𝟎𝟓. ㅤㅤ𝓒𝑶𝑵𝑭𝑬𝑺𝑺𝑬𝑫 𝓢𝑰𝑵𝑺.

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𝟎𝟓. ﹙Confessed sins.﹚

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Sarah estava no chão do quarto do convento, de joelhos, as mãos unidas em fervorosa oração. Os ecos dos sinos matinais ainda reverberavam pelas paredes da igreja. O coração dela batia acelerado, afundado em uma mistura de arrependimento e vergonha. 

As memórias da cena no quarto de Charlie, da fotografia, da forma como ele a olhou, tudo isso estava a assombrando. Ela se sentia suja, impura por ter invadido algo tão íntimo. 

"Perdoa-me, Senhor", murmurava baixinho, o rosto quase tocando o chão frio de pedra, como se a intensidade da oração pudesse apagar o que havia feito. Ela se penitenciava constantemente, buscando redenção em cada palavra murmurada.

Mas a punição não se limitava à oração em seu quarto. Padre Charlie havia sido firme. "Três dias", ele disse, a voz severa. "Três dias de confissão, Sarah. E eu estarei esperando no confessionário.

Ela sentiu o peso daquelas palavras como uma carga no peito.

No confessionário, o primeiro e o segundo dia foram uma tortura silenciosa. Ela se ajoelhava e a escuridão do espaço junto com a voz de Charlie, a cercava de um sentimento avassalador de inadequação. 

Ele a guiava em suas penitências, sua voz sempre grave, mas havia algo mais. Algo que ela não sabia identificar no começo mas que aos poucos, foi se tornando impossível de ignorar.

No terceiro e último dia, Sarah entrou no confessionário sentindo seu coração mais pesado. Ela havia cumprido veementemente as ordens do padre, rezado em frente ao altar até que seus joelhos doessem, mas a presença de Charlie era o que realmente a desestabilizava, por motivos que nem ela conseguia compreender.

Talvez, fosse algo em sua jovialidade e ternura. Um padre tão jovem e esteticamente ativo bagunçava com a imagem de um padre que Sarah havia criado em sua cabeça. Era como se ele quebrasse, sem perceber, a moldura idealizada que ela havia construído de uma santidade.

Mas apesar de todos os sussurros de seu coração, Sarah sabia que renegaria esse fascínio até o fim, jurando a si mesma que sua fé seria mais forte do que qualquer sentimento terreno.

Ela se ajoelhou do outro lado do confessionário, esperando pelo ritual de perguntas e respostas. A madeira escura entre eles parecia cada vez mais fina. A voz dele, agora familiar, a trouxe de volta para o momento presente.

⎯⎯⎯ Sarah ⎯⎯⎯ Ele inicia com a voz baixa, quase um sussurro. ⎯⎯⎯ Você está arrependida de verdade pelo que fez? ⎯⎯⎯ A pergunta era direta, mas havia uma suavidade nela que Sarah não esperava, como se ele estivesse pegando leve.

⎯⎯⎯ Sim, padre... Com todo o meu coração. ⎯⎯⎯ Ela respondeu, quase sussurrando, as mãos apertadas juntas no colo.

⎯⎯⎯ Você orou, como eu pedi?

⎯⎯⎯ Sim, padre. Por três dias... Eu fiz tudo o que o senhor mandou.

⎯⎯⎯ E o que você sente agora, Sarah? Ainda se sente culpada? Ainda sente... vergonha? ⎯⎯⎯ Ele parecia ponderar a última palavra, e Sarah sentiu algo em seu estômago revirar. A forma como ele perguntou a fez hesitar.

⎯⎯⎯ Sim... Mas eu estou tentando me redimir... Eu quero ser perdoada, padre. ⎯⎯⎯ Ela parou, confusa com o próprio pensamento. Por que se sentia envergonhada em proferir aquelas palavras a ele?

Do outro lado, Charlie permaneceu em silêncio por alguns segundos, até que sua voz rompeu novamente o ar.

⎯⎯⎯ Quando você esteve no meu quarto, o que você sentiu, Sarah? O que te fez abrir a Bíblia e olhar aquela foto? ⎯⎯⎯ A pergunta a pegou de surpresa e ela se endireitou no banco, a mente em caos.

