dela, e o Ano-Novo, na casa do tio Nicholas. Não vamos poder levar Gumball dessa vez – ele se vira para mim – vai ter que deixar com o senhor Albert.
Faço "sim" com a cabeça. Meus olhos revirando de sono. Termino de pôr a louça na mesa para tomarmos café. Eu devia ter dormido cedo...
Escuto o barulho na escada. Pelos passos, deve ser Lina. "Por que a pressa?".
- Diaa! – ela entra já pronta, com a mochila nas costas.
- Bom dia, Lina! – meu pai diz – você já está indo?
- Sim. Tenho que encontrar Emily na biblioteca da escola – ela põe a bolsa na cadeira, vai até o armário e pega um pote de plástico e uma garrafa térmica. Admiro a animação dela mesmo de manhã – estamos terminando nosso trabalho de história, temos que entregar na sexta. Tô orgulhosa de como tá ficando! – ela põe chá preto na garrafa, e meu pai coloca duas panquecas que estão prontas – achei um livro bem interessante lá! Ah! Obrigada pelas panquecas! – passo para ela a geleia de laranja. A ponta de nossos dedos se tocam por um milésimo de segundo, mas é o suficiente para meu coração acelerar um pouco – obrigada! – é um exemplar único do Arthur Conan Doyle, "Um Estudo em Vermelho"! Não pode sair de lá! Ah, você já leu? - Lina olha para o relógio – Depois a gente conversa! – ela se vira pra mim – te vejo daqui a pouco! Bom dia no trabalho, Rupert!
- Bom dia na escola!
Me sento na cadeira e me sirvo uma caneca de café com bastante açúcar. Tomo um gole e outro e outro, depois mais uma caneca. Isso é o suficiente para me manter acordado pelas próximas 7. Longas. Horas. De aula.
Minhas irmãs ainda estão de pijama quando elas descem para comer. As aulas delas só começam às 10:00 e terminam às 15:00. Que sorte...
Minha mãe está no escritório dela aqui em casa. Está terminando um projeto e, com certeza, passou a noite toda acordada. Acho que tive a quem puxar: ela não dorme enquanto não termina de desenhar e calcular a planta de uma casa; e eu não durmo enquanto não terminar as partidas que eu jogo.
- Meninas, vamos passar o Natal na casa da tia Lauren – meu pai anuncia enquanto serve as panquecas.
- A Michelle vai? – Bonnie pergunta.
- Acho que sim.
- Ebaaaa!
- Gumball pode ir esse ano? – Riley pergunta preocupada.
- Não – ele separa uma porção de panquecas para minha mãe e vai saindo da cozinha – é a vez da Alice levar os gatos dela. Gumball vai ficar com o senhor Albert.
Riley toma seu café meio triste. Senhor Albert cuida bem do Gumball quando estamos fora, e Gumball adora ele. Mas, de todo mundo aqui em casa, ela é a mais apegada.
- Cadê a Lina? – Riley pergunta.
- Ela já foi pra escola – respondo, colocando bastante calda no meu prato.
- Por que você não foi também?
- Porque tá cedo, bem cedo, por sinal.
- Aaaaaah.
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Clarice, que não é, Lispector
RomansClarice é uma universitária de personalidade excêntrica (palavra essa que, segundo ela, lembra russos com bigodes ao estilo Salvador Dalí). Sua vida deixa de ser comum quando conhece Arthur, um colega de classe que é idêntico a Bernardo, o personage...