Capítulo 12: Revelações, Parte I

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A Lenda dos Blake foi uma das poucas histórias que Phineas Flenty leu para mim quando eu era criança, e agora eu entendo o motivo.
Precisei contar a Sarah porque é história é tão pouco conhecida que somente pouquíssimas pessoas a conhecem. Eu era uma dessas pessoas, e agora me descubro fazendo parte de um grupo ainda mais seleto, sendo que eu faço parte dessa história.
É no antigo terraço, junto com velhas tranqueiras, alguns vasos de plantas que não vingaram e amuletos onde sento-me diante de Sarah, em um antigo conjunto com uma mesa redonda e quatro cadeiras decorativas feitas de ferro. Trago comigo um antigo livro que achei na biblioteca, grosso e encadernado em couro, uma relíquia quase tão antiga como eu.
_É estranho pensar em você como a reencarnação de um membro de um grupo lendário - comenta Sarah, tentando amenizar a situação.
Tudo o que ocorrera horas atrás, o momento em que Luke e Dylan nos contaram sobre o mundo mágico e a minha passagem pela Revelação foram eventos carregados com muitas informações. Não era surpresa minha amiga estar confusa.
_Para mim também é estranho - respondo sorrindo - Mas estou feliz que você também possa ver tudo isso. Quem diria, srta. Tory, você é uma Vidente!
_Eu também não esperava. É confuso pensar que nasci com um dom assim tão especial dentro de mim mas nunca percebi.
_Faz parte. O dom da Visão só florece com o passar do tempo, grande parte dos Videntes que conheci só descobriram já adultos.
A certeza na hora de mencionar aquelas palavras me estranhou um pouco. Havia me acostumado a total incompreensão e a dúvida constante que fora minha vida nos últimos meses.
Agora não mais. Tudo está bem mais claro agora que sei quem sou de verdade.
Alguns mistérios ainda precisavam ser esclarecidos mas resolvi encarar a situação por partes. Antes, devia contar minha história à Sarah.
_O Poder das Lendas, por Klaus Greenberg - diz Sarah, lendo o nome na capa do livro.
_Um ótimo livro - comento - passando o dedo sobre a capa dura - Uma raridade. Pena que ele tem o peso de um bloco de concreto, senão seria um best-seller bem útil para se ter no bolso.
_E esse livro é sobre o que?
_Sobre as Lendas, ou pelo menos, de uma considerável parte delas. Eu já vi esse livro quando criança, na época em que meu avô me contou a história dos Blake - giro o anel em meu dedo, com a pedra azul a embalar minhas memórias - Jamais esperei ver esse livro novamente.
A pedra azul em meu dedo, que era poder puro, me faz recordar de um velho amigo de outra vida.
_Lindo anel.
_É o meu Amuleto. É nele que fica armazenada a grande parte das minhas lembranças das minhas vidas passadas. Há outros quatro como esse.
Não demoro muito, e já encontro a página sobre os Blake. Um capitulo inteiro era destinado à nós. Eu não precisava ler o que estava escrito, apenas me interessava por uma imagem que ali estava.
_Veja essa foto, Sarah - digo, indicando a página com o dedo - Reconhece alguém?
Sarah pegou o livro e começou a observar a fotografia que indiquei. A página era toda amarelada e cheirava a pergaminho, e no centro dela estava pregada uma antiga fotografia.
Cinco jovens, três homens e duas mulheres, sorriam para a câmera. Estavam todos juntos, um ao lado do outro, e estavam felizes, sorrindo e fazendo poses bobas.
A fotografia, apesar de estar meio apagada e envelhecida, ainda mostrava nitidamente os rostos dos jovens e o que usavam: roupas de época, longos vestidos medievais, os rapazes com coletes e ternos, desfilando elegantes cartolas, como representantes dignos da realeza.
_Essa é você, Ártemis? - disse Sarah, apontando para o rosto de um jovem sorridente, apoiada no ombro de um rapaz encantador - E esse é Luke?
_Eu ainda acho que essa luz não valorizou minha beleza como devia - brinca Luke, que acabara de chegar ao terraço.
Viro-me para ele e começo a rir. Seu rosto já não é mais estranho para mim, e ali reconheço um incrível homem que já amei em outras vidas. Talvez fosse pela sua força de vontade, a determinação dele ou simplesmente pelo seu jeito palhaço de se intrometer na conversa alheia.
_A luz não atrapalhou em nada, seu engraçadinho - respondo com sarcasmo, e volto a minha atenção à Sarah - Somos nós dois sim. Nesta foto estão todos os membros dos Blake.
Pouso o meu dedo indicador na página e mostro à Sarah quem é quem naquela foto. Luke está sentado conosco agora, e também vê a fotografia com interesse.
Começo da direita para a esquerda. Na ponta extrema, está um rapaz sorridente, cabelos negros eriçados, com um rosto angelical, aparentemente inocente, mas que eu sabia ser dotado de uma mente brilhante: Bernard.
Ao seu lado, estou eu. Eu tinha os mesmos cabelos castanhos que caíam sobre meus ombros. Usava um vestido longo que esvoaçava com o vento. Estava apoiada em Bernard, a minha direita, e em Luke, a esquerda, que usava uma elegante vestimenta, mas sem nenhum chapéu, com os cabelos loiros a mostra. Sorrimos juntos, talvez um para o outro.
Do lado de Luke está o outro garoto da turma: Edward. Ele era o que mais se parecia comigo, cabelos castanhos, pele clara, olhos azuis profundos e um sorriso misterioso, sua marca registrada.
E por fim, está a garota loira, que no dia em questão, pegou o mais bonito vestido: um vermelho, com um decote que privilegiava o seu busto, e fizera uma tiara com ramos trançados e a enfeitara com flores. Vestida como uma ninfa da primavera, estava Katherine, apoiada sobre o ombro de Edward.
Ver a fotografia me despertou uma sensação de nostalgia, e me fez sentir uma enorme saudade. Os únicos presentes em minhas vidas passadas que eu reencontrara foram Luke e Dylan, e pensar nos outros me deixou com lágrimas nos olhos.
_É mesmo uma bela recordação, Arty - diz Sarah, percebendo a emoção que eu estava sentindo.
_Em breve os veremos novamente, Ártemis - Luke aperta minha mão, e continua olhando em meus olhos - Violet me mandou um recado. Ela já passou pela Revelação e está próxima do Edward. É só uma questão de tempo até encontrarmos os outros.
_Quem é Violet? - pergunta Sarah.
_Uma amiga - respondo - Ela é como o Dylan.
Fecho o livro e pego a mão direita dela, de modo que a superfície da sua mão tocasse no azul brilhante do anel.
_Vou lhe contar uma história de aventura, romance, mistérios e magia, minha querida - digo, mas não para Sarah, e sim para o Amuleto - Que esta pedra mística lhe permita ver o que vivi.
De repente, a antiga casa do meu avô desaparece e estamos de volta às minhas memórias. Minha mente está tumultuada, mas isso não impede de mostrar à Sarah quem foi Ártemis Blake.

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