⎯⎯⎯ Eu... Não sei. Foi um impulso... Eu só estava limpando e então... Não pensei. ⎯⎯⎯ Sua voz era vacilante, uma mistura de vergonha e culpa.

⎯⎯⎯ Sem querer? ⎯⎯⎯ Ele murmurou. O som da voz dele tão perto e ainda assim invisível, fez um arrepio subir pela espinha de Sarah. ⎯⎯⎯ Ou você estava curiosa?

Sarah ficou em silêncio. Havia algo errado com aquela conversa, algo com o rumo que ela estava tomando. Não parecia mais uma confissão, parecia algo mais íntimo, perigoso. E ela não sabia como reagir a isso.

⎯⎯⎯ Curiosa... ⎯⎯⎯ Ela sussurrou, sem realmente pensar, como se estivesse refletindo sozinha.

⎯⎯⎯ Sobre mim? ⎯⎯⎯ Ele desafiou.

Ela sentiu o sangue correr quente em seu rosto. 

⎯⎯⎯ Eu não... não quis dizer...

⎯⎯⎯ Não precisa ter medo, Sarah. ⎯⎯⎯ Charlie interrompeu, mas não havia consolo em sua voz. Havia algo profundo, algo que ela não conseguia identificar, mas que a perturbava.

⎯⎯⎯ Medo? Medo do quê, padre? ⎯⎯⎯ Ela tentou manter a compostura, mas seu coração batia mais rápido.

Charlie hesitou antes de responder. 

⎯⎯⎯ De mim, de quem eu sou. Eu sinto que você se arrepende, mas... ⎯⎯⎯ Sua voz vacila. ⎯⎯⎯ Talvez não só pelo que você fez, mas pelo que sentiu. ⎯⎯⎯ Ele parou, e a intensidade entre eles parecia crescer a cada palavra. ⎯⎯⎯ E talvez... Eu também me arrependa do que senti.

Sarah sentiu o ar sumir de seus pulmões. Suas mãos estavam suadas e ela não sabia o que fazer com as palavras que acabava de ouvir. Havia uma tensão crescente ali, uma linha tênue sendo cruzada, ainda que ambos tentassem ignorar isso.

⎯⎯⎯ Padre... Isso é... Um pecado. ⎯⎯⎯ Sarah murmurou com os olhos fechados, quase incapaz de dizer aquelas palavras em voz alta.

Algo na entonação de Sarah faz Charlie sentir como se tivesse recebendo uma flechada em seu peito, quebrando qualquer expectativa que tivesse sido criada.

⎯⎯⎯ Sim. Um pecado... ⎯⎯⎯ Ele suspirou, e a pausa que seguiu foi sufocante. ⎯⎯⎯ O pecado está nas intenções, nas tentações. Mas disso já sabemos, não é? 

O confessionário, antes um santuário de redenção, agora parecia uma prisão de confusão e desejos velados. Sarah não conseguia explicar o que estava acontecendo, mas sabia que havia algo errado, algo perigoso naquela troca. 

Suas mãos tremiam quando ela se levantou.

⎯⎯⎯ Eu... Preciso ir, padre. ⎯⎯⎯ Sarah diz, quase em pânico, saindo rapidamente do pequeno espaço antes que Charlie pudesse dizer mais alguma coisa.

Por trás da grade ele a observou sair, a respiração pesada, o coração apertado. Algo estava se quebrando dentro dele, em ruínas, algo que ele não sabia como controlar.

Naquela noite, Sarah orou mais do que nunca, suplicando para que Deus a ajudasse a entender o que estava acontecendo. Mas a voz de Charlie, suas palavras, ecoavam em sua mente como um lembrete de algo que nunca deveria ser sentido. 

Ela estava confusa, e aquela confusão começava a corromper suas preces.

Do outro lado, Charlie também estava perdido em seus pensamentos, tentando entender por que sua alma, que sempre foi tão dedicada à fé, estava começando a desmoronar.





devotion, nicholas chavezOnde histórias criam vida. Descubra agora