𝟎𝟒. ㅤㅤ𝓦𝑯𝑨𝑻 𝓓𝑰𝑫 𝓨𝑶𝑼 𝓓𝑶?

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𝟎𝟒. ﹙What did you do?﹚

 ﹙What did you do?﹚

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A tarde se arrastava lentamente dentro do convento, e Sarah sentia o peso de um dia exaustivo de trabalho. As freiras haviam sido designadas para uma faxina geral, e ela como sempre, levava suas tarefas a sério. 

O cheiro de cera e sabão impregnava o ar enquanto as irmãs se movimentavam de um lado para o outro, limpando cada canto do convento. Sarah já estava cansada, os músculos das pernas doíam e sua cabeça latejava levemente, mas ela se forçava a continuar.

Ela já havia limpado quase todo o convento quando chegou ao corredor dos aposentos. Um suspiro escapou de seus lábios ao perceber que ainda faltava o quarto do padre Charlie. 

Suas mãos estavam suadas e um estranho nervosismo começou a crescer dentro dela à medida que se aproximava da porta. Desde que ele chegou, algo dentro dela se agitava em sua presença Algo que ela não compreendia, e talvez nem quisesse compreender.

Ao girar a maçaneta, sentiu uma leve hesitação. A privacidade daquele espaço, a presença silenciosa de Charlie impregnada em cada canto fazia seus pensamentos tropeçarem. Ela entrou, fechando a porta atrás de si.

O quarto estava impecável, como se ele fosse meticulosamente organizado, mas Sarah começou a limpar de qualquer forma, querendo ocupar a mente. 

O cheiro amadeirado que enchia o ambiente era suave, mas inebriante, e de repente cada objeto que ela tocava parecia ter a assinatura de Charlie. As roupas bem dobradas, a cama perfeitamente feita, a mesa com papéis e anotações. Tudo ali era ele, e ela não conseguia deixar de notar isso.

Conforme limpava, uma pequena luz prateada chamou sua atenção. Entre as páginas de uma bíblia que repousava na cabeceira, algo brilhava, refletindo uma luz cintilante. Sarah hesitou, seu coração disparando com a curiosidade. 

Sabia que não deveria mexer em suas coisas pessoais, especialmente em algo tão sagrado como a bíblia. Mas o que seria aquilo? Seu dedo deslizou pela superfície do livro e antes que percebesse, já estava abrindo as páginas.

Santa curiosidade.

Escondida entre as folhas, havia uma fotografia. Sarah prendeu a respiração ao ver a imagem de Charlie sorrindo ao lado de uma mulher jovem. Quem era aquela mulher? E por que Charlie a guardava tão cuidadosamente dentro de sua bíblia?

Os olhos de Sarah permaneceram fixos na foto por mais alguns segundos até que o som inconfundível da maçaneta do banheiro sendo destrancada a fez congelar. Sua mente correu mas antes que ela pudesse reagir, a porta se abriu e a figura de Charlie surgiu diante dela.

Ele estava apenas com uma toalha enrolada na cintura, a pele ainda brilhando com gotas de água que escorriam de seu peito nu. Sarah sentiu o calor subir em seu rosto instantaneamente, seu corpo congelado pela surpresa e vergonha. 

Mas o olhar de Charlie ao vê-la com a foto em mãos, mudou drasticamente. De descontraído e sereno, tornou-se rígido e incrédulo.

⎯⎯⎯ Sarah?! ⎯⎯⎯ Ele diz, com uma mistura de choque e raiva em sua voz.

⎯⎯⎯ Padre... Eu... Eu sinto muito... ⎯⎯⎯ Ela soltou a foto como se fosse algo venenoso, suas mãos tremendo. ⎯⎯⎯ Eu não queria! Eu só estava limpando e...

Charlie deu um passo à frente, seus olhos escurecendo. A toalha envolta em sua cintura parecia precária e Sarah não conseguia evitar que seus olhos desviassem para o seu corpo antes de voltar rapidamente ao seu rosto. A tensão no ar era palpável.

⎯⎯⎯ Você mexeu em algo que não era da sua conta. ⎯⎯⎯ Charlie diz, sua voz começa baixa mas cheia de autoridade. ⎯⎯⎯ Invadiu minha privacidade!  ⎯⎯⎯ Ele esbraveja visivelmente irritado, suas veias saltando em sua testa.

⎯⎯⎯ Eu não queria! ⎯⎯⎯ Sarah recuou, seu coração batendo tão forte que ela podia ouvi-lo nos ouvidos. ⎯⎯⎯ Foi um acidente. Eu estava limpando e vi... Não devia ter tocado. Por favor, me perdoe...

Charlie permaneceu imóvel, a respiração pesada e os olhos fixos nela, analisando-a. Ele se aproximou lentamente, cada passo parecia pesar no chão. 

Sarah sentiu o ambiente mudar drasticamente. O ar estava mais denso e a proximidade dele fazia sua pele formigar de nervosismo. Ela nunca o viu tão perturbado.

⎯⎯⎯ Você acha que isso foi um simples acidente? ⎯⎯⎯ Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. Sua respiração se chocava contra o rosto de Sarah. ⎯⎯⎯ Você desrespeitou meu espaço.

Sarah recuou mais um passo até suas costas quase tocarem a parede. Ela mal conseguia olhar em seus olhos. O aroma de Charlie misturado com o frescor do banho a cercava. Sentia a umidade do quarto, a tensão do momento. 

⎯⎯⎯ Por favor, me perdoe... Eu... Eu não quis...

Charlie parou muito perto dela, seus olhos queimando com uma mistura de raiva e algo mais, algo que Sarah não sabia como descrever. Ela prendeu a respiração enquanto ele a olhava, como se estivesse se segurando para não dizer ou fazer algo que ele mesmo temia.

Ele levantou a mão lentamente, como se estivesse ponderando suas ações, e com a ponta dos dedos tocou o rosto de Sarah. Foi um gesto quase involuntário, um reflexo de algo profundo que nem ele parecia compreender naquele momento. 

O toque era suave, mas para Sarah foi como se uma corrente elétrica atravessasse seu corpo. Ela sentiu o calor subir até suas bochechas e seus olhos finalmente se atreveram a encontrar os dele.

Os olhos de Charlie antes sempre tão gentis e controlados, agora estavam cheios de uma intensidade que a fez tremer. Ele retirou a mão bruscamente, como se percebesse o que havia feito. 

O silêncio entre eles parecia gritar, uma tensão pulsante que preenchia o espaço estreito entre seus corpos.

⎯⎯⎯ Você será punida por isso, Sarah. ⎯⎯⎯ Charlie começa, quebrando a tensão. ⎯⎯⎯ Quero que ore ao pé do altar durante três dias, pedindo perdão por isso. ⎯⎯⎯ Ele continua. ⎯⎯⎯ Também quero que vá ao estande se confessar para mim, entendeu? 

⎯⎯⎯ Sim, padre... Eu aceito o castigo. ⎯⎯⎯ Sarah murmura com os olhos baixos, imersa na culpa e vergonha.

⎯⎯⎯ Saia daqui. ⎯⎯⎯ Charlie diz, sua voz fria e controlada, embora seus olhos ainda a queimassem. ⎯⎯⎯ Agora.

Sarah mal conseguia respirar enquanto dava um passo para trás, e depois outro antes de praticamente correr até a porta. Sua mão tremia ao girar a maçaneta e ela saiu rapidamente do quarto, sentindo o coração acelerado e o corpo quente com uma sensação que não conseguia entender.

Por trás da porta fechada, Charlie permaneceu onde estava, o peito subindo e descendo com respirações ofegantes. Ele levou a mão ao rosto, esfregando os olhos como se quisesse afastar o que acabou de acontecer. 

Sabia que havia algo errado com aquela aproximação. Sabia que jamais deveria ter permitido que o momento se prolongasse daquela forma.

Mas de algum jeito, ele não conseguia se livrar da imagem de Sarah, da proximidade, do toque, do calor. Algo estava mudando, e isso o deixava assustado.

devotion, nicholas chavezOnde histórias criam vida. Descubra agora